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BCE: Mercado espera agora três cortes de 25 p.b. até 1,75%

Tarifas dos EUA devem ter impacto líquido deflacionário, mas arriscam condicionar o crescimento, empurrando o BCE para mais cortes.
17 Abril 2025, 07h02

O Banco Central Europeu (BCE) prepara-se para cortar novamente as taxas em 25 pontos base (p.b.), antecipa o mercado, mas não deve dar muitos sinais quanto ao futuro, dada a incerteza em torno da economia global e a fragilidade da zona euro. Um euro forte tem ajudado o banco central, sobretudo face ao impacto incerto das tarifas norte-americanas, bem como a descida da cotação do petróleo, que ajudarão a mitigar o que deverá ser uma ligeira recessão este ano, antecipam os analistas.

Desde a última reunião do BCE, a 6 de março, a economia mundial andou aos ziguezagues à boleia da imprevisibilidade de Trump. A zona euro viu-se ameaçada por tarifas de 20%, o que até comparava favoravelmente com outros países, e o recuo de Washington entretanto trouxe o cenário que o mercado esperava antes de 2 de abril: 25% de tarifas para os automóveis, aço e alumínio e 10% nos restantes bens, exceto farmacêuticos e energéticos. No processo, os índices europeus perderam boa parte dos ganhos que vinham acumulando com o anúncio de mais gastos com defesa no bloco, como é exemplo a queda de 6% do STOXX 600.

Perante este cenário, o consenso entre os analistas é que o BCE continue o ciclo de descidas até 1,75% no quarto trimestre, ou seja, mais três cortes de 25 p.b. nas próximas quatro reuniões. Segundo as estimativas do próprio BCE, este valor corresponde ao limite inferior do intervalo em que se situará atualmente a taxa neutra na zona euro, o nível de juros que não estimula nem restringe a economia.

Ainda assim, o bloco da moeda única enfrentará dificuldades. As tarifas dos EUA tirarão, segundo a estimativa da Generali AM, 0,5 pontos percentuais (p.p.) ao crescimento da zona euro sem mais retaliação, o que leva a instituição a rever em baixa a previsão para o avanço do PIB este ano de 0,9% para 0,8%.

A Gavekal é menos drástica, antecipando 0,3 p.p. de impacto, mas, dadas as estimativas medianas da Bloomberg de mais 0,2% de PIB no segundo trimestre e 0,3% nos dois restantes, a zona euro arriscaria cair numa ligeira recessão – ainda que com aspetos positivos. Por um lado, a queda de 20% nos preços do petróleo este ano “terá o efeito de um corte fiscal para os consumidores europeus”, estimulando o consumo interno; por outro, os responsáveis europeus estão a agir rapidamente e com medidas semelhantes às usadas na emergência pandémica para responder a este choque negativo.

“Tudo junto, o impulso monetário à zona euro pode ser maior do que se esperava. Combinado com o impulso orçamental crescente para 2026, a reorientação do modelo de crescimento afastando-se das exportações e aproximando-se da procura interna está em bom caminho”; remata a nota da Gavekal.

Outro fator a contribuir para nova descida dos juros é o abrandamento da procura por crédito por parte das empresas europeias. O inquérito do BCE relativo a março foi feito antes do ‘Dia da Libertação’ dos EUA, pelo que a tendência pode agravar-se novamente, mas os dados já conhecidos reforçam a ideia de uma recuperação fraca na zona euro.

Os bancos da moeda única vinham já apertando as condições de financiamento no final do ano passado, isto apesar da descida dos juros diretores, dada uma maior perceção de risco, aponta o banco ING. Mesmo com o recuo de Washington quanto à tarifa recíproca de 20%, vários setores, tanto os diretamente visados, como o automóvel, aço e alumínio, como os indiretamente, como bens de consumo, industriais ou de saúde, deverão ver “uma abordagem conservadora” das instituições bancárias, aponta a DBRS, o que ajudará a manter um ambiente de taxas mais elevadas do que no período pré-Covid. Ainda assim, o sector financeiro europeu tem margem para acomodar possíveis subidas do malparado, dadas as reservas que foi criando.

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