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Bitcoin: uma bolha digital prestes a rebentar?

Impulsionado pela popularidade na Ásia, o valor da bitcoin já triplicou este ano. O disparo comporta, no entanto, alguns riscos como a falta de regulamentação, o uso da moeda em ataques cibernéticos e a concorrência de centenas de novas criptomoedas.
11 Junho 2017, 16h00

“As criptomoedas estão a ter um comportamento eufórico, o que indicia uma alteração tecnológica na forma de como manuseamos o dinheiro e a forma como se fazem transações”, explica o presidente da Dif Broker, Pedro Lino. Há muito que deixou de ser a única, mas a bitcoin é ainda a mais popular e valiosa moeda digital.

Em julho de 2010, a bitcoin valia 0,05 dólares, o que parece quase surreal dado que a moeda atingiu esta semana um novo máximo, nos 2.900 dólares. Uma bitcoin já é suficiente para cobrir o valor de duas onças de ouro. Na terça-feira, a subida foi de 9% numa só sessão, enquanto, este ano, a bitcoin já quase triplicou de valor. Em doze meses, disparou mais de 500%.

A euforia com a apreciação da bitcoin levou à criação de outras criptomoedas, cujo número exato não é conhecido. “Este é um indício preocupante uma vez que existem mais de 850 criptomoedas, algumas das quais pagam juros semanais”, sublinha o economista.

De entre as mais recentes opções, destaca-se a ether, moeda resultante da plataforma de software aberta Ethereum. Os valores são impressionantes: a criptomoeda já vale mais de 260 dólares, o que compara com os oito dólares que valia no início do ano. “Este deve ser um alerta a quem segue estas moedas de que a especulação não irá terminar bem, e que apenas algumas sobreviverão”.

O entusiasmo é grande, mas é acompanhado por receios. O analista do BiG – Banco de Investimento Global, Bernardo Câncio, ressalva que “por muita convicção que haja na hipótese de a bitcoin se vir a tornar numa moeda como as outras, com funções de transação e reserva de valor, a verdade é que isso é uma especulação e o reverso dessa especulação é a bitcoin valer pouco ou nada”.

Tal como nos setores tecnológico ou imobiliário, existe o risco de uma bolha de criptomoedas. “O passado mostra que sempre que existem alterações tecnológicas, existem bolhas associadas a este fenómeno que acaba por afectar bastantes investidores, porque neste caso nem todas as criptomoedas irão vingar”, diz Pedro Lino, lembrando que apesar da “enorme bolha”, existe um número finito de bitcoin que atingirá os 21 milhões em 2033, “mas cujo ritmo de oferta irá abrandar substancialmente a partir de 2020”.

O investimento em criptomoedas, que não é registado nas entidades reguladoras tradicionais, é diferente de em outros tipos de ativos e implica abrir uma conta numa empresa de market making do preço da moeda. Este é um mercado ainda pouco conhecido e ainda menos regulado, sendo que este é também um dos riscos identificados por Bernardo Câncio.

“Apesar de alguns países estarem a legitimar a bitcoin, existe na verdade o risco de que imposições regulamentares limitem a atratividade desta moeda digital. Um dos maiores problemas da bitcoin é que é muito útil em transações ilícitas, e por isso é provável que surjam regulações no sentido de limitar a atractividade da bitcoin para estes fins”.

Moeda de ataque

Ser um ativo digital também comporta riscos. Em maio, no ataque cibernético que afetou 150 países, o resgate foi pedido em bitcoins. Em 2014 e em 2016, tinham acontecido crimes semelhantes na China. “A estrutura descentralizada é um ponto forte da bitcoin, mas também é uma fraqueza na medida em que as bolsas de bitcoin são vulneráveis a ataques pirata e a problemas informáticos. Já aconteceram vários destes problemas e se continuarem a acontecer a moeda corre um risco reputacional relevante” , explica o analista.

A popularidade da bitcoin não é, no entanto, global, com o boom de investimento a vir da Ásia. Nos últimos dois meses, o valor da bitcoin duplicou, enquanto a bolsa de Xangai perdeu 10%. Segundo Câncio, a bitcoin é popular na China devido ao controlo de fluxos de capital pelo governo chinês. “Isso limita as opções de investimento dos chineses e por isso mais facilmente tendem para investimentos exóticos como a bitcoin”.

Quanto ao Japão, refere que “o facto de a moeda ter sido recentemente legitimada é naturalmente um factor que atraiu muitos investidores”. A contribuir para o interesse japonês estão também factores como o desenvolvimento tecnológico do país e as taxas de juro cronicamente baixas implementadas pelo banco central.

“É um país onde as taxas de juro estão muito perto de zero, ou seja, ter depósitos no Japão não rende praticamente nada e por isso é natural que as pessoas procurem alternativas para as suas poupanças, entre elas a bitcoin”, acrescenta o analista. Por outro lado, nos EUA apenas quatro dos mais de dez mil fundos de investimento existentes inclui bitcoins no portefólio.

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