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Crise em Angola obriga empresários a recrutarem mais talentos angolanos

Estudo divulgado esta segunda-feira revela que as empresas angolanas, em 2018, recrutaram mais licenciados e bacharéis para trabalhar na área tecnológica, com maior domínio de HTML, Java, SQL, Visual Basic e Visual Basic Net.
17 Junho 2019, 20h04

A crise que assola Angola desde 2014 obrigou os empresários angolanos a reduzirem a mão-de-obra estrangeira e a olharem mais para os talentos angolanos da base ao topo, de acordo com as empresas de ‘research’ de talentos.

De igual modo, os empresários reduziram o peso dos consultores estrangeiros nas empresas, o que abriu uma janela de oportunidades para a “nata” de jovens talentosos angolanos. Com isso, as empresas reduziram os salários em moeda estrangeira, despesas com casas, viagens, que representava um peso elevado na estrutura de custos das empresas que se viram, de alguma forma, forçadas a substituir por pacotes remuneratórios com residentes cambiais.

De acordo com Anabela Marcos, especialista em gestão de recursos humanos e fundadora da GPT-Gestão Profissional de Talentos e o Clube de Talentos, a situação adversa de gestão de quadros expatriados trouxe, obviamente, oportunidades para profissionais angolanos que talvez ocupavam a segunda ou terceira linha de cargos de gestão.

Neste novo cenário, os quadros angolanos passaram, de repente, a ocupar a primeira linha (CEOs, administradores executivos ou chefes de departamentos). Os da terceira acabaram para a linha intermédia e os da linha intermédia acabaram para a segunda. Ou seja, gerou um efeito cascata, porque um nível puxou o outro gerando, assim mais oportunidades de progressão profissional para os nacionais.

“Os sectores que registam um movimento muito grande de profissionais são as áreas de tecnologias de informação e comunicação. Houve uma maior movimentação nos bancos, com uma necessidade premente de modernização e de conformar com a tendência do sector no mundo em termos de revolução tecnológica. Os bancos, quase todos, criaram departamentos de tecnologia voltados para pensar projectos de desenvolvimento, com especialistas em criação de softwares e com pessoas com bastante experiência no negócio bancário para, em conjunto, pensarem em soluções tecnológicas que atendam à necessidade dos clientes”, explica Anabela Marcos.

A especialista avança que outra área que nos últimos tempos absorveu um número considerável de profissionais é a de marketing, especificamente marketing estratégico, porque as empresas perceberam que devem se posicionar de outra forma. “Tudo isso é a cascata da crise, porque os media dias tradicionais não atendem à demanda, são mais caras e as pessoas estão cada vez mais nas redes sociais. Portanto, as media digitais cresceram muito e houve vários recrutamentos voltados para as media digitais”, conta.

De acordo com a fundadora da empresa Gestão Profissional de Talentos, os indicadores de recrutamento demonstram que, embora de uma maneira tímida, a crise está a forçar a diversificação da economia. “A diversificação da economia também gerou mais oportunidades para o pessoal técnico, com o surgimento de mais projectos na área da agricultura e indústria, o que faz com que haja mais recrutamentos de profissionais do nível mais técnico. Considero ainda muito tímido, mas temos registado alguns processos de recrutamento na área da agricultara e indústria”, revela a especialista.

O Estudo Mundial de Talentos 2018, realizado pela Boston Consulting Group e The Network, em parceria com a Jobartis revela que, de facto, o sector de novas tecnologias é que mais tem gerado emprego na actual conjuntura económico. No capítulo que fala sobre Angola, o estudo avança que em 2018 a maioria dos talentos angolanos recrutados foram para trabalhar na área tecnológica, com maior domínio de HTML, Java, SQL, Visual Basic e Visual Basic Net. Mas, o sector da construção, consultoria, engenharia, finanças e o sector público também continuam a figurar entre os que mais recrutam.

O estudo, divulgado na madrugada de 17 de junho do ano em curso, revela que as empresas angolanas, em 2018, recrutaram mais licenciados e bacharéis, sendo que, olhando para o gráfico, o número de técnicos médios foi muito reduzido, isto, sem falar dos que só concluíram o ensino de base.

O estudo contou com a participação de 366 mil pessoas no geral e 6 mil empregadores em 197 países, um dos quais Angola. O documento conclui ainda que houve uma redução da vontade das pessoas em ir trabalhar para o estrangeiro. 57% dos trabalhadores inquiridos responderam que gostariam de trabalhar noutro país. De acordo com o estudo, apesar de ser um número bastante elevado, representa uma redução de 7% comparativamente a 2014, ano em que foi feito o último Estudo Mundial de Talentos.

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