Num discurso que serviu para dar as boas-vindas aos milhares de participantes na COP30, de que é anfitrião, o presidente brasileiro, Lula da Silva, elencou os malefícios que, no seu entender, ‘estragam’ o mundo em que vivemos e que vamos deixar aos nossos herdeiros. “Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Atacam as instituições, a ciência e as universidades”, disse.
No início da sua intervenção, improvisada, também criticou líderes mundiais que não compareceram ao evento, sem citar especificamente nenhum país – mas sem que os presentes pudessem esquecer que os Estados Unidos, a China e a Índia, líderes dos três mais poluidores do planeta, não estão presentes. Num discurso acalorado, segundo escreve o jornal ‘Folha de São Paulo’, Lula da Silva fez um paralelo com líderes que participam na guerra: “se os homens que fazem guerra estivessem aqui, iam perceber que é muito mais barato colocar 1,3 triliões para acabar com um problema que mata, do que 2,7 triliões para fazer guerra, como fizeram no ano passado”, disse – referindo-se ao plano de 1,1 biliões de euros que quer fazer aprovar para defender o planeta das alterações climáticas e ao dobro disso que se gasta em guerras um pouco por todo o mundo.
“Precisamos de mapas do caminho para que a humanidade, de forma justa e planejada, supere a dependência dos combustíveis fósseis, pare e reverta o desmatamento e mobilize recursos para esses fins”, disse. O presidente brasileiro também foi incisivo quando defendeu a escolha de Belém como sede da conferência —a escolha foi criticada por membros do próprio governo e da sociedade civil, que defendiam que o evento fosse realizado em cidades mais ricas, como Rio de Janeiro e São Paulo, refere ainda o mesmo jornal.
Ao dizer que a Amazónia abriga cerca de 50 milhões de pessoas, Lula da Silva disse que “quem só vê floresta de cima desconhece o que se passa à sua sombra”. “Seria mais fácil ter feito a COP numa cidade acabada, numa cidade que não tivesse problemas. E nós resolvemos aceitar o desafio de fazer a COP num estado da Amazónia para provar que quando se tem disposição política, quando se tem vontade e quando tem compromisso com a verdade, a gente prova que o homem não tem nada que seja impossível para ele”, afirmou. “O impossível é a gente não ter coragem de enfrentar desafios”.
Embora o continente contribua com apenas cerca de 10% das emissões globais de gases de efeito estufa, muitos dos seus territórios estão entre os mais vulneráveis ao clima do planeta. De acordo com as Nações Unidas, 74% dos países latino-americanos já enfrentam eventos climáticos extremos – secas, inundações, incêndios – com frequência e intensidade crescentes. No entanto, a região ainda não conseguiu consolidar uma frente comum nas discussões internacionais.
A COP30 começou oficialmente esta segunda. A conferência da ONU, que segue ativa até ao próximo dia 21, reúne diplomatas e membros da sociedade civil, focar-se-á no debate sobre o financiamento para que países pobres e em desenvolvimento consigam prosseguir a descarbonização.
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