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CIP: “Sindicatos estão a confundir a sua existência com os interesses dos trabalhadores”

CIP diz que greve geral é “infundada” e garante que ainda há espaço para o diálogo, mas não para a “chantagem”. Armindo Monteiro defende regresso do banco de horas individual e diz que se a medida fosse referendada, “passava”.
14 Novembro 2025, 07h42

O presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) diz estar “perplexo” com o anúncio da greve geral de 11 de dezembro. Armindo Monteiro considera-a “extemporânea” e “completamente infundada” – porque o pacote laboral ainda está a ser negociado na concertação social – e acusa as duas centrais sindicais de “estarem a confundir a sua própria existência com os interesses dos trabalhadores”.
“Normalmente, uma greve marca-se quando não há hipóteses de diálogo ou quando há pontos inconciliáveis”, afirma o presidente da CIP em declarações ao Jornal Económico (JE), assegurando que não é esse o caso na discussão das leis laborais. “Não vi nenhum ponto inconciliável, porque não conheço nenhuma proposta das centrais sindicais que não seja deixar tudo na mesma”, afirma Armindo Monteiro.
O presidente da CIP lamenta que, ao avançarem para uma greve geral, CGTP e UGT estejam a “prejudicar” aquele que devia ser o principal foco: como construir soluções para aumentar os salários em 20% e o salário mínimo para 1000 euros. “Ainda não percebi o que é que os sindicatos querem”, reforça.
As duas estruturas sindicais têm sido muito críticas do anteprojeto para a reforma laboral, considerando-o um “assalto aos direitos dos trabalhadores” e um “retrocesso civilizacional”. Armindo Monteiro pergunta: “Mas onde?”, e critica a linguagem “hiperbólica” que tem sido usada para classificar as propostas do Governo, sem razão.
O regresso ao banco de horas individual, que foi revogado em 2019, tem sido um dos pontos de maior fricção. A UGT rejeita a proposta porque entende “fragiliza” o trabalhador. ACIP questiona: “Como? Se só é possível com o acordo do trabalhador?” Armindo Monteiro sustenta que a medida permite uma maior conciliação entre o trabalho e a vida familiar e critica que os sindicatos aceitem o banco de horas se for negociado coletivamente, mas rejeitem que “o trabalhador tenha o poder individual de negociar conforme lhe aprouver”.
Isso traduz uma “tentação menorizar o trabalhador” e “a ideia de que só os sindicatos é que são intérpretes da sua vontade”, acrescenta Armindo Monteiro. O responsável acusa a CGTP e a UGT de estarem “a confundir a sua própria existência, os seus próprios interesses, com os interesses dos trabalhadores, o que não é justo”, e sugere que os sindicatos deviam fazer uma “reflexão” sobre o que é hoje a relação laboral. “Talvez ficassem surpreendidos.”
O presidente da CIP diz, aliás, estar certo que se o banco de horas individual fosse referendado, seria aprovado. Porque a realidade laboral não é a mesma de há 50 anos. “Hoje os trabalhadores considerados individualmente têm poder negocial. Estamos em pleno emprego. É uma falácia achar-se que o trabalhador é menorizado”, argumenta,
Armindo Monteiro admite que há áreas, onde o trabalho é menos qualificado, em que o poder negocial está do lado de quem emprega, mas o inverso também acontece. “Quando estamos a falar de competências qualificadas, o poder está do lado dos trabalhadores. É altura de falar verdade”.
O presidente da CIP alerta para as consequências negativas de uma greve geral na economia e apela à “serenidade” e “sentido de responsabilidade”. Garante também que ainda “há espaço para o diálogo” na concertação social mas não para a “chantagem”. “Nunca se conseguiram compromissos na rua e não é agora que se vão conseguir. Na rua só se consegue ruído e afastar as partes”, avisa Armindo Monteiro.
Também muito crítica da decisão dos sindicatos, a Confederação do Turismo de Portugal (CTP) disse não ser “razoável paralisar o país” e alertou para os seus efeitos na economia. “Uma greve geral nesta fase transmite uma mensagem de instabilidade e prejudica a confiança dos investidores, dos trabalhadores e dos visitantes internacionais”, apontou Francisco Calheiros.


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