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Biden em Angola “é tentativa dos EUA de ocupar lugar da China”

“Os Estados Unidos perceberam a importância crescente da China em Angola e é uma tentativa de se chegarem à frente, se adiantarem no sentido de ocupar esse lugar que a China tem vindo a ocupar”, declarou o escritor José Eduardo Agualusa, em entrevista à Lusa.
epa11004459 US President Joe Biden (R) meets with President of Angola Joao Manuel Goncalves Lourenco (L) in the Oval Office of the White House in Washington, DC, USA, on 30 November 2023. EPA/Yuri Gripas / POOL
17 Outubro 2024, 11h33

O escritor José Eduardo Agualusa considerou que a visita de Joe Biden a Angola, entretanto adiada, é uma “tentativa dos Estados Unidos de ocuparem o lugar da China”, referindo que Luanda “pode ganhar” se souber negociar com os dois países.

“Os Estados Unidos perceberam a importância crescente da China em Angola e é uma tentativa de se chegarem à frente, se adiantarem no sentido de ocupar esse lugar que a China tem vindo a ocupar”, declarou Agualusa, em entrevista à Lusa, em Maputo.

O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) tinha agendada uma visita a Angola, anteriormente prevista para 13 a 15 de outubro, adiada devido aos impactos dos furacões que afetaram várias regiões norte-americanas e que foi reagendada agora para a primeira semana de dezembro.

Em entrevista à Lusa, o escritor angolano não antevê uma disputa Estados Unidos-China em Angola, defendendo que o país precisa de saber “gerir interesse” dos dois países.

“Se Angola souber gerir estes interesses pode sair a ganhar, porque pode aproveitar o melhor da China e o melhor dos Estados Unidos (…) Pode tentar gerir esses interesses, o facto de a China estar interessada, dos Estados Unidos estarem interessados, de a Europa estar interessada”, afirmou.

“Pode aproveitar se fizer uma boa gestão e inteligente, pode aproveitar esse interesse para desenvolver o país e não apenas para, como tem sido feito até agora, entregar os recursos ao estrangeiro”, acrescentou.

Face às expectativas para a receção de Biden, em 02 de outubro os líderes da oposição angolana consideraram que o Presidente dos EUA deve defender a pluralidade enquanto valor democrático na sua visita a Angola encontrando-se com representantes da sociedade civil e não apenas do Governo.

A Frente Patriótica Unida, que integra a União Nacional para Independência Total de Angola, UNITA (maior partido da oposição angolana), o Bloco Democrático, Projeto Político PRA JA – Servir Angola, e um representante da sociedade civil declararam esperar que a visita “seja efetivamente a Angola na sua pluralidade” e que Biden preserve “este valor democrático” que contribui para que a política assente em bases sólidas.

Agualusa também considerou que Biden terá “de ouvir” os partidos da oposição e a sociedade civil angolana.

“Terá que o fazer, até porque essa oposição tem cada vez mais credibilidade (…) Se formos olhar para o que tem vindo a acontecer com o Movimento Popular para Libertação de Angola (MPLA, partido no poder), cada eleição a perder 10%, nas próximas eleições a UNITA ganharia”, defendeu.

“Acho que toda gente percebe que a UNITA está perto do poder e acho que a comunidade Internacional também já se apercebeu disso e está a olhar para a UNITA de outra forma”, acrescentou Agualusa.

Ainda que o encontro com partidos da oposição e sociedade civil se materialize, o escritor mostrou-se cético quanto ao interesse americano na defesa da democracia em Angola.

“Não tenho a certeza se, quer os Estados Unidos, quer a Europa, estão realmente preocupados com direitos humanos ou liberdade de expressão ou democracia. Os Estados Unidos, ao longo da sua história, têm apoiado ditaduras e não foram poucas”, adiantou.

“Há ali interesses e creio que os interesses americanos não seriam ameaçados se a UNITA amanhã ganhasse as eleições”, concluiu.

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