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Crise no futebol pode “reformatar dimensão” dos clubes portugueses, diz especialista em marketing desportivo

Em declarações ao Jornal Económico, o diretor do IPAM e especialista em marketing desportivo, Daniel Sá, defende que o momento de crise que o futebol atravessa poderá provocar alterações no desporto-rei em Portugal, tornando-o “mais comedido, do ponto de vista do dinheiro que envolve”.
6 Abril 2020, 07h55

A indústria do futebol vive uma crise sem precedentes: as competições estão suspensas, os clubes estão inativos e os atletas não jogam, o que impede os emblemas de gerar receitas de bilheteira, receber os direitos televisivos e dificulta a promoção de merchandising. Para o diretor do IPAM e especialista em marketing desportivo, Daniel Sá, o cenário em Portugal pode vir a “reformatar a dimensão que os clubes portugueses têm à data de hoje”.

“Ou seja, não vamos ter um Benfica com o poderio económico que tem hoje, não vamos ter um Porto, que já estava em dificuldades, nem um Sporting da mesma forma, porque as receitas vão ser sempre menores. O campeonato pode descer alguns degraus e demorarmos alguns anos a voltar ao patamar onde estavamos”, afirma Daniel Sá ao Jornal Económico.

Quase todos os campeonatos europeus estão parados devido à crise sanitária que assola diversos países no mundo, devido à pandemia da Covid-19. Na Europa, a UEFA, o organismo responsável pelo futebol europeu, diz estar, juntamente com a Associação Europeia de Clubes e a Associação das Ligas Europeias, a analisar desde 17 de março todas as opções para que se conclua a época 2019/2020.

Mas, enquanto as competições estão paradas e há dificuldades em gerar receitas, os clubes por toda a Europa têm promovido reduções salariais juntos dos futebolistas e têm procurado alternativos no que respeita aos direitos televisivos – principal fonte de receita dos clubes. Portugal não é exceção, com os clubes a procurarem acordos com os patrocinadores e a equacionarem também reduções salariais junto dos atletas.

Em Portugal, os clubes não têm receitas de bilheteira e o merchandising “não se vende”, visto que as lojas estão fechadas, e como o futebol nacional “depende muito das transferências, o cenário fica, ainda, mais difícil para os clubes portugueses”. Porquê? Fruto da eventual reformatação que o futebol nacional poderá sofrer, Daniel Sá explica: “É evidente que continuará a haver transferências, mas o grande problema é que os clubes europeus terão menos capacidade financeira e , por isso, não se vão poder pagar os valores que se pagavam antes”.

“Transferências como a de João Félix por 126 milhões de euros, em Portugal não se verão no final desta época”, exemplifica o especialista em marketing desportivo.

Que futebol teremos em Portugal, superada a crise? “Um futebol diferente dos últimos anos. Mais comedido, do ponto de vista do dinheiro que envolve”, responde. Daniel acrescenta ainda que poderá ocorrer, “de alguma forma, uma reorganização do futebol”.

O diretor do IPAM comenta, ainda, que essa reorganização poderá passar por antecipar discussões que em condições normais não teriam lugar. Será a centralização dos direitos televisivos uma dessas discussões eventualmente antecipadas? “Poderia ser. Talvez, eventualmente, a mais importante para ajudar a esta nova fase do futebol”, responde.

Atualmente, os direitos de imagem dos jogos dos clubes são negociados diretamente entre os patrocinadores e cada clube. A Liga Portuguesa de Futebol Profissional, que gere a primeira e segunda liga de futebol, em Portugal, quer a centralização  dos direitos televisivos (isto é, ser a Liga a decidir sobre a duração e montantes desses direitos e respetiva distribuição pelos clubes), mas essa discussão só deverá avançar na temporada de 2026/2027.

Os cenários são fáceis de prever e as contas são difíceis de fazer
O tempo é de mudança no futebol português e Daniel Sá, ainda que desafiado a fazer uma previsão do valor dessa reorganização, diz que “os cenários são fáceis de prever, as contas é que são difíceis de fazer”. As contas do impacto da crise no futebol português dependerá de qual dos cenários vai acontecer. Isto é, para Daniel Sá tudo dependerá de quando as competições serão retomadas.

O especialista traça, por isso, três cenários. O primeiro? “Temos as competições concluídas, seja até junho ou agosto à porta aberta, com normalidade. Este é o cenário mais favorável, permitindo aos clubes recuperarem uma boa parte das receitas que entretanto ficaram congeladas. Mas é muito improvável que venha a acontecer”, argumenta

Indica de seguida um segundo cenário,”o mais prejudicial”. “Não há forma de concluir as competições, porque não é a UEFA ou Liga que se sobrepõem às decisões do Governo ou da DGS. Este cenário seria o mais prejudicial de todos, porque ficam cerca de onze jornadas por fazer com todos os impactos que isto tem”.

Haverá um cenário positivo? Daniel Sá acredita que sim e, por isso, traça ao JE um terceiro cenário: “O cenário três é aquele onde há a possibilidade de concluir as competições, eventualmente num sistema compactado, de dois ou três jogos por semana e à porta fechada, se tiver de ser. Mas será possível concluir as provas. É neste cenário que a UEFA, Federação Portuguesa de Futebol e Liga estão a trabalhar”.

Com o último cenário, o professor universitário acredita que os clubes conseguiriam “recuperar algumas das receitas perdidas, essencialmente os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios”.

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