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CEO da TAP apela ao Governo para manter participação na companhia aérea

Luís Rodrigues acredita que processo de venda estará terminado até ao fim de 2025. “Não será fácil, mas acho que é possível”, disse o CEO da TAP ao “Financial Times”.
O presidente da TAP, Luis Rodrigues, usa da palavra durante um almoço da Associação Hotelaria de Portugal, no Hotel Altis, em Lisboa, 02 de outubro de 2023. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
21 Maio 2024, 10h54

Luís Rodrigues, CEO da TAP, apelou a que o Governo mantenha uma participação na companhia aérea de bandeira, optando por não vender a totalidade da transportadora.

Na opinião de Luís Rodrigues, partilhada num evento em Londres onde esteve o “Financial Times”, o Executivo deve manter algum tipo de posição na companhia, dada a elevada dependência do país do sector do turismo.

“A minha recomendação seria para o Governo português manter uma posição, e que fizesse parte de todo o processo de desenvolvimento”, apontou à publicação britânica, à margem de um evento de celebração dos 75 anos do início dos voos da TAP entre Lisboa e Londres. “Só para garantir que, se os atores mudarem, ninguém entra com uma agenda diferente”, referindo-se à necessidade de servir e apoiar as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.

O diretor da companhia socorreu-se ainda de palavras proferidas pelo atual primeiro-ministro durante a campanha eleitoral, em que este apelava à venda de 100% da companha aérea, desde que acompanhada de salvaguardas para proteger os interesses estratégicos de Portugal, como, por exemplo, a manutenção de Lisboa como um hub central.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, disse durante a campanha eleitoral que uma venda de 100 por cento da participação deveria vir acompanhada de salvaguardas para proteger os interesses estratégicos de Portugal, como a manutenção de Lisboa como um aeroporto central. Importa lembrar que o governo de António Costa queria privatizar mais de 50% da companhia, mantendo uma pequena percentagem nas mãos do Estado.

No mês passado, o Governo de Montenegro revelou a intenção de privatizar a TAP, embora não fosse claro sobre os trâmites nos quais o pretendia fazer. Numa altura em que se discute o aeroporto em Alcochete, o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, veio revelar que a venda da companhia aérea não é prioritária.

Ainda assim, Luís Rodrigues continua: “acho que, em algum momento, poderemos estar pontos para vender 100% [da TAP], mas precisamos de dar um passo de cada vez”.

Outros interessados?

Apesar do interesse de três grandes grupos de aviação (IAG, Air France/KLM e Lufthansa), o CEO da TAP defende outro interesse devido às preocupações que emanam de Bruxelas. Luís Rodrigues pretende atrair investidores que estejam fora do negócio da aviação, de forma a aliviar as preocupações concorrenciais, isto numa altura em que cresce o desconforto em Bruxelas perante a indústria poder ser dominada apenas por grandes grupos aéreos, como são exemplos os interessados à compra.

Estes grupos interessados na TAP já possuem várias subsidiárias na Europa, mas a ambição continua a ser o crescimento. Por isso mesmo, e devido às suas ligações, a TAP interessa-lhes: seja pelas fortes ligações ao Brasil e mercado sul-americano ou pela entrada em países lusófonos em África, como Angola e Moçambique.

E o que espera Luís Rodrigues para depois da venda? Chegando à TAP numa situação de descontentamento com a sua antecessora (envolvida em polémica) e em que a companhia tinha acabado de dar lucros após cinco anos, o atual CEO espera que a transportadora mantenha a sua identidade e marca, independentemente do negócio que o Governo decida concretizar.

O CEO da TAP sugere mesmo que o Governo pode envolver capitais privados e outros investidores na venda da companhia aérea nacional, em vez de simplesmente a vender a uma companhia aérea, sendo que esta tática pode ajudar a aliviar pressões e afastar desconfianças de Bruxelas.

“Se fizermos uma venda que não seja a 100%, e que não seja a um grupo, mas para companhias aéreas ou capital privado, ou mesmo local, que é algo politicamente positivo, pode ser muito mais fluído e fácil”, atirou o CEO ao “Financial Times”.

“Adoraria que estivesse tudo terminado até ao fim de 2025… Não será fácil, mas se tudo correr bem, acho que é possível”, adiantou. O anterior governo tinha ideias de concluir o processo de venda no primeiro semestre de 2024, sendo que foi interrompido pelas eleições legislativas antecipadas.

Importa lembrar que, nos últimos tempos, a IAG adquiriu a espanhola Air Europa, a Lufthansa comprou 41% da ITA Airways, sucessora da Alitalia, enquanto a Air France adquiriu 20% da escandinava SAS. Foram estas aquisições que levaram a desconfianças de concorrência desleal por parte dos grupos.

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