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Construção: Menos de metade das empresas faturam abaixo dos 20 milhões de euros por ano

Resultados do barómetro da indústria da construção em Portugal, indicam que somente 9% das empresas ultrapassam os 500 milhões de euros anuais em faturação, sendo que em relação à confiança e contexto económico nacional, 46% olham de forma negativa para as políticas aplicadas na habitação.
Reuters
11 Abril 2025, 00h01

O setor da construção em Portugal enfrenta uma crise com a falta de mão-de-obra a que se junta o interminável problema do IVA a 23%. Fatores que poderão contribuir para o facto de 43% das empresas registarem uma faturação anual inferior a 20 milhões de euros, segundo as conclusões do barómetro da indústria da construção realizado pela Fundação Mestre Casais em parceria com a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN).

O contexto económico e as políticas nacionais, a evolução do setor da indústria da construção e as práticas de inovação e sustentabilidade foram os três eixos sobre os quais participaram 46 CEO’s de empresas deste setor, cuja maioria está sediada na Região Norte (43%) e na Área Metropolitana de Lisboa (30%).

O problema da mão-de-obra faz-se sentir, já que 49% apontam a escassez de mão-de-obra qualificada como maior obstáculo, sendo que 29% referem o envelhecimento da força de trabalho. Em termos globais, 78% destas empresas contam com menos de 250 trabalhadores.

Em relação à confiança e contexto económico nacional, 46% olham de forma negativa para as políticas aplicadas na habitação, sendo que 52% consideram positivo o nível de investimento público em infraestruturas.

Questionados sobre as principais ameaças externas, 37% apontam o baixo crescimento global, enquanto as guerras são a principal preocupação de 29%, com a inflação a ser um alerta para 19% dos inquiridos.

Em termos do desempenho do setor, 70% das empresas acreditam que vão cumprir os seus objetivos em 2024 e somente 2% esperam um ano com crescimento negativo, enquanto 63% esperam crescer até 15% e 35% mais de 15%.

Entre os segmentos com maior crescimento no mercado nacional, 37% apontam para os outros edifícios, 34% para o residencial e 28% as infraestruturas. Os clientes privados são os que mais impulsionam o crescimento (45%), seguidos pelo Estado (31%) e autarquias (24%).

A nível internacional, 61% das empresas não operam fora de Portugal, sendo que aquelas que o fazem dão prioridade a África (35%), União Europeia (29%) e América Latina (11%).

Sobre as principais apostas para melhorar a produtividade, a inovação em métodos e materiais é visto por 40% dos inquiridos como a maior aposta, seguida pela formação e desenvolvimento (29%), a digitalização (20%), enquanto em I&D, 24% não investem nada, e apenas 22% investem mais de 1% da faturação.

Por fim, apenas 7% das empresas adotaram práticas de sustentabilidade de forma ampla e apesar de 20% já terem publicado relatórios de ESG, 46% ainda não têm planos concretos.

“Portugal é um país onde a indústria da construção civil continua a ser um motor económico, mas que vive um momento decisivo de transformação, para o qual necessita de mais ajuda do Estado, de forma a acelerar as sementes de inovação e sustentabilidade que o barómetro detetou e, finalmente, melhorar a produtividade e o seu valor acrescentado”, refere José Gomes Mendes, presidente-executivo da Fundação Mestre Casais e coordenador deste estudo.

Manuel Reis Campos, presidente da AICCOPN afirma que “o Barómetro reflete alguns dos problemas prevalentes no setor da construção, mas também a vontade das empresas do setor de contribuir para o crescimento económico e de conquistar novos mercados, gerando emprego e valor importantíssimo para o país”.

Por sua vez, Carlos Mota Santos, CEO da Mota-Engil, sublinha que “o setor da construção será nos próximos anos crítico para a criação de valor económico e para a afirmação de Portugal no mundo, mas nesse caminho os poderes públicos devem atuar como facilitadores na desburocratização, na atração de mão-de-obra e no apoio à inovação e à internacionalização”.

Já António Carlos Rodrigues, CEO do Grupo Casais, salienta que “a par do esforço de algumas empresas na melhoria da produtividade, introduzindo métodos construtivos industrializados, mais digitalização e mais descarbonização, os clientes públicos e privados devem estar disponíveis para adaptar as suas políticas de investimento e os seus cadernos de encargos, sob pena de um tão importante setor ficar estagnado”.

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