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Comprar casa obriga famílias a endividamento cada vez mais prolongado

Cada vez mais famílias recorrem a créditos à habitação a 30 ou mais anos para reduzir a prestação mensal, refletindo a dificuldade em comprar casa com os rendimentos atuais.
Bolha Imobiliária na China
15 Dezembro 2025, 20h15

Cada vez mais famílias em Portugal estão a recorrer a prazos de 30 ou mais anos nos créditos à habitação para conseguirem suportar a prestação mensal, num contexto marcado por preços elevados das casas e rendimentos que não acompanham o custo da habitação. A estratégia permite aliviar o encargo imediato, mas implica um endividamento prolongado e um aumento significativo do custo total do empréstimo.

Segundo o mais recente relatório de crédito habitação do ComparaJá, os novos contratos estão, em muitos casos, a ser celebrados com maturidades próximas das três décadas, uma realidade que se tem vindo a consolidar como norma para quem entra atualmente no mercado imobiliário. A combinação entre subida dos preços das casas e taxas de juro ainda relativamente elevadas tem levado as famílias a esticar os prazos como forma de encaixar a prestação no orçamento mensal.

Esta tendência é particularmente visível entre jovens e agregados em início de vida ativa, para quem um empréstimo a 30 ou 35 anos deixou de ser uma opção e passou a ser, muitas vezes, a única via de acesso à casa própria. Especialistas alertam que este cenário aumenta a exposição das famílias a riscos futuros, sobretudo em caso de mudanças nas condições económicas ou no rendimento disponível.

Apesar de a extensão do prazo permitir reduzir a prestação em algumas dezenas de euros por mês, o esforço financeiro global mantém-se elevado. Ao longo do tempo, o valor total pago ao banco cresce de forma expressiva, obrigando muitas famílias a abdicar de outras despesas e a manter uma gestão financeira mais restritiva.

Segundo Pedro Castro, Head of Operations de Crédito Habitação no ComparaJá, esta realidade reflete um problema estrutural do mercado. “O facto de tantos portugueses estarem a recorrer a prazos de 30 ou mais anos não é uma escolha por conveniência, é um sinal claro de que o rendimento disponível não acompanha o custo da habitação. As famílias esticam o prazo porque, de outra forma, simplesmente não conseguem entrar no mercado”, afirma.

O responsável sublinha ainda a importância de uma decisão informada. “Uma prestação mais baixa hoje significa um custo total muito maior amanhã. Comparar propostas, negociar condições e rever o contrato quando o contexto de taxas de juro for mais favorável deve fazer parte da estratégia de quem assume um crédito tão longo”, conclui.


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