O mercado tem estado animado no que às emissões preferenciais emitidas pelos bancos portugueses diz respeito.
Até agora, emitiram este tipo de dívida, o Crédito Agrícola, o Banco Montepio, o Novobanco, o BCP e a Caixa Geral de Depósitos. Ao todo o valor destas emissões de dívida sénior preferencial ascende até agora a 2,15 mil milhões de euros.
A dívida sénior preferencial é um tipo de obrigação financeira com prioridade no pagamento em caso de falência, sendo ressarcida antes de outros tipos de dívidas e obrigações subordinadas. Estas obrigações têm um risco menor e são por isso mais procuradas por investidores, que as consideram seguras, o que permite que as empresas captem financiamento em melhores condições. Em caso de insolvência da empresa, os detentores de dívida sénior preferencial recebem os seus fundos antes dos detentores de dívidas júnior ou subordinadas, garantindo uma maior segurança para o investidor.
Os bancos e outras instituições financeiras emitem estes títulos para captar fundos, fortalecendo a sua base de capital e, muitas vezes, cumprindo requisitos regulamentares como o MREL (Minimum Requirements for Own Funds and Eligible Liabilities), o que melhora a sua estrutura de passivos.
Estas emissões não contam para capital mas apenas para responder a requisitos de liquidez.
Até agora a CGD fez a emissão com melhor pricing.
O Novobanco inaugurou o mercado destas emissões este ano, quando a 15 de janeiro emitiu dívida sénior preferencial no valor de 500 milhões de euros, com maturidade a 22 de janeiro de 2031 e opção de reembolso antecipado pelo banco a 22 de janeiro de 2030 (5 anos). Estas obrigações foram subscritas a 99,589%, com cupão fixo de 3,375% nos primeiros 5 anos, passando a variável (Euribor 3 meses acrescido de um spread de 105 pb).
A emissão do Novobanco foi colocada junto de investidores institucionais internacionais, despertando interesse de mais de 100 investidores e compreendeu uma base de investidores geograficamente diversificada, incluindo Reino Unido (21%), Itália (20%), Ibéria (18%), França (18%) e Nórdicos (11%). A emissão foi maioritariamente colocada junto de investidores de referência, incluindo gestoras de ativos (47%) e bancos e bancos centrais (30%), anunciou o banco na altura.
Seguiu-se a 22 de janeiro o Grupo Crédito Agrícola, que, através da Caixa Central – Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo, emitiu dívida no mercado internacional sob a forma de títulos representativos de dívida sénior preferencial ligados à Sustentabilidade Social.
A emissão, no montante de 300 milhões de euros, realizada ao abrigo do Programa EMTN de 2 mil milhões de euros tem uma maturidade de 5 anos, até Janeiro de 2030, com opção de reembolso antecipado no quarto ano e um preço de emissão de 99,686%, com uma taxa de cupão anual de 3,625% nos primeiros 4 anos, passando posteriormente a taxa variável (Euribor 3 meses, acrescida de um spread de 135 pontos base).
No começo do Verão, mais precisamente a 16 de junho, foi a vez do BCP fazer uma emissão de títulos de dívida sénior preferencial elegível para MREL no valor de 500 milhões de euros ao abrigo do seu Euro Note Programme.
Esta emissão tem um prazo de 6 anos, com opção de reembolso antecipado pelo BCP no final do 5º ano, um preço de emissão de 99,631% e uma taxa de juro fixa de 3,125% ao ano, durante os primeiros 5 anos (correspondente a um spread de 0,95% sobre a taxa midswap de 5 anos). No 6º ano, a taxa de juro resultará da soma da Euribor a 3 meses com um spread de 0,95%.
A emissão do banco liderado por Miguel Maya foi feita no mercado internacional e numa base muito diversificada de investidores institucionais, sobretudo, em fundos de investimento, bancos e fundos de pensões, tal como revelou na altura o banco.
Depois foi a vez do Banco Montepio. No dia a seguir, 17 de junho, o banco da associação mutualista Montepio Geral fez uma emissão de dívida sénior preferencial elegível para MREL, no montante de 350 milhões de euros.
A emissão, com maturidade de 4 anos e opção de reembolso antecipado no final do 3.º ano, foi lançada com um preço de emissão de 99,877% e um cupão fixo de 3,5% ao ano nos primeiros três anos. Nas condições está previsto que caso não seja exercida a opção de reembolso antecipado, a taxa para o último ano será indexada à Euribor a 3 meses acrescida de um spread de 1,48%.
O banco liderado por Pedro Leitão, revelou que foram alocadas ordens a mais de 130 investidores institucionais, com destaque para geografias como o Reino Unido e Irlanda (22%), França (21%), Península Ibérica (20%), Itália (17%) e Benelux (11%). O Banco Montepio salientou então que “a taxa de cupão da nova emissão (3,5%) foi 6,5 pontos percentuais abaixo da taxa da obrigação comparável emitida em outubro de 2023 (10,0%), o que reflete, essencialmente, a melhoria do perfil de crédito do banco, também traduzida na subida do rating atribuído pelas agências de notação de risco”.
Por fim a CGD realizou no passado dia 30 de setembro uma emissão “verde” de dívida sénior preferencial, no montante de 500 milhões de euros, com o prazo de 6 anos e a possibilidade de reembolso antecipado ao fim de 5 anos.
O spread fixado foi de 65 bps, o mais baixo para uma emissão sénior preferencial da Caixa, correspondendo a um cupão de 3%.
“Este preço representa uma redução do custo de financiamento superior a 275 p.b. face à última emissão desta natureza”, explicou o banco liderado por Paulo Macedo.
Esta emissão da CGD compara favoravelmente com as outras emissões de bancos portugueses de dívida sénior preferencial realizadas em 2025.
Portanto, resumindo, o spread da CGD foi de 0,65%, quando o do BCP foi de 0,95%, o do Novobanco 1,05%, o do Crédito Agrícola de 1,35% e o do Montepio de 1,48%.
Escusado será dizer que o spread equivale ao prémio de risco, e quanto maior o spread mais risco.
Nem o BPI, nem o Santander Totta realizaram este ano emissões de dívida sénior preferencial elegível para MREL. O BPI e o Santander fizeram emissões sim, mas de Obrigações Cobertas.
A emissão da CGD foi colocada exclusivamente junto de investidores institucionais. Na distribuição geográfica da colocação junto dos investidores destacaram-se França (29%), Península Ibérica (28%), Alemanha, Áustria e Suíça (18%), Benelux (12%) e Reino Unido e Irlanda (10%). Por tipo de investidores salientam-se os fundos de investimento, seguradoras e fundos de pensões que tomaram, conjuntamente, cerca de 73% do total da emissão.
Esta foi a sua terceira emissão “Verde” de dívida sénior preferencial, atraindo o interesse de investidores ESG que representaram aproximadamente 72% da alocação da emissão. Cerca de 63% destes são considerados “Dark Green”, i.e., são os mais exigentes em termos de critérios ambientais e éticos, segundo a Caixa.
Esta nova emissão foi a quarta com características ESG realizada pela Caixa desde 2021, quando se tornou no primeiro banco português a emitir uma obrigação sustentável. O total emitido desde então é de 1,8 mil milhões de euros.
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