Num comunicado, a que Lusa teve hoje acesso, o CR da TSF, presidido pela diretora de informação demissionária, Rosália Amorim, concluiu em 21 de dezembro a reunião que tinha sido suspensa em 05 de dezembro.
“Entre a primeira parte e a segunda, como é sabido, foi anunciado oficialmente o plano de reestruturação que a administração pretende aplicar na Global Media Group [GMG] e que inclui o despedimento de 30 trabalhadores na TSF”, o levou a direção da TSF a demitir-se em bloco.
Depois do anuncio da redução para quase metade dos profissionais da rádio, “foram os membros eleitos informados de que, a partir de agora, todos os programas que tenham a participação de colaboradores externos à TSF ficam em ‘pausa’, por indicação da administração, alegando com ‘a entrada de uma nova direção’ na TSF para ‘breve'”, escreve o CR.
Tal significa que, “num curto espaço de tempo, temos mais um ato inédito na história da TSF: a somar à razia entre os trabalhadores, junta-se agora uma razia na antena”, aponta o Conselho de Redação, recordando que “nunca” a rádio “esvaziou a programação antes da entrada de uma nova direção e muito menos por decisão imposta pela administração, no caso, a uma direção demissionária”.
Além disse, prossegue, sabe-se que “‘suspensos da antena’ não passa de um eufemismo para retirados da antena”.
Acontece que “esta decisão editorial determinada pela administração choca frontalmente com todos os princípios pelos quais um órgão de comunicação social deve reger-se numa sociedade democrática”, isto porque “as decisões editoriais – como sucedeu sempre na TSF – são responsabilidade da direção com o respetivo pelouro”, aponta.
Pelo que “não é admissível uma ingerência da administração que, tal como esta, coloca em causa a liberdade de ação de uma direção que, embora demissionária desde o dia 12 de dezembro, não fica com as suas capacidades editoriais eliminadas”, critica o CR.
Ao suspender os programas, “a intenção, como facilmente se conclui, é dar à futura direção uma antena praticamente vazia para ser construída uma grelha quase a partir do zero”, ou seja, “a tal ‘refundação’ a que o CEO [presidente executivo] da GMG [José Paulo Fafe] aludiu publicamente”, acrescenta.
De acordo com o CR, Rosália Amorim explicou ter “discordado” da suspensão dos programas, já que “isto não estava nos planos da direção”.
A diretora de informação demissionária acrescentou também que, apesar do “campo de manobra ser agora muito reduzido, como direção demissionária”, nas matérias editoriais Rosália Amorim discordou, “primeiro, por uma questão de princípio e liberdade e, segundo, pelo contexto editorial de atualidade política e económica que o país vive”.
Entre os programas agora suspensos “encontram-se todos os espaços de opinião e análise política diária nas manhãs, mais os programas Café Duplo e Não Alinhados, tal como o Bloco Central que, juntamente com o Ministério do Futuro, é um dos programas semanais, produzidos pela TSF, mais influentes no quadro do comentário político”, adianta o CR.
“Depois de Graça Fonseca e Miguel Poiares Maduro terem optado por colocar um ponto final no programa que faziam, invocando que os pressupostos que levaram à sua criação deixam de existir na TSF que aí vem, agora é a própria administração a retirar o “Bloco Central”, acrescenta.
Além de “um assustador empobrecimento da antena, a questão inaceitável que tudo isto levanta é o facto de, neste interregno entre direções, ser a administração da GMG a pretender assumir o controlo editorial da TSF. Na prática, a administração está já a abrir o caminho, por antecipação, ao que a futura direção será encarregue de concretizar”, acusa o CR.
O CR não pode “deixar de denunciar o perigo que representa esta intromissão na área editorial, não apenas por aquilo que está a acontecer, mas por aquilo que indicia que possa vir a suceder. Nada garante que, por esta forma ou outra, a ingerência não continue no futuro, alerta o Conselho de Redação da TSF.
Junta-se a isto “o acentuar da degradação das condições de trabalho, com o fim do serviço da AFP, uma das ferramentas essenciais para o funcionamento de uma redação como qualquer jornalista sabe. Aliás, sobre este assunto, a diretora demissionária disse aos membros eleitos que problemas como este podem continuar a ser-lhe endereçados, embora, se for de cariz financeiro, não tenha capacidade para os contornar se não for a vontade da administração”.
Os membros do Conselho de Redação manifestam “enorme preocupação e indignação” e constatam “aquilo que pode definir-se como um processo de autodestruição da rádio que está a ser levado a cabo pela administração”, condenando “expressamente a ingerência da administração que se tem processado”.
E rematam: “Estamos já a atravessar o período mais crítico da história da TSF. Se dúvidas houvesse sobre a ameaça à extinção do projeto editorial de 35 anos, depois deste ato sobre a programação não há margem para qualquer incerteza”.
O programa de rescisões da GMG foi prolongado até 10 de janeiro.
No dia 06 de dezembro, em comunicado interno, a Comissão Executiva da GMG, liderada por José Paulo Fafe, anunciou que iria negociar com caráter de urgência rescisões com 150 a 200 trabalhadores e avançar com uma reestruturação que disse ser necessária para evitar “a mais do que previsível falência do grupo”.
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