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Departamento de Energia dos Estados Unidos suspende despedimento de trabalhadores do setor nuclear

Três responsáveis norte-americanos, que falaram à agência de notícias norte-americana Associated Press “sob condição de anonimato por temerem retaliações”, disseram que até 350 funcionários da Administração Nacional de Segurança Nuclear (NNSA, na sigla original) foram despedidos na quinta-feira à noite, com alguns a perderem o acesso ao correio eletrónico e a não poderem aceder ao local de trabalho, na sexta-feira de manhã. Na sexta-feira à noite, a diretora interina do Departamento de Energia, Teresa Robbins, emitiu um memorando a revogar as demissões de quase todos os funcionários despedidos.
Donald Trump
Republican presidential candidate and former U.S. President Donald Trump gestures during a campaign rally on March 2 in Richmond, Virginia, U.S. March 2, 2024. REUTERS/Jay Paul
17 Fevereiro 2025, 09h26

O Departamento de Energia inverteu as ordens de demissão de funcionários federais encarregados de programas de armas nucleares, numa reviravolta que os confundiu e deixou especialistas a alertar para riscos dos cortes em curso, noticiou a agência noticiosa Associated Press.

Três responsáveis norte-americanos, que falaram à agência de notícias norte-americana “sob condição de anonimato por temerem retaliações”, disseram que até 350 funcionários da Administração Nacional de Segurança Nuclear (NNSA, na sigla original) foram despedidos na quinta-feira à noite, com alguns a perderem o acesso ao correio eletrónico e a não poderem aceder ao local de trabalho, na sexta-feira de manhã.

Na sexta-feira à noite, a diretora interina do Departamento de Energia, Teresa Robbins, emitiu um memorando a revogar as demissões de quase todos os funcionários despedidos.

“Esta missiva serve como notificação formal de que a decisão de rescisão emitida em 13 de fevereiro de 2025 foi rescindida, com efeitos imediatos”, lê-se no memorando, obtido no domingo pela Associated Press (AP).

A fábrica da Pantex, perto de Amarillo, no Texas, que opera na remontagem de ogivas nucleares, foi uma das mais afetadas pelos despedimentos, segundo a AP, tendo sofrido cortes de 30%.

As centenas de despedimentos na NNSA fazem parte da estratégia para o Departamento de Energia do chamado Departamento de Eficiência do Governo (DOGE), liderado por Elon Musk, que tem como alvo perto de 2.000 funcionários do setor.

“O pessoal do DOGE está a chegar sem absolutamente nenhum conhecimento sobre as responsabilidades destes departamentos”, disse à AP o diretor executivo da Arms Control Association, Daryl Kimball, referindo-se à equipa de Musk. “Parece que não percebem que, na verdade, o Departamento de Energia é mais o departamento de armas nucleares.”

Os relatos dos três responsáveis que falaram com a AP contradizem uma declaração oficial do Departamento de Energia, que resumiu os despedimentos a 50 trabalhadores da NNSA, considerando-os “funcionários probatórios” que “ocupavam principalmente funções administrativas e de escritório”.

Segundo o vice-diretor da NNSA, Rob Plonski, não foi esse o caso, tendo publicado um apelo à ação, na rede do LinkedIn.

“Este é um momento crucial. Precisamos de decidir se estamos realmente empenhados em liderar o palco mundial ou se estamos satisfeitos por minar os próprios sistemas que garantem o futuro do nosso país”, publicou Plonski, citado pela AP. “Cortar a força de trabalho federal responsável por estas funções pode ser visto como imprudente, na melhor das hipóteses, e adversamente oportunista, na pior”, acrescentou.

Enquanto alguns dos funcionários despedidos do Departamento de Energia lidavam com projetos de eficiência energética e com efeitos das alterações climáticas, questões que não constituem prioridades para a administração Trump, muitos outros lidavam com projetos nucleares, mesmo que não trabalhassem diretamente em programas de armamento. As suas funções incluem a gestão de grandes depósitos de resíduos radioativos.

Neste caso, encontram-se o Laboratório Nacional de Savannah River, em Jackson, Carolina do Sul, o Sítio Nuclear de Hanford, no estado de Washington, onde os trabalhadores protegem 177 tanques de resíduos resultantes de produção de plutónio, e a Reserva Oak Ridge, no Tennessee, onde foi feito grande parte do trabalho inicial do Projeto Manhattan.

A entrada na reforma de funcionários mais antigos da NNSA, nos últimos anos, custou à agência conhecimento institucional, escreve a AP. A situação vinha a ser superada com um esforço de modernização e investimentos de 750 mil milhões de dólares (714 mil milhões de euros), a aplicar em novos mísseis balísticos intercontinentais terrestres, novos bombardeiros e novas ogivas para submarinos.

O diretor de segurança de energia nuclear da Union of Concerned Scientists, Edwin Lyman, disse à AP que os cortes podem perturbar o funcionamento diário da NNSA e criar uma sensação de instabilidade em relação ao programa nuclear, tanto no país como no estrangeiro.

“Penso que o sinal dos EUA é bastante claro. […] Isto só pode beneficiar os adversários deste país”, afirmou.

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