[weglot_switcher]

Com investidores focados em ativos de refúgio, Portugal não deverá renovar mínimos no leilão de hoje

Tesouro realiza um leilão duplo de Obrigações do Tesouro a cinco e dez anos, com o objetivo de angariar até 1.250 milhões de euros. Analistas antecipam que tempestade nos mercados poderá não beneficiar a procura face ao último leilão comparável.
Cristina Bernardo
11 Março 2020, 07h50

Numa semana marcada pela volatilidade nos mercados financeiros, Portugal tenta esta quarta-feira angariar até 1.250 milhões de euros em dívida a longo prazo. Apesar das baixas taxas de juro da dívida portuguesa a dez anos no mercado secundário, os analistas antecipam que Portugal não deverá renovar mínimos históricos no custo de financiamento nessa maturidade e que o apetite dos investidores diminua ligeiramente face ao último leilão

O IGCP – Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública realiza um leilão duplo de Obrigações do Tesouro (OT) a cinco e dez anos, com um montante indicativo global entre mil milhões de euros e 1.250 milhões de euros. No último leilão comparável, em novembro, Portugal emitiu 970 milhões de euros em OT a 10 anos, tendo pago uma taxa de alocação de 0,333% – ligeiramente acima do leilão de setembro -, tendo a procura superado a oferta em 1,63 vezes.

“O leilão deverá decorrer de forma normal e Portugal deverá conseguir colocar a dívida sem problemas com taxas em linha com o praticado no mercado secundário. Essas taxas são atualmente um pouco mais altas do que as que se praticavam na semana passada, mas ainda assim muito baixas”, antecipa Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros.

Já o analista sénior da ActivTrades Ricardo Evangelista antevê ser “muito pouco provável” que Portugal registe um novo mínimo no custo de financiamento e destaca que a mudança de sentimento no mercado, atualmente de aversão ao risco, levou ao aumento da procura de ativos de refúgio, pelo que será de “esperar uma diminuição da procura no leilão com a correspondente subida nos juros”.

Juros da dívida portuguesa em contra-ciclo com os da Alemanha

Ricardo Evangelista sustenta que o aumento da procura de atuvos refúgio como as dívidas soberanas dos Estados Unidos e da Alemanha, levou a uma queda das yields destes títulos para mínimos históricos nos mercados secundários, enquanto “os juros da dívida portuguesa, tal como os da Espanha, Grécia e Itália, seguiram o caminho inverso e subiram”.

“O aumento de procura da dívida portuguesa, que aconteceu até há poucas semanas atrás, tendo gerado uma queda gradual dos juros, aconteceu num momento de grande apetite pelo risco, com muitos investidores ávidos por remuneração e dispostos a procurá-la em ativos de maior risco”, acrescentou.

No mercado secundário, as yields na Alemanha e nos Estados Unidos têm registado novos mínimos. Esta terça-feira, os juros da dívida alemã a dez negociavam nos -0,784%, enquanto no mesmo prazo nos Estados Unidos subiam para 0,665%. Já os juros da dívida portuguesa negociavam 0,484%.

“O que vemos da experiência de Itália é quo spread face à Alemanha alargou significativamente nas duas últimas semanas, de cerca de 135 pontos para 225 pontos”, explica Filipe Garcia. “No caso de Portugal também se notou esse alargamento, no caso em concreto desde a zona dos 55-60 pontos para 120-125 pontos, estando a aliviar ligeiramente [esta terça-feira]”, acrescentou.

Esta é a primeira emissão de dívida do ano com este prazo, mas o Tesouro, a 12 de fevereiro, emitiu 1.227 milhões de euros num leilão de OT a seis e 14 anos. No primeiro leilão duplo deste ano, o IGCP pagou uma taxa negativa (-0,057%) para emitir 564 milhões em dívida com prazo em julho de 2026, enquanto na dívida a 14 anos anos, o Tesouro pagou uma taxa de 0,555% para colocar 663 milhões de euros, face à yield de 0,49% num leilão em outubro de 2019.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.