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Chile: o fim da aventura pós-Salvador Allende

Mais um país da América Latina escolhe a via da direita radical. José Antonio Kast vence as presidenciais à terceira tentativa com promessas de que fechará o país à imigração e estabelecerá uma diminuição drástica da despesa do Estado.
15 Dezembro 2025, 09h31

José Antonio Kast venceu as eleições presidenciais do Chile explorando o medo dos eleitores em relação ao aumento da criminalidade e da imigração conduzindo o país a uma viragem radical à direita, o que não acontecia desde o fim da ditadura militar em 1990. No domingo, 14 de dezembro, obteve 58% dos votos na segunda volta, derrotando a candidata de esquerda apoiada pelo governo, Jeannette Jara, que conquistou 42% e rapidamente reconheceu a derrota.

Ao longo de sua longa carreira política, Kast tem-se revelado um político da direita de linha-dura: propôs a construção de muros na fronteira, o envio de militares para áreas com altos índices de criminalidade e a deportação de todos os imigrantes que estão no país ilegalmente. No discurso de vitória em frente à sede do Partido Republicano, Kast prometeu uma “mudança real”. “Sem segurança, não há paz. Sem paz, não há democracia, e sem democracia não há liberdade, e o Chile voltará a ser um país livre de crimes, ansiedade e medo”, disse.

Mas o novo presidente alegou que o país tem pela frente um caminho difícil, dizendo que não há “soluções mágicas” e que as mudanças exigiriam perseverança e tempo. A sua vitória representa o mais recente triunfo da direita, que está a ressurgir na América Latina, com Daniel Noboa no Equador, Nayib Bukele em El Salvador e Javier Milei na Argentina. Em outubro passado, a eleição do centrista Rodrigo Paz pôs fim a quase duas décadas de regime socialista na Bolívia.

Foi a terceira candidatura de Kast à presidência e a sua segunda presença numa segunda: em 2021, perdeu para o esquerdista Gabriel Boric. Considerado por muitos chilenos como extremista, Kast atraiu eleitores cada vez mais preocupados com a criminalidade e a imigração – e colocou um fim naquilo que foi o regresso das forças herdeiras de Salvador Allende – o presidente assassinado em 11 de setembro de 1973 no palácio presidencial às mãos de Augusto Pinochet – que viria a tomar o poder, instalando um dos regimes repressivos mais bárbaros de toda a América Latina. ‘Make Chile Great Again’ foi uma das frases usadas por Kast na sua campanha.

A sua vitória, que aconteceu mesmo em regiões do Chile que tradicionalmente votam em candidatos de esquerda, terá sido impulsionada pela rejeição dos eleitores a Jara, que, como membro do Partido Comunista, era vista por muitos como extremista.

Embora o Chile seja um dos países mais seguros da América Latina, a criminalidade violenta aumentou drasticamente nos últimos anos, à medida que grupos do crime organizado se estabeleceram, aproveitando-se das fronteiras desérticas e permeáveis ​​do norte do país com os vizinhos produtores de coca, Peru e Bolívia. As propostas de Kast incluem a criação de uma força policial inspirada no Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) para deter e expulsar rapidamente os imigrantes que se encontram ilegalmente no país. Tem também defendido cortes drásticos nos gastos públicos.

O Chile é o maior produtor mundial de cobre e um importante produtor de lítio, e as expectativas de menos regulamentação e políticas mais favoráveis ​​ao mercado já impulsionaram o mercado mobiliário e a moeda (peso).

As propostas mais radicais de Kast enfrentarão resistência num Congresso dividido. O Senado está dividido igualmente entre partidos de esquerda e de direita, enquanto o voto decisivo na câmara baixa pertence ao Partido Popular, de orientação populista.


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