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COP30: Lula da Silva critica guerras, negacionismo e algoritmos

No discurso de abertura da COP30, o anfitrião, Inácio Lula da Silva, afirmou que “na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo”.
Brazil’s President Luiz Inacio Lula da Silva gestures to media during the Mercosur summit in Asuncion, Paraguay July 8, 2024. REUTERS/Cesar Olmedo
11 Novembro 2025, 07h00

Num discurso que serviu para dar as boas-vindas aos milhares de participantes na COP30, de que é anfitrião, o presidente brasileiro, Lula da Silva, elencou os malefícios que, no seu entender, ‘estragam’ o mundo em que vivemos e que vamos deixar aos nossos herdeiros. “Na era da desinformação, os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Atacam as instituições, a ciência e as universidades”, disse.

No início da sua intervenção, improvisada, também criticou líderes mundiais que não compareceram ao evento, sem citar especificamente nenhum país – mas sem que os presentes pudessem esquecer que os Estados Unidos, a China e a Índia, líderes dos três mais poluidores do planeta, não estão presentes. Num discurso acalorado, segundo escreve o jornal ‘Folha de São Paulo’, Lula da Silva fez um paralelo com líderes que participam na guerra: “se os homens que fazem guerra estivessem aqui, iam perceber que é muito mais barato colocar 1,3 triliões para acabar com um problema que mata, do que 2,7 triliões para fazer guerra, como fizeram no ano passado”, disse – referindo-se ao plano de 1,1 biliões de euros que quer fazer aprovar para defender o planeta das alterações climáticas e ao dobro disso que se gasta em guerras um pouco por todo o mundo.

“Precisamos de mapas do caminho para que a humanidade, de forma justa e planejada, supere a dependência dos combustíveis fósseis, pare e reverta o desmatamento e mobilize recursos para esses fins”, disse. O presidente brasileiro também foi incisivo quando defendeu a escolha de Belém como sede da conferência —a escolha foi criticada por membros do próprio governo e da sociedade civil, que defendiam que o evento fosse realizado em cidades mais ricas, como Rio de Janeiro e São Paulo, refere ainda o mesmo jornal.

Ao dizer que a Amazónia abriga cerca de 50 milhões de pessoas, Lula da Silva disse que “quem só vê floresta de cima desconhece o que se passa à sua sombra”. “Seria mais fácil ter feito a COP numa cidade acabada, numa cidade que não tivesse problemas. E nós resolvemos aceitar o desafio de fazer a COP num estado da Amazónia para provar que quando se tem disposição política, quando se tem vontade e quando tem compromisso com a verdade, a gente prova que o homem não tem nada que seja impossível para ele”, afirmou. “O impossível é a gente não ter coragem de enfrentar desafios”.

Embora o continente contribua com apenas cerca de 10% das emissões globais de gases de efeito estufa, muitos dos seus territórios estão entre os mais vulneráveis ao clima do planeta. De acordo com as Nações Unidas, 74% dos países latino-americanos já enfrentam eventos climáticos extremos – secas, inundações, incêndios – com frequência e intensidade crescentes. No entanto, a região ainda não conseguiu consolidar uma frente comum nas discussões internacionais.

A COP30 começou oficialmente esta segunda. A conferência da ONU, que segue ativa até ao próximo dia 21, reúne diplomatas e membros da sociedade civil, focar-se-á no debate sobre o financiamento para que países pobres e em desenvolvimento consigam prosseguir a descarbonização.

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