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Bruno Bobone defende salário digno em vez de salário mínimo

“Demos um pequeno passo quando as organizações patronais começaram a falar no aumento salarial e a reconhecer que o salário mínimo não é um salário digno. Isso é o primeiro passo para se falar no salário digno”, considera o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa.
  • Cristina Bernardo
15 Abril 2019, 07h35

Para o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, Bruno Bobone, a discussão em torno do salário mínimo deixou de fazer sentido, pois considera que Portugal deve debater é o valor correspondente ao “salário digno”.

Concorda com a manutenção de salários mínimos baixos?

O problema do salário mínimo que se discute no nosso país torna vergonhoso que se continue a ter esta discussão. Devíamos estar a discutir um salário digno que é o salário que permite a uma pessoa ter uma vida como deve ser, em que pode alimentar os seus filhos e preocupar-se em ter algum crescimento humano na sua vida. E isso só pode ser obtido através do aumento da produtividade. Mas se nós criarmos um sistema para o aumento da produtividade que pudesse garantir que parte dessa riqueza criada pudesse ser atribuída a quem participou no aumento de produtividade, que é o trabalhador, nós íamos aumentar a riqueza da empresa e a riqueza do trabalhador. Era esse o trabalho que os sindicatos deviam estar a fazer e que não fazem. Os sindicatos continuam a tentar manter uma luta social dentro das empresas que é uma coisa do século XIX; não fazem o seu trabalho, porque têm medo que a mudança lhes tire o lugar, e eu acho que a mudança lhes ia dar uma importância completamente diferente e seriam fundamentais ao desenvolvimento da economia portuguesa.

No seu livro cita o modelo alemão…

No meu livro falo sobre o exemplo alemão, onde existe uma participação sistemática dos trabalhadores na gestão da empresa, e foi o sistema que mais avançou em termos de riqueza. Claro que tem de haver uma cultura dos empregados em irem para a gestão da empresa para desenvolver a empresa e não para discutir se alguém ganha mais ou ganha menos. O facto de os trabalhadores tem um lugar na gestão garante que não há tomadas de decisões completamente absurdas, como aconteceu em Portugal onde as grandes empresas que tivemos foram deitadas para o lixo. Os trabalhadores têm informação que não permite que se tomem essas decisões, sem o mínimo de controlo. Por outro lado, estimula-os na sua produtividade porque estão dentro das decisões que a empresa toma. E ao fazerem parte da decisão, as pessoas gostam de desenvolver mais trabalho para promover essa decisão. É uma solução ganhadora para os dois lados e permitiria desenvolver o nosso país de uma maneira completamente diferente.

Defende que deveríamos debater o valor do salário digno?

Nós já demos um pequeno passo quando as organizações patronais começaram a falar no aumento salarial e a reconhecer que o salário mínimo não é um salário digno. Isso é o primeiro passo para se falar no salário digno. Os sindicatos evitam o debate do aumento da produtividade como solução do aumento salarial, preferindo a convocação de greves. O sindicato só faz isso para garantir o seu lugar, e é em benefício próprio e não em benefício dos seus representados.

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