A CERCIOEIRAS, uma cooperativa que apoia pessoas com deficiência intelectual, espera há 12 anos pela abertura do concurso para construir um novo centro, enquanto a lista de espera continua a crescer e já supera as vagas previstas.
Em entrevista à agência Lusa, no dia em que a instituição completa 50 anos, o presidente do conselho de administração descreveu o percurso feito nestas cinco décadas, entre o nascimento em 1975, as instalações antigas onde estiveram cerca de 27 anos até passarem para o edifício que ocupam desde há 23 anos e onde procuram “dar resposta à comunidade”.
“Estamos sempre limitados, nunca conseguimos chegar às necessidades que nos procuram diariamente”, afirmou Paulo Pessoa.
Quando foi criada, a CERCIOEIRAS apoiava 20 pessoas com deficiência intelectual, hoje dá resposta a cerca de mil pessoas por ano na comunidade, no total das várias respostas sociais, nomeadamente nas escolas de Oeiras, através dos Centros de Recursos para a Inclusão (CRI) ou nas atividades de enriquecimento curricular.
Depois, há 95 pessoas que frequentam o Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão (CACI), 50 das quais vivem na unidade residencial da CERCIOEIRAS.
Uma das pessoas que frequenta o CACI é o José Maria Cambeiro, um jovem com trissomia 21, autor de um livro de receitas de sobremesas, em parceria com o chef José Avillez, e que no dia da visita à CERCIOEIRAS também assumiu o papel de cicerone.
À medida que a visita percorre as várias salas de atividades, José Maria vai explicando o que estão a fazer, entre costura, tecelagem ou pintura e é possível constatar que muitas das pessoas que frequentam o CACI têm uma idade bastante avançada, como o Vasco, com 58 anos e na instituição desde o primeiro dia.
O envelhecimento é, aliás, um dos principais desafios com que a CERCIOEIRAS se vê confrontada, uma vez que isso traz necessidades acrescidas para as quais há “dificuldade em conseguir dar resposta”.
Paulo Pessoa adiantou que a instituição tem “uma lista de espera muito considerável”, desde logo 35 pessoas que frequentam o CACI e precisam de vaga na unidade residencial, mais outras 70 que são externas, o que totaliza 105 pessoas em lista de espera.
Alertou que a disponibilidade de vagas acontece a um ritmo muito lento, normalmente por morte de algum utente ou mudança de residência, apontando que nos últimos dez anos só tiveram sete vagas na unidade residencial.
Por outro lado, Raquel Pereira, diretora-geral da instituição, destacou que, paralelamente, os cuidadores destas pessoas, pais ou outros familiares, também estão a envelhecer, referindo que em 50% dos casos têm mais de 60 anos e noutros 25% a idade ultrapassa os 70 anos.
Para dar resposta às necessidades crescentes, a CERCIOEIRAS quer construir um novo centro, um projeto que traria mais 24 vagas na unidade residencial e 30 em CACI, ou seja, 54 vagas, “muito aquém das necessidades” atuais, como frisou Paulo Pessoa.
“Isto é um projeto com alguns anos, mas se começasse a funcionar hoje, continuava com pessoas em lista de espera”, lamentou.
Segundo o responsável, o projeto de construção aguarda há 12 anos pela abertura do respetivo concurso público, da responsabilidade da Câmara Municipal da Oeiras, mas Paulo Pessoas admite que haja “outras prioridades”.
Contactada pela agência Lusa, a autarquia liderada por Isaltino Morais adiantou que “o concurso público deverá ser aberto no primeiro trimestre do próximo ano” e que o investimento necessário, de cerca de 5 milhões de euros, “já estará incluído no próximo orçamento municipal”.
Entretanto, a instituição vai assinalar meio século de existência com a realização de um seminário na terça-feira com o tema “INcluir: Vozes Ativas, Mudanças Reais – Nada sobre Nós sem Nós”, e que será “conduzido exclusivamente por pessoas com deficiência, que vão dar voz à sua experiência, partilhar boas práticas e inspirar mudanças reais”.
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