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Da Bahia para o mundo: um pequeno manual da visibilidade e representação

Neste espaço liga-se Arte, História e cultura afro-brasileira com os problemas da sociedade contemporânea. E alerta-se para a urgência da representatividade da negritude na esfera do poder.
6 Outubro 2024, 10h52

O MUNCAB – Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira, em Salvador, no Estado da Bahia, não fica ao virar da esquina. Mas o seu trabalho em prol da inclusão e da representatividade dos afro-brasileiros, do diálogo e do reconhecimento da contribuição histórica, social e cultural da população negra no Brasil tem vindo a ganhar cada vez mais relevância. Deste pilar passamos para outro: os intercâmbios com países e culturas africanas, sobretudo aqueles de onde partiram os maiores contingentes de negros escravos, como Angola, Moçambique e Guiné.

Jamile Coelho, diretora do museu, falou com o JE e refere que “[a direção] já é fruto das políticas reparatórias que começaram a acontecer a partir de 2015”. ‘Reparatório’ é uma expressão a reter. As políticas reparatórias à população negra no Brasil traduzem um reconhecimento muito recente. Foi só neste século, mais concretamente a partir da conferência de Durban, na África do Sul, que o Estado brasileiro reconheceu “as mazelas da escravização”, como realça Jamile.

Na direção do MUNCAB, o empenho e ambição de Jamile Coelho passa por reforçar o papel do museu como um espaço de resistência e de diálogo intercultural, através da curadoria de exposições e eventos que ligam Arte, história e cultura afro-brasileira com os problemas da sociedade contemporânea. Jamile acredita no poder do audiovisual como ferramenta de transformação social e tem implementado ações que utilizam essas linguagens para ampliar o alcance e a relevância do Museu. E também na vertente da representatividade da negritude na esfera do poder.

“O Estado brasileiro se constitui a partir de um processo racista. Hoje, apesar de sermos a maioria da população do país, a representação ainda é incipiente, e sobretudo nos espaços de poder”.
Um exemplo: a Lei 10639, criada em 2003, inscreve a obrigatoriedade do ensino da cultura afro-brasileira e afrodiaspórica nas escolas públicas, mas não é cumprida.

Outro exemplo. No Brasil, o racismo não é punido. Diz Jamile que, por essa razão, “primeiro, o Estado brasileiro precisa reconhecer que é um estado racista e, depois desse reconhecimento, a gente precisa criar, de fato, essas representações de pessoas negras em espaços de poder”. E invoca dois nomes: Margareth Menezes, a primeira ministra negra do Brasil [Cultura], e Joelma Gonzaga, a primeira Secretária do Audiovisual negra. “É tudo muito recente, estamos falando de 2024”.

No MUNCAB, Jilme defende que um museu é um espaço de criação “não só de memória, mas de possíveis futuros”. A maioria dos artistas expostos reflete a negritude, pois “precisamos ser protagonistas, narradores das nossas próprias histórias, inclusive para que, daqui a alguns anos, a gente não precise de discutir essas questões”, realça a responsável.

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