[weglot_switcher]

China não recua perante ameaças dos EUA e contra-ataca em várias direções

Além da retribuição de sanções a Washington, a China visou também o Canadá, que está a ser pressionado pelos EUA para igualar as tarifas aplicadas a Pequim, refutando em força qualquer responsabilidade pela crise de opioides vivida pelos norte-americanos.
China EUA
The flags of the United States and China fly from a lamppost in the Chinatown neighborhood of Boston, Massachusetts, U.S., November 1, 2021. REUTERS/Brian Snyder
17 Março 2025, 07h00

A China está a responder de várias formas ao escalar de retórica e ações dos EUA, retribuindo as tarifas acrescidas decretadas pela administração Trump (e incluindo o Canadá), ‘batendo o pé’ a algumas das maiores empresas norte-americanas presentes no país e refutando as acusações de conivência perante o envio de químicos para a produção de fentanil.

As tarifas retaliatórias de Pequim sobre produtos agrícolas norte-americanos entraram em vigor esta segunda-feira, na sequência do aumento transversal de 10% na tarifa a pagar para qualquer bem proveniente da China (que passam assim a pagar 20%), uma medida que, defendem as autoridades chinesas, viola as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC). O governo chinês visou, desta feita, produtos maioritariamente agroalimentares, com um acréscimo de 15% sobre o frango, milho, trigo e algodão provenientes dos EUA e de 10% sobre as importações de soja, carne de porco e vaca, vegetais, produtos lácteos e sorgo.

A China é o maior destino das exportações agrícolas norte-americanas, representando 21 mil milhões de dólares (19,4 mil milhões de euros) em 2024, de acordo com os dados do comércio dos EUA. A soja, por exemplo, representou quase 13 mil milhões de dólares (12 mil milhões de euros) de vendas para a China no ano passado, sendo que três empresas norte-americanas viram a sua licença de exportação na segunda maior economia do mundo suspensa. Quase metade das exportações norte-americanas de soja no ano passado tiveram como destino a China.

No total, 25 empresas foram especificamente visadas por Pequim, que acrescentou 15 firmas norte-americanas à lista de controlos de exportação, limitando o fornecimento chinês de tecnologias de uso dual, e outras 10 à lista de entidades não confiáveis. Estas incluem a biotecnológica Illumina, cujos produtos de mapeamento genético ficam agora banidos na China, ou a fabricante de drones Skydio.

Na mesma linha, e considerando que Washington está a pressionar o Canadá e o México a igualarem as medidas que tomou visando a China, as exportações canadianas para a segunda maior economia do mundo foram alvo: o óleo de canola e as ervilhas passam a pagar 100% de imposto e os produtos aquáticos e a carne de porco ficam sujeitos a 25% de tarifa.

O Walmart, uma das maiores empresas norte-americanas de retalho e consumo, tornou-se um exemplo dos efeitos desta escalada comercial. Os representantes chineses convocaram os líderes regionais da empresa esta quarta-feira após estes terem pressionado vários fornecedores chineses a aceitarem cortes de preço de até 10%, de forma a contrariar o impacto nos preços.

Este pedido, segundo a televisão estatal chinesa, “não é razoável e distorce a competição”, podendo levar a “mais ações” pelo governo. Apesar de a China representar menos de 3% das vendas globais da Walmart, cerca de 60% da mercadoria é proveniente de lá, segundo a “Reuters”.

A justificação apresentada por Trump para as tarifas, de que Pequim estaria a facilitar o envio de material para a produção de fentanil, também está a causar desagrado junto do governo chinês, que rejeita as alegações. Depois de ter publicado um relatório a detalhar as ações contra o fabrico destes químicos no início do mês, um representante do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim encontrou-se com jornalistas esta semana para reforçar que não cederão a “chantagens”.

“Infelizmente, os EUA não apreciam a nossa simpatia. Pelo contrário, estão a usar o assunto do fentanil para espalhar mentiras e difamar a China, fugindo à responsabilidade”, afirmou o responsável chinês citado pela “Reuters”, avisando que tal “mina o diálogo e cooperação entre os dois países”. “Opomo-nos firmemente à pressão, ameaça e chantagem dos EUA usando o fentanil como pretexto”, completou.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.