Apesar de a descida dos juros diretores pelo Banco Central Europeu (BCE) significar um alívio nas prestações do crédito à habitação da maioria das famílias portuguesas com hipotecas, dada a exposição nacional a taxas variáveis, estas dificilmente regressarão aos valores registados até 2021, alerta a DECO.
O ambiente de taxas negativas entre a crise financeira e o pós-pandemia foi uma exceção que não se deve voltar a verificar, um aspeto importante na gestão de expectativas das famílias que viram a sua prestação disparar desde então.
Segundo os cálculos da DECO, para um crédito à habitação com 150 mil euros em dívida e uma Euribor a seis meses, uma atualização em setembro significará um alívio de 42,82 euros por mês (ou 256,92 nos seis meses seguintes, ou seja, até à próxima atualização), valor que sobe para 81,39 euros no caso de uma taxa a doze meses (uma poupança de 976,68 euros até à atualização seguinte). Estas simulações assumem um prazo de 30 anos e spread de 1%.
Este alívio será bastante bem-vindo pelas famílias portuguesas, dado o impacto considerável que tem no seu rendimento disponível, mas é importante salientar que não é expectável que as prestações desçam até aos valores registados antes da subida galopante dos juros diretores iniciada a julho de 2022, quando o BCE se viu obrigado a subir taxas perante uma inflação já nos dois dígitos.
“As famílias continuam com muita expectativa que voltem a prestações como em dezembro de 2021 ou em janeiro 22 e a verdade é que a perspetiva não é caminharmos para aí”, começa por ressalvar Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da DECO, lembrando que “esse foi um período anormal em termos de taxas de juro”.
“Toda a gente concorda que aqueles anos com taxas negativas foram anormais, faziam quase parte de um exercício teórico de faculdade. Dificilmente voltaremos a ter períodos idênticos àquele. As pessoas continuam a pensar que vamos voltar para prestações daqueles níveis e isso dificilmente acontecerá”, reforça a responsável da DECO, apontando o dedo à falta de literacia financeira das famílias, mas também a uma informação incompleta por parte dos bancos.
Prestações devem continuar a descer em 2025
Por outro lado, e fruto também dos problemas de literacia financeira da população nacional, à DECO chegam frequentemente pedidos de esclarecimento sobre porque é que a prestação do seu crédito ainda não desceu, se as taxas diretoras do BCE estão a recuar. Estando os créditos indexados à Euribor, a relação não é direta – e o mercado até já vinha antecipando as descidas de juros, pelo que parte do impacto da decisão de quinta-feira passada já se sentia no bolso dos portugueses.
Olhando para as taxas Euribor a seis e 12 meses, as mais utilizadas no crédito à habitação em Portugal, a tendência de queda era já bastante clara: no indicador a seis meses, se, em maio, o valor andava em torno de 3,8%, este desceu para a casa dos 3,6% entre junho e final de agosto, encontrando-se atualmente em 3,265%; já a taxa a 12 meses caiu de 3,877% no início de maio para 3,599% a 15 de agosto, estando agora em 2,929%.
Em ambos os casos, o indicador antecipou o corte da reunião de quinta-feira passada, refletindo ainda a expectativa de mais descidas até final do ano. No entanto, o mercado parece estar a sobrestimar os cortes do BCE, apontando para 37 pontos base (p.b.) de redução até final do ano, quando os analistas preveem apenas mais uma descida, em dezembro, de 25 p.b..
Importa, portanto, explicar que o alívio nas prestações ocorrerá aquando da atualização dos contratos – pelo que, para clientes com taxas a doze meses que viram já uma atualização este ano, os efeitos só se sentirão em 2025, relembra Natália Nunes. Ainda assim, o que as famílias podem esperar, “até final do ano, se as prestações ainda não tiverem sido revistas, é uma redução” do valor a pagar mensalmente.
Para um crédito com 100 mil euros em dívida e Euribor a três meses, uma atualização em setembro significará um alívio mensal de 15,91 euros, valor que sobe para 23,87 euros mensais para um capital de 150 mil euros e para 47,73 euros por mês para créditos com 300 mil euros em dívida.
Já uma taxa a doze meses terá uma redução de 54,26 euros na prestação mensal de um crédito de 100 mil euros, redução essa que sobe para 162,78 euros no caso de uma dívida de 300 mil euros.
As simulações da DECO assumem um prazo de reembolso de 30 anos e um spread de 1%.
Estas reduções de prestações, para a coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da DECO, “são valores com algum impacto” no orçamento familiar, sobretudo para quem tem taxas mais elevadas ou rendimentos mais baixos. Nesta linha, a consultora Gestlifes alertava a semana passada que a taxa de esforço média com crédito à habitação para as famílias portuguesas estava em 32.57%, ou seja, próximo do limite recomendado pelo Banco de Portugal (BdP).
A tendência será, continua Natália Nunes, de alívio na primeira metade do próximo ano, dada a expectativa do mercado de que o BCE continue a cortar nos juros diretores em 2025. No entanto, e dado que a Euribor tem vindo a antecipar e a sobrestimar as descidas na taxa de referência, é provável que o alívio nas prestações seja menor quando a perspetiva for de que o banco central se aproxima da taxa ‘natural’ da economia – que não será, ao contrário da década anterior, próxima de zero.
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