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Comercializadoras avisam que é “inevitável” aumento do preço do gás se continuar a subir nos mercados

“O Governo tem ainda ao seu dispor alguns instrumentos que pode utilizar para atenuar um aumento do preço do gás (e até da eletricidade), nomeadamente através da política fiscal”, disse o líder da Acemel.
25 Fevereiro 2022, 17h39

A subida dos preços do gás natural nos mercados internacionais vai ter impactos na fatura dos consumidores nacionais, avisam as empresas comercializadoras de energia em Portugal.

“Um conflito militar que provoca instabilidade e incerteza em países que são responsáveis por cerca de 40% de fornecimento de gás à Europa, tem obviamente impacto no preço do gás natural em toda a Europa, e os mercados internacionais já estão a refletir esse facto com subidas expressivas de preço nos últimos dias”, começa por dizer ao JE o líder da Acemel.

“Quanto ao caso português, o aumento do preço do gás será inevitável, mas o valor desse aumento não é possível antecipar sem percebermos qual a profundidade e a duração do conflito militar. O Governo tem ainda ao seu dispor alguns instrumentos que pode utilizar para atenuar um aumento do preço do gás (e até da eletricidade), nomeadamente através da política fiscal”, avisa Ricardo Nunes.

O gás natural está hoje a descer 31% para 92,5 euros por megawatt hora. Mas na quinta-feira, o primeiro dia da invasão russa da Ucrânia, disparou 61,996% para 144,00 euros no mercado holandês TTF, a referência para a Europa.

Ricardo Nunes estaca que nos últimos meses, “mesmo antes desta guerra, os preços já estavam em valores recorde e fruto de várias restrições de fornecimento e do atraso na operacionalização do NordStream2. O défice de fornecimento tem sido substituído por navios-tanque de gás natural liquefeito (LNG) americanos”.

E deixa críticas aos europeus por manterem a dependência ao gás russo. “A Europa deveria ter antecipado esta relação de dependência energética com a Rússia, e tem agora de, no curto prazo,  procurar novos parceiros e desenvolver as interligações entre os diferentes países europeus para termos um mercado único europeu consistente. Simultaneamente deve continuar a desenvolver novas tecnologias como o hidrogénio no médio e longo prazo”.

Ao mesmo tempo, também alerta que a subida do preço do gás natural, vai ter impactos no mercado  ibérico grossista de eletricidade. “O mercado ibérico de eletricidade, sendo um mercado marginalista como na maioria dos países desenvolvidos, tem a tecnologia de produção mais cara a marcar o preço para toda a curva. Nos últimos seis meses têm sido os ciclos combinados de gás natural e a produção hídricas a marcar o preço”.

“Portanto, é natural que um preço mais alto de gás natural provoque aumentos também no preço spot de eletricidade. Sobre o impacto na fatura dos portugueses vai depender uma vez mais da dimensão da subida do preço do gás natural, de que tipo de tarifas de eletricidade as pessoas contratualizaram (fixa, variável, mista), e do momento e da maturidade da contratação do seu fornecedor. A tendência é de subida mas não será igual para todos os consumidores”, avisa Ricardo Nunes.

Se Putin fechar a torneira, Portugal não vai ficar sem gás natural, disse o Governo português na quinta-feira, que também destacou que o país tem reservas petrolíferas suficientes para 90 dias.

“No contexto nacional, em 2021, somente 10% das importações de GN são provenientes da Rússia, pelo que não se antevê que uma potencial interrupção do fornecimento por parte da Rússia represente uma disrupção no fornecimento de GN a Portugal”, começa por dizer o ministério do Ambiente e da Ação Climáticas (MAAC) em comunicado.

“Portugal vive hoje num cenário de uma maior diversificação de origens do GN que importa e, sendo o mercado de GN global, existem diversos fornecedores que poderão representar uma alternativa segura e viável ao GN vindo da Rússia”, acrescenta.

Entre os nove países a quem Portugal comprou gás natural em 2020, a Rússia ocupa a última posição, pesando apenas quase 7% no total de gás natural importado: 5,748 milhões de metros cúbicos normais (Nm3).

A Nigéria lidera este ranking (pesa 54%) com 3,1 milhões de Nm3, seguida dos Estados Unidos da América (16%) com 917 mil Nm3 e da Argélia com 522 mil, segundo os dados de 2020 da Direção-Geral de Energia (DGEG). O gás chega da Nigéria, Estados Unidos e Rússia através de navios metaneiros, é transformado em liquido para ser transportado – gás natural liquefeito (GNL) -, sendo devolvido ao estado gasoso quando chega ao país, através do porto de Sines. Portugal importou assim em 2020 68.129 Gigawatts hora de gás natural no valor total de 1,02 mil milhões de euros.

Por sua vez, as reservas nacionais de gás encontram-se atualmente nos 81,55% (quantidade de gás/face à capacidade de armazenamento), num total de 2,9155 terawatt-hora (TWh), de uma capacidade total de 3,57 TWh, segundo os dados da Plataforma de Transparência GSE (AGSI+).

O país conta mesmo com as reservas mais altas, em percentagem, entre os 18 países europeus com armazenamento de gás. Segue-se a Suécia (66%), Espanha e Polónia (58% cada). Na União Europeia, a média ronda os 30%, com a Áustria na última posição: 18%.

 

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