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BYD inaugura no Brasil a sua maior fábrica de veículos elétricos fora da Ásia

A nova unidade representa um investimento de 5,5 mil milhões de reais (883 milhões de euros) e será a maior fábrica de carros elétricos da América Latina.
BYD
A BYD Build Your Future logo during the 101st Brussels Motor Show at Brussels Expo in Brussels, Belgium, 16 January 2025. The event takes place from 10 to 19 January 2025. EPA/OLIVIER MATTHYS
10 Outubro 2025, 07h17

O fabricante chinês de veículos elétricos BYD inaugurou no Brasil a sua maior fábrica fora da Ásia, num projeto de quase 900 milhões de euros que consolida a crescente presença industrial da China na América do Sul.

A cerimónia de abertura do complexo de Camacari, no Estado da Bahia, construído nas antigas instalações da norte-americana Ford, contou com a presença do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, informou hoje o jornal de Hong Kong South China Morning Post.

“Estamos aqui não apenas para construir carros, mas para construir o futuro – um futuro que pertence a cada brasileiro que optar por um transporte mais limpo”, afirmou durante a cerimónia de quinta-feira o fundador e presidente da BYD, Wang Chuanfu, de acordo com o jornal em língua inglesa.

A nova unidade representa um investimento de 5,5 mil milhões de reais (883 milhões de euros) e será a maior fábrica de carros elétricos da América Latina.

A produção arranca com capacidade anual de 150 mil veículos, podendo atingir 300 mil numa segunda fase. A expectativa é que o projeto gere mais de 20 mil empregos diretos e indiretos quando estiver totalmente operacional.

Os primeiros modelos produzidos incluem o SUV híbrido Song Pro, o compacto elétrico Dolphin Mini e o sedan híbrido King. A BYD apresentou ainda uma edição especial do Song Pro com motor híbrido flex – desenvolvido para o mercado de etanol brasileiro.

Desde que entrou no mercado brasileiro de veículos de passageiros em 2022, a BYD vendeu mais de 170 mil carros eletrificados e tornou-se líder no segmento, com 74,4% das vendas de veículos elétricos ou híbridos, segundo dados do setor.

A marca já ocupa o sétimo lugar no mercado automóvel geral, superando fabricantes tradicionais como a Honda, com mais de 5,5% de quota.

Este crescimento meteórico gerou desconforto entre concorrentes e polémica. A associação brasileira de fabricantes de veículos, Anfavea – que representa marcas como Toyota, Volkswagen e General Motors – acusou a BYD de “dumping” (preço de venda inferior ao custo de produção) e criticou a isenção temporária de tarifas para veículos parcialmente fabricados no Brasil.

Após negociações, o Governo brasileiro concedeu uma isenção de seis meses no valor de cerca de 463 milhões de dólares (400 milhões de euros), mantendo o plano de aumento das tarifas sobre importações a partir de 2027.

A BYD rejeitou as acusações, sublinhando que os seus preços no Brasil são significativamente mais altos do que na China e que a produção local acarreta custos operacionais elevados.

Em comunicado, a empresa defendeu a necessidade de diferenciação fiscal entre veículos importados e fabricados no país como forma de incentivar o investimento industrial.

O projeto também enfrentou críticas relacionadas com condições laborais. No ano passado, o Ministério Público do Trabalho suspendeu temporariamente a obra após identificar casos de exploração laboral no estaleiro. A BYD afirmou ter colaborado totalmente com as autoridades e reiterou o seu “compromisso inabalável com os direitos humanos e laborais”.

Apesar das controvérsias, o investimento está alinhado com os objetivos industriais e ambientais do Governo brasileiro. A empresa pretende atingir 70% de componentes fabricados localmente até 2028 e criar centros de investigação e testes no país. O projeto conta com apoio do programa federal Mover, que incentiva tecnologias automóveis mais limpas e eficientes.

Na cerimónia, Lula elogiou o investimento chinês como símbolo da retomada da industrialização e da sustentabilidade. “Deus escreve certo por linhas tortas. Precisou a Ford sair do Brasil para a BYD entrar. E acho que foi uma boa troca para nós, porque esta é a tecnologia mais importante da indústria automóvel mundial”, afirmou.

O chefe de Estado brasileiro reforçou ainda o desejo de aprofundar as relações com a China, referindo-se ao homólogo chinês, Xi Jinping, como “amigo do Brasil” e destacando que ambos são líderes do Sul Global que “não aceitam interferência nos seus assuntos”.

“Com esta fábrica, estamos a apresentar ao mundo um projeto de nação”, declarou Lula. “Queremos uma relação civilizada com todos. Esta fábrica vai devolver dignidade ao povo de Camacari e permitir-lhes viver com mais qualidade e cabeça erguida”, aponto.

Wang Chuanfu assegurou o compromisso de longo prazo da BYD com o Brasil: “Continuaremos a investir aqui. Queremos tornar-nos uma marca verdadeiramente brasileira. O futuro é elétrico e pertence a todos nós.”


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