Francisco Proença de Carvalho, advogado de Ricardo Salgado, no ‘Caso BES’ não ficou surpreendido com a decisão do juiz Pedro Santos Correia, em levar o antigo presidente do Banco Espírito Santo a julgamento.
“Claro que era expectável, a partir do momento em que os juízes são escolhidos por sorteio e foi colocado aqui um juiz que manifestamente não tinha possibilidade sequer de conhecer todo o processo, todos percebemos que isto passava a ser um mero complemento no calendário”, referiu à saída do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) que decorreu ao início da tarde desta segunda-feira, 31 de julho.
Para o advogado esta decisão foi uma demonstração clara em como a justiça apenas quis “tirar uma fotografia e fingir que está tudo bem com a mesma”, e como tal a decisão foi demasiado óbvia para todos os que se encontravam na sala de audiência.
“Quando para um advogado passa a ser tão previsível a decisão que se vai tomar algo está muito mal na justiça. Uma justiça de sentido único, é uma justiça que não serve a ninguém, porque não está a fazer o seu papel de árbitro, de distanciamento e capacidade de ter coragem para enfrentar as ondas de alguma opinião pública”, salientou.
De resto, Francisco Proença de Carvalho sublinhou que os advogados de Ricardo Salgado estão isolados do seu próprio cliente e da família e por culpa de ninguém. “São circunstância da vida, doenças. Só espero que a justiça tenha algum dia coragem para encarar isso com maturidade democrática”, realçou.
O advogado não poupou também nas críticas ao Estado, assumindo que a defesa de Ricardo Salgado nunca se fez contra os lesados do BES.
“Para nós os lesados do BES, são lesados do Estado português. Aquilo que aconteceu ao BES podia ter sido evitado. É uma luta contra o Estado e muito desigual, mas temos de a fazer”, referiu.
A finalizar, Francisco Proença de Carvalho, falou também sobre o estado de saúde de Ricardo Salgado, deixando um apelo ao Estado português.
“É próprio de quem tem uma doença de Alzheimer. É um estado que não lhe permite autodefender-se, nem explicar os factos, nem compreender a realidade tal como é. Gostaríamos que o Estado português fizesse o que se faz em todos os arguidos que sofrem desta patologia, que é fazer uma perícia independente”.
Foram imputados 65 crimes ao ex-banqueiro (principal arguido), nomeadamente associação criminosa, corrupção ativa, falsificação de documentos, burla qualificada, branqueamento de capitais, infidelidade e manipulação de mercado.
Cinco dos 25 arguidos que estavam inseridos neste processo não serão julgados, de acordo com a mesma decisão.
A decisão esteve agendada para 14 de julho, mas foi adiada para esta segunda-feira, por ainda não estar concluída, adiantou o juiz de instrução em despacho a que a Lusa teve acesso.
O debate instrutório do processo também conhecido por “Universo Espírito Santo” decorreu entre os dias 2 e 9 de maio no tribunal de Monsanto (Lisboa).
Considerado um dos maiores processos da história da justiça portuguesa, este caso agrega no processo principal 242 inquéritos, que foram sendo apensados, e queixas de mais de 300 pessoas, singulares e coletivas, residentes em Portugal e no estrangeiro.
Segundo o MP, cuja acusação contabilizou cerca de quatro mil páginas, a derrocada do Grupo Espírito Santo (GES), em 2014, terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.
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