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‘Clickbait’ tem os dias contados?

Zuckerberg vai alterar algoritmo que escolhe conteúdos do feed do Facebook, passando as notícias para segundo plano. Decisão tem impacto nas linhas editoriais e no negócio dos media.
  • Toby Melville/Reuters
25 Janeiro 2018, 07h20

O Facebook cancelou o pedido de amizade que tinha feito aos meios de comunicação social do mundo inteiro e promete focar-se nas pessoas – familiares e amigos –, mas a indústria vê a medida como um paradoxo. Através de um post que parece resultar de uma promessa feita a acompanhar uma das 12 passas do réveillon, Mark Zuckerberg anunciou que iria mudar o EdgeRank, algoritmo que escolhe os conteúdos do feed, passando para segundo plano as atualizações feitas por marcas ou com notícias.

Esta alteração é relevante para o setor da comunicação social, dado que nos últimos anos a maioria dos grupos de media tem apostado nas redes sociais como forma de atrair tráfego para os seus sites, de modo a aumentar as receitas publicitárias. Uma tendência que teve consequências a nível editorial, levando à proliferação de notícias sensacionalistas e com baixo valor acrescentado, bem como do chamado clickbait, que são artigos com títulos enganosos.

Em declarações ao Jornal Económico, José Carlos Lourenço, Chief Operating Officer (COO) da Global Media, disse que o Facebook não é o único culpado pelo clickbait, mas admite que a mudança no algoritmo “poderá reduzir as motivações que tinham como único estímulo a dispersão fácil de conteúdos de reduzida qualidade”. Apesar de esta rede social ser a que melhores resultados gera no grupo dono do “JN” e do “DN”, José Carlos Lourenço não prevê mudanças significativas na estratégia digital da Global Media.

O COO diz que a reforma obrigará a uma distribuição dos conteúdos mais competente e inovadora, e “acabará por permitir a quem tenha know-how continuar a tirar o melhor partido deste ponto de contacto com as audiências”.
“Não creio que o Facebook tenha interesse em retirar os bons conteúdos, incluindo os de informação. Iria empobrecer a experiência do utilizador, e essa terá sido a motivação que esteve na base destas mudanças”, defendeu.
Eduardo Cintra Torres, professor universitário, julga que esta decisão do Facebook pode reduzir o chamado clickbait e ser, ao mesmo tempo, negativo para os cidadãos, a quem deram informação e agora tiram.

“Há muitos consumidores que não procuram, consomem aquilo que lhes aparece”, afirmou, sublinhando que os gigantes das tecnologias já têm feito “mal aos media do ponto de vista financeiro”. O crítico de televisão descarta a hipótese de ser uma forma de pôr fim às notícias falsas: “Onde é que estão? Vejo o Facebook todos os dias e é raro vê-las”, defende.

Mafalda Anjos esteve na sede do Facebook, em Menlo Park, e ficou com a certeza de que o todo-poderoso CEO quer “ligar e conquistar o mundo”. A diretora da Visão acredita que a tecnológica lançou um “balde de água fria” de Silicon Valley para os milhões de utilizadores e pode estar prestes a estimular fake news.

“O que mais me aflige é o impacto devastador que tem na cabeça das pessoas. Hoje em dia, é nas redes sociais que uma parte esmagadora da população mundial passa grande parte do seu tempo, se cultiva e informa”, disse ao Jornal Económico a publisher da Trust in News, na semana em que o Facebook decidiu investigar as interferências russas no referendo para o Brexit. A seu ver, é uma “reviravolta” da rede social, que “andou a namorar com os grupos de media, oferecendo a promessa de partilha de receitas com a criação do newsfeed, os instant articles e os diretos”, mas que agora lhes puxou o tapete.

Entrevista publicada na íntegra edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão

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