[weglot_switcher]

Bloco diz que Israel usa “água como arma de guerra” e critica reunião de embaixador com empresa pública

Partido critica eventuais colaborações entre a Águas de Portugal e Israel, um país que tem usado a “água como arma de guerra” na Palestina.
4 Setembro 2024, 15h31

O Bloco de Esquerda (BE) deixou críticas a uma possível colaboração entre Israel e a empresa pública Águas de Portugal (AdP).

Em causa está uma reunião entre o embaixador de Israel em Portugal, Dor Shapira, e o novo presidente da Águas de Portugal, António Carmona Rodrigues, que teve lugar em julho, na qual estiveram em cima da mesa “possíveis colaborações futuras entre Portugal e Israel no domínio da dessalinização da água, da gestão da água e das tecnologias da água”, segundo palavras do próprio diplomata.

Agora, o Bloco pergunta ao Ministério do Ambiente e da Energia sobre esta reunião e as possíveis colaborações. Entre as suas perguntas, o BE quer saber se o Governo teve conhecimento desta reunião, e se deu aval; se aceita que uma empresa pública colabore com um “Estado que está a levar a cabo um massacre e que há décadas leva uma política de ocupação e de apartheid onde usa a água como arma de guerra?”; e se o executivo vai “pactuar com o massacre em curso e com as políticas de ocupação do Estado de Israel?”.

Num relatório de dezembro de 2023, a ONG Human Rights Watch acusou o exército israelita de “bloquear deliberadamente a entrega de água, comida e combustível, enquanto impedem a assistência humanitária, aparentemente arrasam áreas agrícolas e privam as populações civis de usarem objetos indispensáveis à sua sobrevivência”. No mesmo relatório, a HRW dava conta que as centrais dessalinizadoras de Gaza não funcionavam devido à falta de combustível e de eletricidade.

Esta semana, o cerco do exército israelita à cidade de Jenin na Cisjordânia deixou os palestinianos “sem comida, sem água ou eletricidade”, com os Médicos sem Fronteiras (MSF) a acusar Israel de obstruir o acesso a cuidados de saúde e a alvejar ambulâncias, segundo a “Al Jazeera”.

O Bloco aponta que a reunião teve lugar enquanto “Israel leva a cabo um massacre na Palestina, principalmente em Gaza, e que a política colonialista de Israel, que tem ocupado ilegalmente territórios palestinos, faz da água uma arma de guerra”.

“Com a ocupação ilegal, Israel passou a controlar a maior parte da água pertencente à Palestina. Desvia-a para aquíferos que abastecem colonatos e raciona fortemente o acesso à água da população palestiniana. Como se tem visto no genocídio que dura há já vários meses, cortar o acesso à água ou racioná-lo muito abaixo dos mínimos necessários é uma política de guerra de Israel”, acrescenta.

Portugal “não pode ser cúmplice do massacre, da ocupação ilegal, da usurpação de recursos e do apartheid. E será cúmplice de tudo isso se a Águas de Portugal ou qualquer outra empresa pública escolher colaborar com um Estado como Israel”.

Assim, o BE defende que o Governo, “que tem óbvias responsabilidades na Águas de Portugal, deve desde já recusar qualquer tipo de colaboração com Israel ou com as suas empresas. Se não o fizer, estará a compactuar com todos os crimes contra a humanidade que estão a ser perpetrados no território palestiniano”.

Na sua publicação, a 9 de julho, o embaixador cessante de Israel em Portugal dá nota do encontro: “Encontrei-me com o novo presidente da Aguas de Portugal, António Carmona Rodrigues, para o felicitar pelas suas novas funções. Na reunião, discutimos possíveis colaborações futuras entre Portugal e Israel no domínio da dessalinização da água, da gestão da água e das tecnologias da água. A escassez de água é um desafio mundial e Israel tem algumas soluções que estamos prontos a partilhar. Temos de trabalhar em conjunto”, escreveu Dor Shapira, que entretanto deixou o cargo.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.