Luís Rodrigues, CEO da TAP, apelou a que o Governo mantenha uma participação na companhia aérea de bandeira, optando por não vender a totalidade da transportadora.
Na opinião de Luís Rodrigues, partilhada num evento em Londres onde esteve o “Financial Times”, o Executivo deve manter algum tipo de posição na companhia, dada a elevada dependência do país do sector do turismo.
“A minha recomendação seria para o Governo português manter uma posição, e que fizesse parte de todo o processo de desenvolvimento”, apontou à publicação britânica, à margem de um evento de celebração dos 75 anos do início dos voos da TAP entre Lisboa e Londres. “Só para garantir que, se os atores mudarem, ninguém entra com uma agenda diferente”, referindo-se à necessidade de servir e apoiar as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores.
O diretor da companhia socorreu-se ainda de palavras proferidas pelo atual primeiro-ministro durante a campanha eleitoral, em que este apelava à venda de 100% da companha aérea, desde que acompanhada de salvaguardas para proteger os interesses estratégicos de Portugal, como, por exemplo, a manutenção de Lisboa como um hub central.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, disse durante a campanha eleitoral que uma venda de 100 por cento da participação deveria vir acompanhada de salvaguardas para proteger os interesses estratégicos de Portugal, como a manutenção de Lisboa como um aeroporto central. Importa lembrar que o governo de António Costa queria privatizar mais de 50% da companhia, mantendo uma pequena percentagem nas mãos do Estado.
No mês passado, o Governo de Montenegro revelou a intenção de privatizar a TAP, embora não fosse claro sobre os trâmites nos quais o pretendia fazer. Numa altura em que se discute o aeroporto em Alcochete, o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, veio revelar que a venda da companhia aérea não é prioritária.
Ainda assim, Luís Rodrigues continua: “acho que, em algum momento, poderemos estar pontos para vender 100% [da TAP], mas precisamos de dar um passo de cada vez”.
Apesar do interesse de três grandes grupos de aviação (IAG, Air France/KLM e Lufthansa), o CEO da TAP defende outro interesse devido às preocupações que emanam de Bruxelas. Luís Rodrigues pretende atrair investidores que estejam fora do negócio da aviação, de forma a aliviar as preocupações concorrenciais, isto numa altura em que cresce o desconforto em Bruxelas perante a indústria poder ser dominada apenas por grandes grupos aéreos, como são exemplos os interessados à compra.
Estes grupos interessados na TAP já possuem várias subsidiárias na Europa, mas a ambição continua a ser o crescimento. Por isso mesmo, e devido às suas ligações, a TAP interessa-lhes: seja pelas fortes ligações ao Brasil e mercado sul-americano ou pela entrada em países lusófonos em África, como Angola e Moçambique.
E o que espera Luís Rodrigues para depois da venda? Chegando à TAP numa situação de descontentamento com a sua antecessora (envolvida em polémica) e em que a companhia tinha acabado de dar lucros após cinco anos, o atual CEO espera que a transportadora mantenha a sua identidade e marca, independentemente do negócio que o Governo decida concretizar.
O CEO da TAP sugere mesmo que o Governo pode envolver capitais privados e outros investidores na venda da companhia aérea nacional, em vez de simplesmente a vender a uma companhia aérea, sendo que esta tática pode ajudar a aliviar pressões e afastar desconfianças de Bruxelas.
“Se fizermos uma venda que não seja a 100%, e que não seja a um grupo, mas para companhias aéreas ou capital privado, ou mesmo local, que é algo politicamente positivo, pode ser muito mais fluído e fácil”, atirou o CEO ao “Financial Times”.
“Adoraria que estivesse tudo terminado até ao fim de 2025… Não será fácil, mas se tudo correr bem, acho que é possível”, adiantou. O anterior governo tinha ideias de concluir o processo de venda no primeiro semestre de 2024, sendo que foi interrompido pelas eleições legislativas antecipadas.
Importa lembrar que, nos últimos tempos, a IAG adquiriu a espanhola Air Europa, a Lufthansa comprou 41% da ITA Airways, sucessora da Alitalia, enquanto a Air France adquiriu 20% da escandinava SAS. Foram estas aquisições que levaram a desconfianças de concorrência desleal por parte dos grupos.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com