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China: Dados macro de julho reforçam argumentos para mais estímulos

Os preços das casas continuam a derrapar, a produção industrial dá sinais de abrandamento e o desemprego subiu marginalmente, mas os responsáveis chineses parecem pouco dispostos a avançar com mas estímulos. Dependência das exportações pode ter efeito perverso com o aumento das tarifas e enfraquecimento na UE e EUA.
China
Tyrone Siu / Reuters
19 Agosto 2024, 07h30

A economia chinesa continua a dar sinais de abrandamento, minando as esperanças dos investidores numa recuperação rápida este ano – pelo contrário, as probabilidades de estímulos aumentaram, sobretudo dado o risco de agravamento das tensões geopolíticas. A componente industrial e o imobiliário são o que mais preocupam, mas também o consumo mostra algumas fraquezas.

A segunda maior economia do mundo divulgou uma série de indicadores macro na passada quinta-feira e o panorama não é o mais animador: as vendas a retalho foram o único indicador a sair acima do projetado, isto numa análise homóloga, avançando 2,7% contra 2,6% esperados e 2% no mês anterior; já os preços das casas, o investimento em ativos fixos, a produção industrial e o desemprego ficaram ligeiramente pior do que projetado, sublinhando a transversalidade das fragilidades chinesas.

A produção industrial ficou apenas 0,1 pontos percentuais (p.p.) abaixo do projetado, com 5,1% na comparação homóloga, o que constitui um abrandamento ligeiro em relação aos 5,3% do mês. Já a taxa de desemprego subiu para 5,2% dos anteriores 5%.

Por seu lado, os preços das casas recuaram 4,9% em relação a igual período do ano passado, aprofundando as perdas do mês anterior, quando o indicador caiu 4%. A análise do banco ING detalha que, em cadeia, os preços das casas novas nas 70 cidades consideradas caíram 0,65%, enquanto os para casas usadas desceram 0,8%.

Em comparação com o pico do mercado, os preços das habitações a estrear já desceram 7,6%, enquanto o mercado secundário recuou 13,7%. Em julho, 66 das 70 cidades analisadas registaram descidas nos preços das casas novas e duas mantiveram-se inalteradas, sendo que, para as casas usadas, 67 cidades verificaram recuos e apenas uma, Xangai, viu os preços subirem ligeiramente.

A tendência do mercado continua a ser negativa, embora menos pronunciadamente do que há uns meses, considera o banco neerlandês, o que fortalece o argumento a favor de mais estímulos. Nesta dimensão, vários analistas pedem um maior foco no consumo, por oposição à infraestrutura.

Os dados divulgados quinta-feira mostram uma subida homóloga de 3,6% no investimento em ativos fixos em julho, um abrandamento em relação aos 3,9% do mês anterior e projetados pelo mercado, mas o investimento em infraestrutura está já a crescer 11% “e parece improvável que acelere mais”, consideram os analistas da Gavekal Economics.

A aposta recorrente de Pequim na componente externa para compensar fragilidades internas da economia tem dado resultados na vertente do crescimento, mas também gera preocupações protecionistas junto dos parceiros comerciais chineses que têm levado à imposição de tarifas e acusações de excesso de capacidade, incluindo pela UE.

Acresce a isto a possibilidade de desaceleração nos EUA, onde a recessão volta a pairar no horizonte, o que levaria a um risco claro para o crescimento chinês, aponta a análise da Gavekal.

“Os legisladores provavelmente aumentarão os estímulos se o risco de exportação se materializar – e há uma boa hipótese de que venham a descer taxas mesmo que isso não aconteça. Mas, por enquanto, parecem em pausa e tão relutantes como sempre em avançar com grandes estímulos que possam dar um impulso ao sentimento de mercado e ao crescimento nominal”, completa a nota do think-tank.

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