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Calçado atinge máximo histórico em 2022, mas olha 2023 “com prudência”

No total, Portugal exportou 76 milhões de pares de calçado em 2022, no valor de 2.009 milhões de euros, ultrapassando, pela primeira vez, a barreira dos 2.000 milhões de euros.
18 Fevereiro 2023, 11h00

As exportações portuguesas de calçado e artigos de pele aumentaram 22,2%, para o novo máximo histórico de 2.347 milhões de euros, em 2022 face a 2021, mas o ‘cluster’ encara 2023 “com prudência” devido ao abrandamento económico.

Segundo a Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS) – que leva nos próximos dias a Milão, Itália, perto de 70 empresas portuguesas a três certames internacionais dos setores do calçado e artigos de pele – todos os segmentos da fileira registaram “crescimentos expressivos” no ano passado, em termos homólogos.

No total, Portugal exportou 76 milhões de pares de calçado em 2022, no valor de 2.009 milhões de euros, ultrapassando, pela primeira vez, a barreira dos 2.000 milhões de euros.

Face ao ano anterior, assinala-se um acréscimo de 10,5% em quantidade e de 20,2% em valor, sendo que, relativamente a 2019, as exportações cresceram mais de 13,8%.

Num ano em que o défice da balança comercial portuguesa atingiu o valor “mais elevado desde que há registos”, ascendendo a 30.783 milhões de euros e registando a mais baixa taxa de cobertura (71,8%) desde 2011, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o setor do calçado destaca que “não só contrariou a tendência nacional, como contribuiu com 1.306 milhões de euros para esbater o défice da balança comercial” de 2022.

O preço médio do calçado exportado no ano passado situou-se nos 26,40 euros, o que representa um crescimento de 8,7% face a 2021.

Segundo a associação, as exportações portuguesas de calçado “cresceram em praticamente todos os mercados mais relevantes”, como a Alemanha (crescimento de 11,7% para 433 milhões de euros), França (+15% para 384 milhões de euros) e Países Baixos (+25% para 306 milhões de euros).

Destaque ainda para as vendas para países extracomunitários, que já ascendem a 20% do total exportado (392 milhões de euros em 2022), quando em 2012 significavam apenas 9% do total exportado.

Citado no comunicado, o porta-voz da APICCAPS afirma que “o ano de 2022 foi de afirmação do calçado português nos mercados internacionais, para onde se destina mais de 95% da produção do setor”.

Segundo Paulo Gonçalves, foi, ainda assim, “um ano mais complexo do que os números à primeira vista faziam adivinhar, uma vez que aos efeitos da pandemia e à guerra da Ucrânia se associaram outros fatores de incerteza, em especial a escassez de mão-de-obra qualificada, o aumento acentuado da inflação e seus reflexos na política monetária, a emergência de novos canais de distribuição, a afirmação de novos concorrentes, as alterações nas preferências dos consumidores, as incertezas sobre a evolução do consumo e a disrupção nas cadeias de abastecimento internacionais”.

Também destacado pela APICCAPS é o “bom desempenho nos mercados externos” do setor de componentes para calçado, cujas exportações aumentaram 30,2% para 65 milhões de euros, com destaque para os crescimentos na Alemanha (+13% para 16 milhões de euros), França (+40% para 11 milhões de euros) e Espanha (+16% para nove milhões de euros).

Quanto aos artigos de pele e marroquinaria, “bateram novo recorde” em 2022, atingindo o máximo histórico de 273 milhões de euros, em resultado de um crescimento de 37,4% e com os mercados da França (crescimento de 99% para 86 milhões de euros) e Espanha (+34,2% para 70 milhões de euros) a serem “determinantes para esse registo”.

Apesar dos bons resultados obtidos em 2022, a associação adverte que o abrandamento económico generalizado está a causar “alguma apreensão” junto do setor.

“De acordo com o ‘Boletim Trimestral de Conjuntura’ da APICCAPS, elaborado em parceria com o Centro de Estudos e Economia Aplicada da Universidade Católica do Porto, a evolução da conjuntura da indústria portuguesa de calçado dá sinais de abrandamento”, refere.

Assim, e embora as empresas continuem a considerar o estado dos negócios positivo, “a percentagem das que o consideram melhor do que um ano antes diminuiu”, sendo que, “de uma maneira geral, as empresas de maior dimensão e com maior orientação exportadora fazem uma apreciação da situação mais favorável do que as restantes”.

Refletindo uma “evolução menos favorável do que em trimestres anteriores” da carteira de encomendas entre outubro e dezembro passados, “as previsões dos inquiridos apontam para uma ligeira diminuição da produção no início de 2023 e uma estabilização do estado dos negócios num nível satisfatório”.

Neste contexto, o porta-voz da APICCAPS antecipa que “2023 será particularmente exigente para as empresas exportadoras, face a um enquadramento macroeconómico internacional de alguma contenção”.

“Importa, por isso, reforçar a atividade de promoção externa do setor, para que seja possível potenciar novas janelas de oportunidade”, concluiu Paulo Gonçalves.

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