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Beta-i: “A mobilidade é um ecossistema, o que torna as soluções mais prementes”

A Beta-i, em conjunto com a Câmara de Lisboa e parceiros, quer encontrar soluções para várias problemáticas. A última foi a mobilidade, inserida no âmbito do Smart Open Lisboa. No entanto, o diretor na Beta-i, Gustavo Magalhães, diz ao JE que as soluções têm de ser vistas enquanto conjunto, e não como atos isolados.
Gustavo Magalhães Beta-i Sol Mobility
22 Agosto 2024, 07h30

O programa Smart Open Lisboa (SOL) é uma das últimas apostas da autarquia para acelerar o processo de inovação, em conjunto com a Beta-i. A mais recente edição, a nona, focou-se no tema da mobilidade e como as startups podem ser incluídas no processo de resolução desta problemática.

Fundado para abrir a porta à inovação na cidade de Lisboa, incluindo as startups no processo de aceleração, o SOL Mobility conta com grandes empresas como parceiras do projeto-piloto e o município lisboeta como principal parceiro.

Até agora, conta-nos Gustavo Magalhães, diretor na Beta-i, o programa já soma três edições dedicadas à mobilidade, considerado um dos grandes problemas na cidade. Este segmento, explica Gustavo ao Jornal Económico (JE), visa ainda um objetivo que provém dos restantes: a descarbonização.

“Temos duas vertentes principais. A primeira é centrada na inovação ou, se quisermos, na inovação tecnológica que resulta em [projetos] pilotos. Aqui fazemos todo o trabalho e podemos aprofundar este processo, mas queremos que no final de todo o processo os projetos respondam às necessidades da cidade e dos parceiros”, adianta o diretor ao JE.

Outra vertente que orgulha a Beta-i é a componente de comunidade que se cria ao longo do processo, que tem a duração de sete meses. “Há todo o aspeto relacionado com a criação de comunidade à volta destes temas, que começa desde logo com a Câmara Municipal de Lisboa, com os restantes parceiros e a necessidade de partilha de conhecimento entre eles e ainda com stakeholders internos e externos”.

É esta sensação de partilha de conhecimentos que permite “trazer outras áreas” à conversa, como aconteceu com a inteligência urbana e com os dados recolhidos da cidade. “A partilha entre eles tem muito valor e o feedback que recebemos foi muito positivo, além de reforçar as duas vertentes”, conta o responsável. No fundo, as duas vertentes interligam-se entre si e reforçam-se por conta de toda “a partilha entre diferentes parceiros que têm estados de maturidade distintos, cuja partilha tem então muito valor”.

Como a Beta-i faz o acompanhamento dos projetos na área da mobilidade, fulcral para Lisboa

“O programa, que nós fazemos nestes meses de trabalho, é, aplicando metodologias validadas, chegar a compromissos para projetos-piloto. Este programa formal termina com um showcase, e temos um acompanhamento feito pelo Beta-i, até para perceber o próprio âmbito do projeto”, explica Gustavo Magalhães.

Existem quatro grandes etapas ao longo de todo o programa. O primeiro momento é ver junto dos parceiros e da Câmara, que pode entrar como parceiro do piloto, quais as áreas em que se querem encontrar soluções. “Costumamos chamar isto de pain points, ou as dores que cada um destes parceiros quer sinalizar”.

“Posteriormente temos o scouting, que é a open call em que abrimos candidaturas às startups de todo o mundo. Esta call tem o período de dois meses. Quando termina este período, entramos naquilo que gosto de chamar de funil de inovação, em que começa a fase de seleção e avaliação das startups que vão seguir em frente”.

Esta edição somou 119 candidaturas, e naturalmente que este número precisa de ser filtrado. “Analisamos todos os projetos e quais os que fazem mais sentido com a problemática em cima da mesa. Para isso temos sessões de pitch que decorrem online, com quatro minutos, em que os parceiros acabam por decidir”.

“Escolhidas as startups e as suas ideias, temos o bootcamp, já com os parceiros e startups alinhadas para criar as intenções do piloto. É nesta fase em que só restam 20 startups, que no final são reduzidas a apenas quatro projetos, adianta o responsável na Beta-i.

Gustavo Magalhães lembra que nesta edição incluíram a questão do transporte e logística por ser um aspeto fundamental para a cidade “atingir as métricas em relação à descarbonização, pelo que não fazia sentido não incluirmos este segmento”. Daí surgirem parceiros como a Luís Simões e a Super Bock, uma vez que são empresas que se focam na áreas e têm entregas e recolhas em Lisboa, contando com a mobilidade e logística como foco das suas operações. Outro exemplo é a Carris, que nesta área também se integra por completo.

Sobre a importancia de ter parceiros à medida, Gustavo explica que estas incorporam o corporate, “são as unidades de negócio que possivelmente serao os utilizadores das soluçoes”. Por isso, além o fator inovaçao, é importante ter alguém da “área de legal, de forma a validar se a ideia pode ser aplicada ou se existe impedimentos em alguma parte do desenho do projeto”.

Além da Beta-i, os próprios parceiros orientam em relação ao sucesso da ideia e aplicabilidade do piloto, uma vez que também são interessados no avanço das ideias.

Mas o diretor é claro: “o que torna as soluçoes mais prementes é o facto de elas nao poderem ser pensadas de forma isolada, porque a mobilidade é um ecossistema. Há uma interdependencia muito grande entre as várias partes, e essa é uma das grandes dificuldades que vemos em vários projetos”.

“Vemos uma grande dificuldade em integrar as diferentes preocupações e incentivos que existem e convivem no ecossistema. E essa dificuldade em conseguir trazer para a mesma solução instituições completamente diferentes que servem públicos completamente diferentes, que às vezes operam em áreas diferentes da cidade, é um desafio enorme”, defende.

Sobre a implementação destes projetos, o responsável sustenta que os utilizadores do sistema de mobilidade urbano também tem de ser incluídos no processo. “Nesta visão de mobilidade, promovemos uma transição justa, inclusive que permita combater desigualdades, seja de pobreza, energética ou mobilidade dentro da cidade. Estes agentes são importantes, porque só com esta inclusão conseguimos perceber os impactos do ponto de vista socioeconómico, além dos aspetos da sustentabilidade”.

O futuro da Smart Open Lisboa?

“O objetivo é continuar a melhorá-lo e quem sabe até expandir o programa de forma a que ele possa ser implementado, por exemplo, em mais que uma cidade”, atira.

“Quem sabe, Lisboa associar-se a outra cidade em Portugal ou no estrangeiro e, através de uma visão estratégica com áreas de interesse em comum, assumir uma open call e ganhar atração das startups para encontrar soluções”, explica.

A Beta-i quer alargar o seu espectro e está pronta para tal. “Gostaríamos de ver a evolução do Smart Open Lisboa, de ele ir além”. “Vemos muito potencial em levar este desenho e experiência a outras cidades portugueses, e isso tem valor”.

“Óbvio que não seria um SOL, mas podemos mudar a última letra”, ri-se.

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