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CVA deve ser redimensionada em trabalhadores e aviões, defende governo cabo-verdiano

A perspetiva consta dos documentos de suporte à proposta de lei do Orçamento do Estado para 2021. Desde segunda-feira que Cabo Verde reabriu o arquipélago a voos internacionais comerciais, algo que não acontecia desde 18 de março.
14 Outubro 2020, 20h00

A Cabo Verde Airlines, privatizada em 2019 e sem atividade comercial desde março, deverá ser redimensionada, em número de trabalhadores e aviões, defende o Governo cabo-verdiano, representando os 39% do capital social da companhia nas mãos do Estado.

A perspetiva consta dos documentos de suporte à proposta de lei do Orçamento do Estado para 2021, quando são conhecidas negociações desde maio entre o Governo e os investidores islandeses que há mais de um ano e meio controlam a companhia aérea para um apoio financeiro estatal, mas ainda sem entendimento.

“O Orçamento do Estado de 2021 deverá criar condições para, conjuntamente com o parceiro estratégico, garantir a salvação da Cabo Verde Airlines (CVA), com redimensionamento do pessoal, da frota e em geral dos custos, adequado e em linha com o volume de operações e ao ritmo da retoma do mercado internacional da aviação civil”, lê-se.

No documento, o Governo afirma manter a aposta na plataforma aérea que em 2019 começou a ser instalada no país – para ligar os voos entre África, Europa e América -, pelo que, “com a retoma da mobilidade internacional, redinamizará o hub aéreo do Sal, cujo conceito deverá ser redefinido no contexto pós-pandemia”.

A administração da CVA não tem previsão para retomar os voos comerciais, apesar da reabertura das fronteiras do arquipélago, e alegou que os níveis de transmissão de covid-19 no país reduzem o interesse turístico.

“É lamentável que, no mesmo dia em que é anunciada a abertura da fronteira [desde 12 de outubro], Cabo Verde registe o maior número de casos de covid-19 jamais registados no país num dia [11 de outubro, 159 casos]. Isto irá reduzir o incentivo para os turistas escolherem Cabo Verde como destino de férias”, alertou o presidente do conselho de administração da CVA, Erlendur Svavarsson.

A posição consta de uma mensagem divulgada terça-feira pelo administrador da companhia aérea, privatizada há mais de um ano e meio e liderada desde então por investidores islandeses, mas que desde março deste ano não realiza voos comerciais, devido à suspensão dos voos internacionais pelo Governo cabo-verdiano, para conter a pandemia.

“A CVA está a envidar todos os esforços para assegurar que possamos regressar a operações eficientes e fiáveis com uma diferença, assim que o ambiente comercial e a situação pandémica tenham diminuído. A abertura de fronteiras estrangeiras e o aumento dos fluxos de passageiros serão as principais métricas para essa decisão”, acrescenta Erlendur Svavarsson, na mesma mensagem.

Cabo Verde registou ontem 98 novos infetados com covid-19, elevando o acumulado desde 19 de março a 7.254 casos, com 77 mortos.

Desde segunda-feira que Cabo Verde reabriu o arquipélago a voos internacionais comerciais, algo que não acontecia desde 18 de março, na sequência da decisão tomada pelo Governo para travar a pandemia de covid-19.

O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, afirmou a 7 de setembro que a negociação para o apoio público à CVA, que em março contava com cerca de 330 trabalhadores e uma frota de três Boeing, “é complexa”, mas garantiu que a companhia, parada há mais seis meses, “continuará a existir”.

Em entrevista à agência Lusa, Ulisses Correia e Silva assumiu que a situação que a CVA atravessa, com o arquipélago encerrado às ligações aéreas internacionais regulares para travar a pandemia de covid-19, é idêntica à da “maior parte das companhias aéreas do mundo”.

“Isto relativamente à não realização de voos e as consequências económicas e financeiras daí advenientes. As soluções de viabilização das companhias no contexto da pandemia do coronavírus não são fáceis na Alemanha, em França, em Portugal, em qualquer outro país e obviamente também em Cabo Verde”, disse.

O chefe do Governo acrescentou que o executivo está a trabalhar com a administração da companhia num “quadro complexo” de apoio, mas deixou a garantia: “Sendo certo que qualquer que seja a decisão final, a CVA continuará a existir e a ser a companhia de bandeira”.

Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).

O Governo cabo-verdiano concluiu este ano a venda de 10% das ações da CVA a trabalhadores e emigrantes, mas os 39% restantes, que deveriam ser alienados em bolsa, a investidores privados, vão para já ficar no domínio do Estado, decisão anunciada pelo executivo devido aos efeitos da pandemia.

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