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Comércio automóvel quer flexibilidade fiscal para diferir pagamentos do IUC

O setor do comércio automóvel diz que já tem 50% das visitas de clientes, mas precisa de maiores estímulos para o abate de viaturas em fim de vida, referem os participantes no ’30 a 3′ promovido pelo Montepio Crédito em parceria com o Jornal Económico. O setor considera que é preciso aumentar a confiança do cliente para relançar as vendas de automóveis.
25 Maio 2020, 16h27

O sector do comércio automóvel adaptou-se à transformação digital durante o período do confinamento e admite que 50% das visitas de clientes já regressaram. Agora, precisa de aumentar os incentivos ao abate e pretendem ter maior flexibilidade fiscal, sobretudo para poderem diferir os pagamentos do IUC das viaturas que têm em parques, destinadas a serem vendidas. Estes foram alguns dos temas debatidos no ’30 a 3’ que esta segunda-feira, 25 de maio, abordou o ‘Desafio Económico do Retalho Automóvel’ – entre as 11h00 e as 12h00 – promovido pelo Montepio Crédito (MC) e pelo Jornal Económico e transmitido pelo Facebook do MC. Contou com a participação de Pedro Gouveia Alves, presidente do Montepio Crédito, Nuno Silva, presidente da APDCA – Associação Portuguesa do Comércio Automóvel, António Coutinho, presidente executivo do grupo M. Coutinho, Nuno Grosa, presidente conselho de administração da Benecar e de Armando Cardoso, diretor comercial automóvel do MC, num debate moderado pelo diretor adjunto do Jornal Económico, Shrikesh Laxmidas.

Segundo Nuno Grosa, presidente da Benecar, no mês de abril o sector do comércio automóvel viveu num “cenário complicadíssimo”. “Foi um pouco às cegas, sem saber o que fazer, porque ninguém estava preparado para o que aconteceu, e em que o índice de confiança dos portugueses foi muito abalado”, comentou. O retalho automóvel teve de se adaptar rapidamente ao teletrabalho, transformando-se numa “realidade que vamos de ter de gerir para vivermos com ela”.

Armando Cardoso, diretor comercial automóvel do Montepio Crédito (MC), explicou que, “fazendo parte desta cadeia de valor, que começa no cliente e passa pelos parceiros do retalho automóvel”, o MC sabe, naturalmente, que toda a atividade “sofreu a jusante tudo aquilo que a realidade dos nossos parceiros viveram” durante todo o tempo do confinamento.

“O principal fator de choque que nós sentimos – na gestão financeira do crédito que opera no sector automóvel em Portugal – relaciona-se com as alterações ao nosso ADN, que é algo que cultivamos e nos é muito querido, e que é a proximidade”, comentou Armando Cardoso.

“O afastamento total dos clientes criou-nos um desafio grande”, refere Armando Cardoso, explicando que “em 16 de março as estruturas comerciais entraram em teletrabalho”, pois a liderança da instituição financeira “teve a capacidade de colocar todos os funcionários em teletrabalho”.

Isso “fez-nos acelerar o processo de transformação digital, implicando a adaptação, a flexibilidade e a rapidez para acelerarmos as mudanças, porque, a jusante, do processo de venda de veículos, fomos confrontados com o afastamento em relação ao cliente, quando até 15 de março estávamos habituados a aparecer, ou seja, não tivemos uma transição. Tudo aconteceu de um dia para o outro”, refere Armando Cardoso, adiantando que, por isso, toda a atividade do MC se adaptou à nova realidade, confirmando que “o MC é feito por profissionais resilientes”.

No mercado automóvel foi sentida “uma redução abrupta das vendas no universo dos veículos novos. Nos usados a redução não foi tão significativa. Mas o fator de choque do ponto de vista comercial foi o afastamento”, sublinha Armando Cardoso. Em termos práticos houve uma “boa continuidade dentro das limitações” e agora o mercado automóvel já vive “alguma retoma, mas com muita lentidão”, diz. Para esta nova fase de relançamento gradual da atividade, Armando Cardoso recorda que a Associação Automóvel de Portugal – ACAP instituiu um selo de estabelecimento seguro que permite criar confiança junto dos potenciais compradores de viaturas, atestando a conformidade das redes de comércio automóvel com as normas de segurança que têm de ser seguidas para evitar os riscos da Covid-19. “Estamos com força e otimismo, para que os clientes possam voltar a consumir”, refere Armando Cardoso.

Nuno Silva, presidente da Associação Portuguesa do Comércio Automóvel – APDCA admite que no sector do comércio automóvel “todos nós vamos querer recuperar estes meses de confinamento”, considerando que “para recuperar a confiança será importante a perspetiva da utilização do automóvel como meio de transporte particular”. “Há sempre a opção de tentar comprar um usado porque é uma alternativa mais económica”, atendendo a que, perante os condicionalismos económicos de uma crise, “uma viatura usada é sempre mais barata que uma viatura nova”. Mas o mercado tem de funcionar em todos os segmentos. “Para haver usados é preciso vender viaturas novas”, refere, reconhecendo que “também é relevante para a retoma a implementação de processos digitais nas vendas” e que “a banca deve garantir um apoio ao sector”. Alertou ainda para a necessidade das empresas terem de “continuar a garantir o protocolo de segurança para mitigar uma segunda paragem” e do Estado aceitar proporcionar “algum alívio fiscal” porque o sector automóvel é um dos que já é objeto de uma “carga exagerada de impostos”. Esse alívio fiscal poderia ser eventualmente conseguido com alteração das normas e prazos que incidem sobre o “pagamento do IUC relativo às viaturas em stock”. Nuno Silva destacou ainda o “espirito de cooperação das empresas do retalho automóvel associadas da APDCA”, acreditando no sucesso do “esforço que está a ser realizado por todos nós – porque os portugueses são voltados para este tipo de desafio”.

António Coutinho, presidente do Grupo M. Coutinho e vice-presidente da ACAP considera que na resposta à atual conjuntura de mercado, “o protocolo sanitário é uma ferramenta importante para dar confiança aos nossos clientes”, reconhecendo que “foi vital para o sector estar aberto no início de maio, mas sem o protocolo sanitário não teríamos conseguido”. A confiança do consumidor tem de ser reconquistada e para isso “é muito importante o selo de estabelecimento seguro, bem como as auditorias para constatar se as normas estão a ser cumpridas”. O presidente do Grupo M. Coutinho revelou que a ACAP tem reunido com o Governo, debatendo o Plano de Apoio ao Sector Automóvel (PASA) adequado à atual situação de mercado – tal como também fez em 2009 –, e sublinhou a relevância do regime do layoff simplificado na atual conjuntura, e a necessidade de repor a tesouraria das empresas de comércio automóvel, atendendo a que “as linhas de apoio financeiro apresentadas ao sector automóvel estão esgotadas”.

De igual forma, os programas de abate aos veículos em fim de vida são um importante instrumento para revitalizar a compra e venda de automóveis, refere António Coutinho, defendendo que este incentivo permaneça em bom andamento para promover o abate em veículos em fim de vida, alavancar a atividade no mercado e renovar o parque automóvel, o que traria igualmente benefícios ambientais. O presidente do Grupo M. Coutinho acredita que o Governo vai dar atenção às propostas apresentadas pelo sector auto, porque é um dos maiores geradores de receitas fiscais – sendo igualmente um grande empregador – para aumentar o ritmo de retoma deste sector na economia nacional, que já deu mostras de saber aderir rapidamente a processos digitais. O comércio automóvel orienta-se “sempre pela manutenção da qualidade nos serviços”, que seguem o objetivo de serem “mais ágeis, mais flexíveis, de forma a mostrar ao mundo” – e aos seus clientes – que cumprem a “responsabilidade social”. Para António Coutinho, agora o mais importante será “não voltar a ter uma recaída, para não termos os efeitos negativos de uma segunda vaga da Covid-19”.

Neste sentido, Nuno Grosa considera que “a confiança já está a subir” porque “já não tem nada a ver com os tempos que passámos”, e isso conseguiu-se através de uma “presença forte no digital”. O presidente da Benecar referiu que “50% das visitas estão restabelecidas”, admitindo que “as pessoas aprenderam a viver com este vírus, e já começaram a sair respeitando as medidas anunciadas pela DGS”. O desenvolvimento da atividade do turismo, o relançamento dos voos regulares das linhas aéreas e a abertura da restauração serão decisivos para a retoma da confiança dos consumidores, adianta Nuno Grosa, que considera ser muito importante que o Estado apoie estas empresas com medidas de estímulo, sobretudo no setor do rent-a-car. Nuno Grosa acredita que as vendas de automóveis serão retomadas “o mais rapidamente possível”, porque – diz – “os portugueses dão boas respostas”. Para isso também é relevante o papel das financeiras, entre o qual “o apoio do MC é importantíssimo”, refere, considerando que mantém uma relação “correta com as empresas do retalho automóvel”. “Estamos todos no bom caminho”, adianta o presidente da Benecar, deixando “uma palavra de otimismo a todos os comerciantes”.

Armando Cardoso concorda e sublinha que “estamos no bom caminho para uma retoma rápida”. No entanto, refere que “não controlamos o comportamento dos consumidores”, desconhecendo “em que ponto é que os consumidores e todos nós nos vamos encontrar”. O diretor comercial automóvel do MC refere que, “estatisticamente, está comprovado que um cliente demora três meses entre pensar comprar um automóvel e concretizar a venda”. Mas sabe igualmente que “há um novo paradigma de negócio e novos riscos de contexto”, que – diz – “temos de saber gerir”, relativos “à atual carteira e à carteira nova”, o que implica “bom senso, razoabilidade, e poder apostar no fator de proximidade”. “Cada cliente é uma oportunidade de negócio para o nosso parceiro e para o MC”, comenta Armando Cardoso. “Já passamos por anteriores crises e hoje somos mais fortes e saberemos lidar de forma adequada com todos esses fatores de risco”, refere, considerando que “o otimismo tem de estar em cima da mesa, porque o novo normal encerra receios e oportunidades, para fazermos as mesmas coisas mas de outra maneira. Para que tudo aconteça no mais breve espaço de tempo, porque ninguém pretende um segundo confinamento”, remata Armando Cardoso.

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