[weglot_switcher]

Catarina Martins será cabeça de lista do BE nas europeias e enfrenta contestação

A antiga coordenadora do BE Catarina Martins foi escolhida pelo partido como cabeça de lista para as eleições europeias de 9 de junho. Entretanto, a contestação interna é liderada Pedro Soares, que se queixa de excesso de aproximação ao PS.
16 Março 2024, 17h42

A antiga coordenadora do BE Catarina Martins foi escolhida este sábado pela Mesa Nacional do partido como cabeça de lista para as eleições europeias de 09 de junho, anunciou a atual coordenadora bloquista, Mariana Mortágua.

“Catarina Martins representa a candidatura mais forte que a esquerda pode apresentar nas eleições europeias e é por isso que será cabeça de lista do BE nestas eleições”, anunciou Mariana Mortágua em conferência de imprensa, em Lisboa, após uma reunião da Mesa Nacional, órgão máximo entre convenções.

Questionada sobre o resultado da votação, a coordenadora adiantou apenas que a escolha foi feita “por larguíssima maioria”.

Catarina Martins foi eleita deputada pela primeira vez em 2009, como independente, nas listas do Bloco, tendo sido reeleita pelo círculo do Porto em 2011 e 2015. Nos primeiros anos de mandato, integrou as comissões de Educação, Ciência e Cultura, Economia e Obras Públicas, assim como na Subcomissão de Ética. Adere ao Bloco no ano seguinte, para integrar a sua direção desde 2010. Em 2012, juntamente com João Semedo, entretanto desaparecido, sucede a Francisco Louçã na liderança do partido. A solução não colheu a aceitação esperada e em 2014, na sequência da IX Convenção, João Semedo abandona a liderança. Passa a vigorar uma Comissão Permanente da qual Catarina é porta-voz. Em 2016, após a X Convenção, a Comissão Permanente é dissolvida e Catarina Martins assume as funções de coordenadora do Bloco de Esquerda.

É no mandato de Catarina Martins que o Bloco de Esquerda alcança o seu melhor resultado eleitoral de sempre, elegendo 19 deputados, superando o meio milhão de votos e obtendo 10,19% nas eleições legislativas de 2015. Mas em 2023, após a queda do BE de 19 para cinco deputados, Catarina Martins não se candidatou a novo mandato como coordenadora do BE, tendo sido sucedida por Mariana Mortágua.

Entretanto, no interior do Bloco surgiu a contestação. Os críticos da atual direção lamentaram que o partido se tenha “colado ao PS” na campanha eleitoral para as legislativas e pediram “humildade crítica” sobre a linha política seguida. Estas posições constam de um documento ao qual a Lusa teve acesso, assinado pelos membros da Moção ‘E’, cujo porta-voz foi Pedro Soares e que na última convenção do BE apresentaram uma moção adversária à atual direção.

A Mesa Nacional do BE, órgão máximo entre convenções, esteve hoje reunida em Lisboa para analisar os resultados eleitorais do passado domingo. De acordo com estes dirigentes, “a tese de que o insistente apelo a uma aliança de governo com o PS protegeu o Bloco da bipolarização é meramente auto justificativa da linha seguida, como os resultados eleitorais demonstram”.

Na opinião destes críticos, “na realidade, o que aconteceu é que esse apelo como eixo central da campanha do BE agravou as dificuldades preexistentes e impediu a polarização em torno de uma política de captação de votos em muitos setores populares revoltados contra a falta de respostas dos governos do PS e as iniquidades do sistema”.

“O líder do PS não quis demarcar-se dos governos anteriores e perdeu, o Bloco colou-se ao PS e não recuperou a confiança perdida ao longo do anterior ciclo eleitoral. O Bloco afastou-se da sua matriz”, acusam.

Uma das posições já assumida pela coordenadora do BE, Mariana Mortágua, sobre o resultado das legislativas de domingo – nas quais o partido manteve a representação parlamentar de cinco deputados – é a de que os bloquistas “resistiram”, aumentando a sua votação “em 35 mil votos”.

Para os críticos internos, este é um “balanço superficial”, que coloca “o patamar de comparação ao nível da maior derrota eleitoral do BE, a de há dois anos”.

“A conclusão a tirar é que o Bloco não conseguiu dar um passo na recuperação da confiança e da influência política e que isso teve a ver com a orientação tática da campanha incapaz de polarizar discurso e proposta”, defendem.

Para os membros da moção ‘E’, “não era possível fazer dominar o programa eleitoral e a campanha com uma declaração solene para um acordo de governação com o PS, insistindo nisso durante toda a campanha, e ao mesmo tempo criticar com coerência a desastrosa política praticada pelo PS”, defendendo que “aos olhos das pessoas era contraditório”.

“No novo quadro político pós-eleições, é fundamental ter humildade crítica sobre a linha política em que a maioria da direção persiste e que está a prolongar o anterior ciclo de maus resultados eleitorais e de definhamento da base do Bloco”, é defendido no texto.

Estes críticos internos consideram que se exige “debate político aberto, espírito autocrítico, respeito pela pluralidade e pelo funcionamento dos órgãos do Bloco”.

Pedem ainda que nas eleições europeias de 09 de junho, cuja cabeça de lista será Catarina Martins, o BE afirme “uma visão alternativa para a Europa”, defendendo a necessidade de “ser eurocrítico”.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.