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CGD, Crédito Agrícola e Novobanco com melhor desempenho em 2023

A A&M diz que a CGD é o único banco com resiliência acima da média, mas tem de melhorar a sua rentabilidade. O Crédito Agrícola, o BPI e o Santander têm de melhorar a sua resiliência, mas têm uma boa rentabilidade. O Banco Montepio fica atrás em termos de rentabilidade, enquanto o BCP fica aquém em resiliência do balanço.
8 Maio 2024, 07h30

A Alvarez & Marsal publicou a quinta edição do “Portuguese Banking Pulse de 2023” com base nos resultados do estudo sobre os sete maiores bancos portugueses (top 7) no que diz respeito às suas atividades em Portugal e destaca os principais indicadores de desempenho do sector bancário português.

Da quinta edição do estudo setorial sobre banca, conclui-se que o melhor do sector bancário em 2023 foi o capital, a rentabilidade e a liquidez e o pior a evolução do balanço (crédito e depósitos). Pelo meio fica a receita, eficiência operacional e o risco.

O rácio de NPL (Non-Performing Loans), vulgo crédito malparado, diminuiu de 3,18% para 2,59% no fim do ano passado, sendo que a melhoria foi impulsionada pela redução de 16% nos empréstimos problemáticos. A cobertura por imparidades e colaterais supera os 100%, o que revela uma abordagem ainda mais conservadora do que em 2022.

Mas os bancos portugueses comparam mal com a média da UE, que é de 1,8%.

“O Pulso da Banca” faz o diagnóstico aos principais sete bancos a operar em Portugal, analisando 16 indicadores – Caixa Geral de Depósitos, Millennium BCP, Santander Totta, Novobanco, BPI, Crédito Agrícola e Banco Montepio.

“O desempenho de todos os bancos foi bastante notável, registando uma melhoria significativa em relação a 2022”, conclui a consultora que em Portugal tem como Managing Director, Mário Trinca.

Mas se, no acumulado dos sete bancos, o ano de 2023 foi “dos anos mais positivos, na última década, tendo apresentado níveis médios de rendibilidade superiores aos da União Europeia e inclusive da banca espanhola”, segundo Mário Trinca, na comparação banco a banco a Caixa Geral de Depósitos, o Crédito Agrícola e o Novobanco foram os bancos com melhor desempenho no ano passado, ao mesmo tempo que o Banco Montepio ficou aquém em comparação com a concorrência, de acordo com a pontuação da Alvarez & Marsal.

Por outro lado, o estudo revela que o Banco Montepio, o BCP e o Crédito Agrícola registam uma melhoria significativa das suas pontuações em relação ao 4º trimestre de 2022.

A A&M conclui que a CGD é o único banco com uma Resiliência acima da média, mas tem de melhorar a sua rentabilidade. O Crédito Agrícola, o BPI e o Santander têm de melhorar a sua Resiliência, mas têm uma boa rentabilidade.  O Banco Montepio fica atrás em termos de rentabilidade, enquanto o BCP fica aquém em resiliência do balanço.

Redução do balanço

O ponto mais fraco dos bancos no ano passado foi a redução dos depósitos superior à subida do crédito (empréstimos e adiantamentos), pois no acumulado dos sete bancos os depósitos registaram uma redução de 3,4%, ao passo que o crédito aumentou 0,3% em 2023.

Na comparação verifica-se que o Santander e o BPI mantêm-se abaixo do mercado na evolução dos depósitos, mas registam uma melhoria nos empréstimos.

O Crédito Agrícola é aqui o banco que regista uma melhoria de mercado em ambos, depósitos e crédito.

“O rácio entre empréstimos e depósitos aumentou para 84,1%, ainda numa zona de liquidez saudável”, revela a consultora.

O rácio de transformação de depósitos em crédito (loan-to-deposits), que é um indicador de liquidez, no conjunto, cresceu anualmente 308 pontos base (3,08%) e situa-se no fim do ano passado em 84,1%.  O Santander e o BPI apresentam o rácio mais elevado do sector.

Depois surge o Novobanco e o Banco Montepio que aumentaram ligeiramente o rácio de transformação, acima da média

O facto de o rácio de transformação estar numa área muito saudável de 84,1%, reduz as necessidades de financiamento externo.

Os bancos Santander Totta, Novobanco e BPI revelam o nível mais baixo de Liquidity Coverage Ratio, abaixo dos 200%, num sector com níveis médios acima dos 250%. Este rácio consiste na proporção de ativos de elevada liquidez detidos pelas instituições financeiras para assegurar que mantêm uma capacidade permanente de liquidez para cumprir as suas obrigações de curto prazo.

Aqui, o Crédito Agrícola e a CGD registam os melhores desempenhos.

Sete bancos com lucros acumulados de 4.774 milhões de euros

Já se sabe que foi o aumento da margem financeira, fruto de uma política monetária de subida dos juros, que impulsionou a recuperação dos lucros dos bancos.

O Resultado Líquido agregado registou um aumento de 89% para um total de 4,8 mil milhões de euros.

Todos os bancos apresentaram um aumento do resultado líquido, sendo que o Montepio e o BCP reportaram os maiores aumentos dos lucros, sendo a CGD quem apresenta o Resultado Líquido mais elevado. O BPI e o Novobanco registaram o menor aumento homólogo.

Quando se olha só para o 4º trimestre, verifica-se que o Resultado Líquido dos bancos portugueses foi de 1,18 mil milhões de euros, registando um aumento de 48bps face ao período homólogo.

Em 2023 as comissões mantiveram-se, comparativamente com o ano anterior, bastante estáveis.

“O principal impulsionador da melhoria do Resultado Líquido foi o crescimento da Margem Financeira apesar do aumento anual das provisões constituídas para fazer face aos riscos”, destaca o estudo.

A consultora revela que o aumento das provisões líquidas indica uma abordagem cautelosa dos bancos para o próximo ciclo.

A margem financeira líquida aumentou para 2,38% (+113pb), impulsionada pelo aumento da rentabilidade do crédito (+293bps) apesar do crescimento (+84bps) do custo de financiamento (juros dos depósitos incluídos).

No crescimento da margem financeira os bancos portugueses ultrapassaram a média média da UE de 1,62% ao atingir os 2,38% (Espanha revela uma margem financeira de 1,55%.

“O rácio entre crédito e depósitos  (loan-to-deposits) registou um aumento de 503 bps face ao período homólogo do ano anterior  e o custo de funding aumentou 84 pb em termos homólogos e a rentabilidade do crédito 293 bps.  O spread do crédito também registou um aumento de 208 bps num ano”, segundo o estudo.

Todos os bancos registaram um aumento da margem financeira, sendo que três bancos mais do que duplicaram, enquanto outros três estiveram perto de o conseguir. A CGD regista o maior aumento da taxa de margem financeira, 169bps, seguido do Crédito Agrícola com 156bps.

O banco liderado por Licínio Pina e o banco presidido por Paulo Macedo apresentam a taxa de margem financeira mais alta e o Banco Montepio e o BPI a mais fraca em 2023.

O Produto Bancário registou um aumento de 30,3% de 2,27  mil milhões para 2,96 mil milhões de euros num ano impulsionado pelo aumento da margem financeira (+59,7%).

Outro destaque é que a margem financeira do 4º trimestre do ano manteve-se estável, enquanto o resultado operacional registou uma redução trimestral pela primeira vez nos últimos dois anos.

Todos os bancos registaram um aumento do Produto Bancário sobre o Ativo, sendo que a CGD, o o Crédito Agrícola e o Santander registaram a maior subida.

Por outro lado os custos operacionais e outros custos registaram um ligeiro aumento, mas parecem estar a ser adequadamente geridos, segundo a Alvarez & Marsal.

A subida do produto bancário e a redução de custos explica a melhoria do rácio de eficiência (cost-to-income) que atingiu 31,57% em 2023. Os bancos portugueses apresentam um melhor indicador em comparação com a média da UE, que é de 55,1%, e com os bancos espanhóis, que é de 42,1%.

Os mais eficientes são a CGD e o Santander (25,01% e 27,14%). Os piores são o Banco Montepio e o Crédito Agrícola (50,8% e 41,8%).

Mas todos melhoraram o seu rácio de eficiência e maior melhoria foi registada na CGD, Crédito Agrícola e Banco Montepio.

Rentabilidade da banca em alta

Na análise ao acumulado dos sete bancos, de acordo com o estudo, que analisou 16 indicadores financeiros, a rentabilidade da banca portuguesa aumentou 580 p.b. entre 2022 e 2023, atingindo os 15,1%, isto é, 4,2 pontos percentuais superior à da média registada na União Europeia.

Este crescimento deve-se a uma melhoria das receitas e dos rácios de eficiência.

A rentabilidade e a liquidez são os pontos fortes dos sete maiores bancos portugueses, enquanto o crescimento do balanço é o indicador mais fraco.

Quando se comparam os bancos em termos de rentabilidade, o Banco Montepio tem o pior score e foi o único banco com um ROE inferior a 10%.

O BPI e o Santander Totta registaram ligeiras melhorias ao longo de 2023.

Os sete bancos melhoraram a sua pontuação em relação em relação a 2022, revela a Alvarez & Marsal, sendo que o Banco Montepio registou a maior subida face ao ano anterior, mesmo que continue a apresentar os resultados resultados menos favoráveis.

Os sete bancos registaram um aumento do ROE (rentabilidade dos capitais próprios) em relação a 2022. O BCP registou a maior subida e o Montepio é o banco com o rácio mais baixo em 2023.

O ROE dos bancos da UE situa-se em 10,9%, o que é inferior ao ROE médio dos bancos portugueses, que se situa em 14,9%.

CGD tem maior produtividade por balcão e Crédito Agrícola a pior

O Volume de Negócios por balcão foi também analisado e nos sete bancos melhorou face ao ano anterior devido à redução do número de agências e ao aumento do crédito. O número de agências continuou a diminuir de 2,80 mil para 2,75 mil durante 2023, impulsionado ainda pela reestruturação pós-Covid.

Há cinco bancos que aumentaram o seu volume de negócios Volume de Negócios por Balcão em 2023, sendo a CGD o que teve melhor desempenho e o Crédito Agrícola o pior.

Mas a CGD e o BCP diminuíram o seu volume de negócio por balcão devido a uma diminuição do volume global de negócio.

Também é verdade que o Crédito Agrícola e a CGD são os maiores em termos de número de balcões.

O banco vocacionado para a agricultura e o Banco Montepio continuam a destacar-se com o menor volume de negócio por balcão.

Qualidade da carteira de crédito pior que UE

No que toca à qualidade da carteira de crédito malparado, a CGD teve um desempenho superior ao do mercado tanto no Rácio de NPL e como no rácio de cobertura (por imparidades).

O Crédito Agrícola tem o rácio NPL mais elevado, enquanto o Montepio tem o rácio de cobertura mais baixo e o terceiro maior rácio de NPL.

Mas o Montepio foi o banco que registou a maior diminuição do rácio de NPL, devido a uma redução de 2,9 pontos percentuais nos empréstimos problemáticos.

Os bancos portugueses excedem os níveis médios da UE de 1,8% em rácio de NPLs, mas o seu nível de cobertura mais do que duplica a média da UE de 42,9%.

Ainda sobre a qualidade da carteira de crédito, o custo do risco aumentou de 18 pontos de base no quarto trimestre de 2022 para 35 pontos base em 2023. Os bancos portugueses estão melhores do que a média da UE que é de 0,44% e do que a média espanhola média espanhola que é de 0,40%.

O Crédito Agrícola tem o maior Custo do Risco, com 1,08%, e o Santander tem o CoR mais baixo, apoiado pelo aumento da qualidade da carteira de crédito.

O BCP registou uma redução de 2 bps para 0,53%; o BPI registou uma queda do CoR de 4bps para 0,14%; o Crédito Agrícola piorou o seu rácio em 67 bps para 1,08%; e Banco Montepio regista uma redução de 31 bps  para 0,41%.

Capital, o ponto forte da banca

Os ativos ponderados pelo risco (base do rácio de capital) diminuiu 2,4% para 155,36 milhões de euros e o retorno desses ativos – RoRWA (Return on Risk-Weighted Assets) – aumentou 150bps passando de 1,58% no 4º trimestre de 2022 para 3,08% no 4º trimestre de 2023.

Por falar em capital, este é um dos pontos fortes dos bancos portugueses em 2023. O rácio CET1 Fully Loaded aumentou de 14,71% para 16,87%  em 2023 impulsionado em parte pela diminuição de 2,4% dos RWAs.  O rácio de capital de CET1 da banca está agora acima da média europeia que é de 15,7%.

Seis dos sete bancos analisados aumentaram os seus rácios CET1 durante o ano em comparação com ano anterior. O Novobanco regista um aumento acentuado, passando de 13,1% para 18,2% e o BPI é o único que regista uma diminuição e apresenta também o rácio CET1 mais baixo. Os restantes bancos, com exceção do BCP (15,5%), estão acima dos 15,7% da média europeia.

Notas ao conjunto dos sete bancos

A Alvarez & Marsal atribui pontuações e no conjunto dos sete bancos a pior nota (3,5) é na categoria “crescimento”, que inclui a evolução dos créditos e depósitos. Os “empréstimos e adiantamentos” aumentaram 0,3% no quarto trimestre de 2013, o que é ritmo mais lento em comparação com o quarto trimestre de 2022 (4%). Do outro lado do balanço, os depósitos diminuíram 3,4% em relação ao trimestre homólogo do ano anterior.

A segunda pior área da análise é a do risco (1,4). No global dos sete bancos, o rácio de NPL (non-performing loans) diminuiu em termos homólogos para 2,59% sobre o total da carteira, devido a uma redução mais rápida do crédito problemático do que do crédito bruto a clientes. Isto significa que apesar da queda do crédito concedido, a redução do legado de malparado foi mais rápida.

Já o Custo do Risco de Crédito (que corresponde ao fluxo das imparidades para crédito em percentagem do total do crédito bruto concedido a clientes) aumentou 17 bps para 0,35% no acumulado do ano passado.

A performance das receitas e da eficiência operacional segue-se com uma pontuação de 1,2. Aqui estão incluídos os indicadores rendimento do crédito (acumulado no ano); o custo do financiamento; a margem financeira; outros proveitos que não de juros/receita operacional (acumulada no ano); o crescimento anual do Produto Bancário; o resultado operacional (no ano)/ativos; o rácio de eficiência cost-to-income e o volume de negócios por balcão (que se manteve em 168 milhões de euros).

A margem financeira líquida aumentou para 2,38% (+113pb), impulsionada pelo aumento da rentabilidade do crédito (+293bps) apesar do aumento (+84bps) do custo de financiamento (juros dos depósitos incluídos).

A margem de lucro operacional aumentou para 3,1%, de 2,0% em relação ao ano anterior e o rácio de eficiência melhorou de 48,1% em 2022 para 31,6% em 2023.

 

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