Tem suscitado preocupação por ser o responsável por um aumento das infeções no norte da China nas últimas semanas, mas não se pode dizer que estamos perante um novo vírus. Muito pelo contrário. O metapneumovírus (HMPV) é um vírus respiratório sazonal que está, provavelmente, em circulação há mais de 50 anos. Foi isolado pela primeira vez em 2001, em crianças, na Holanda, explica o pneumologista Filipe Froes ao Jornal Económico, que acrescenta tratar-se de um vírus muito parecido ao sincicial respiratório (VSR), que, geralmente, acontece a seguir a este.
Estima-se que este seja o segundo vírus mais frequente a condicionar doença respiratória nas crianças, a seguir ao VSR. Além das crianças, vai ocasionando alguns casos na população mais adulta, mas as situações mais graves acontecem no outro extremo de idade – pessoas com mais de 65 anos, com doenças crónicas, sobretudo imunocomprometidas.
Filipe Froes é perentório: “Não há motivos de preocupação porque o alarme e o pânico nunca ajudaram a resolver nenhuma crise. Há motivos para se saber mais. Isto é, saber se este vírus que foi identificado na China é um metapneumovírus idêntico aos outros que estamos habituados a lidar, embora diagnostiquemos praticamente nada. Só em estudos laboratoriais é que se identificam. Precisamos de saber se houve alguma mutação ou se está mais próximo dos parentes que tem, o metapneumovírus aviário.”
O risco de este vírus vir a originar uma pandemia é, segundo o pneumologista, muito menor quando comparado com o SAR-CoV-2 ou ovírus da Influenza. Em todo o caso, alerta, a componente pandémica depende muito da resposta humana. “Felizmente, temos entidades e organismos oficiais que zelam pela vigilância e pela preparação. Diria que o risco [de causar uma pandemia] é praticamente nulo. A Europa, onde Portugal se inclui, está a fazer o trabalho necessário. Durante a pandemia, estas redes de vigilância melhoraram imenso.”
A máxima “só se encontra aquilo que se procura” é a resposta correta. Circulando o vírus há meio século, é certo que existem casos em Portugal e é provável que já tenhamos lidado com o vírus em algum momento da vida, sem que tenha sido diagnosticado. No entanto, segundo o pneumologista Filipe Froes, os “suspeitos do costume” – os vírus com maior prevalência nesta fase do ano – continuam a ser os mesmos. “Estamos a assistir a um aumento crescente da atividade gripal, temos um vírus sincicial respiratório que já iniciou a sua atividade e, provavelmente, virá depois o SARS-CoV-2, responsável pela covid-19. O que temos agora, provavelmente, é a capacidade de identificar mais um vírus, que já dava doença, mas que pensávamos ser atribuída a outros vírus.”
Os sintomas de uma infeção causada pelo metapneumovírus humano não se distinguem dos originados por outros vírus respiratórios. Ou seja, como qualquer outra infeção respiratória, os sintomas ligeiros associados podem ser febre, tosse, dor de garganta, congestão nasal, vómitos, náuseas e diarreia. Nos casos mais graves, pode resultar em dificuldade respiratória, respiração ofegante e pieira, fadiga, bronquiolite e pneumonia.
Mais uma vez, como nos restantes vírus respiratórios, o metapneumovírus é transmitido através do contacto com pessoas infetadas ou superfícies contaminadas com gotículas (que se disseminam, nomeadamente, através de espirros e tosse). O período de incubação varia entre três a seis dias.
Não existindo nenhum medicamento específico ou cura para a infeção causada pelo metapneumovírus, o tratamento passa por combater os sintomas da doença com anti-inflamatórios e analgésicos. Em situações mais graves, pode ser necessário a hospitalização e o tratamento pode incluir oxigenoterapia, administração de soros por via intravenosa e corticoides.
Vai haver uma vacina, como também já há para o vírus sincicial respiratório?
Ainda não existe uma vacina para o metapneumovírus, mas, segundo o pneumologista Filipe Froes, em breve haverá.
Basicamente, devemos colocar em prática tudo o que aprendemos especialmente durante a pandemia e que é válido para qualquer infeção respiratória. Quem está doente e tem queixas respiratórias deve usar máscara para evitar a transmissão na comunidade; deve evitar aglomerados; deve evitar ir trabalhar e fomentar o teletrabalho e deve ter uma estrita obediência à etiqueta respiratória e à higiene das mãos. Estas medidas, frisa Filipe Froes, são “extremamente úteis” na prevenção da doença grave, sobretudo dos mais fragilizados.
Filipe Froes sublinha que a China tem uma grande capacidade de medidas de controlo de infeção e tem, neste momento, uma infraestrutura tecnológica que lhes permite rapidamente identificar os microrganismos. “O problema da China pode ter a ver com a transmissão da informação e partilha de dados com a comunidade científica”, atira.
Ao Jornal Económico, o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Bernardo Gomes, acentua o mesmo ponto: “Aquilo que aconteceu previamente com a libertação de informação na covid-19 e o comportamento das autoridades chinesas deixa as pessoas a nível internacional um bocadinho de pé atrás”, diz o responsável, assinalando, no entanto, que a informação avançada por peritos internacionais e até por países vizinhos da China parece indicar que “não há motivos de preocupação alargada”.
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