O Financial Reporting Council (FRC) lançou um programa estratégico a fim de “garantir que os serviços de auditoria atendem da melhor forma o interesse público” do Reino Unido no processo de saída da União Europeia (Brexit), esta segunda-feira. Acontece que este programa coloca em causa os serviços que as quatro maiores empresas de consultoria do mercado oferecem, no Reino Unido.
Este órgão supervisor do mercado britânico (um misto entre o que é o Conselho de Finanças e a CMVM, em Portugal) avisa que, para aumentar a confiança dos investidores nas contas das empresas cotadas na Bolsa de Londres (FTSE 100), pode ser necessário vetar a Deloitte, EY, KPMG e PwC na venda de serviços de auditoria e outros tipos de informação financeira.
Isto porque o programa estratégico do FRC contempla um processo consultivo no mercado britânico, um serviço que as ‘Big Four’, supervisionadas pela FRC, também vendem.
Esta posição do FRC pode levar a que as quatro maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, percam mais de mil milhões de libras (1,1 milhões de euros) no Reino Unido.
“A confiança do público em auditorias depende da confiança na independência do auditor, e o FRC examinará a eficácia das regras atuais de independência, que incluirão determinar se novas ações são necessárias para evitar que a independência dos auditores seja comprometida, inclusive se todo o trabalho de consultoria para empresas de auditoria deve ser proibido “, lê-se no programa do FRC.
Este programa estratégico do FRC surge numa altura em que o mercado britânico atravessa um período controverso, este auditores não terem alertado para os problemas financeiros nas empresas que faliram, numa altura em que o Brexit é já uma realidade.
Na origem da posição do FRC estará o facto de alguns auditores, na auditoria que fazem às empresas, “jogarem à defesa” para não perder receita nos serviços que de auditoria e assessoria que prestam noutras matérias, para as empresas que auditam. Mas também pelo facto das ‘Big Four’ dominarem o setor.
De acordo com os dados do FRC, as auditorias prestadas pela Deloitte, EY, KPMG e PwC, no Reino Unido, representam 97% das auditorias das empresas cotadas em Londres. E 98% dos serviços de consultoria também são prestados pelas majors.
É a PwC que mais fatura junto das empresas do FTSE 100, com uma faturação total de 393 milhões de libras, em 2017, em serviços de audiotria e consultoria. De seguida, surgem a KPMG, com 277 milhões de libras, a Deloitte, com 274 milhões de libras e a EY, com 220 milhões de libras.
Só as ‘Big Four’ juntas amealharam pouco mais de dois muil milhões de libras em serviços de auditoria, em 2017, e cerca de mil milhões em serviços de consultoria para as cotadas da Bolsa de Londres. A Deloitte, EY, KPMG e PwC, são ainda responsáveis por terem gerado, há um ano, mais 7,3 mil milhões de libras em trabalhos de consultoria para clientes que não auditam.
Ou seja, se o programa do FRC se cumprir, estas auditoras podem perder mais mil milhões de libras em receita, em 2018.
Do lado destas majors, está o argumento de que os serviços de consultoria não prejudicam a sua independência, sendo que estas defendem que conhecer outros setores das empresas que as contratam para consultoria permite-lhes, no futuro, realizar auditorias mais precisas.
O programa do FRC só será praticado, com caráter obrigatório, se as suas recomendações forem ratificadas pelo governo de Theresa May.
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