[weglot_switcher]

Depois da inércia, ambiente macro pode ser catalisador para recuperação das M&A em 2024

A incerteza dos últimos tempos tem colocado um travão às operações de fusão e aquisição, mas, à medida que a situação estabiliza, as fracas perspectivas macro podem ajudar às operações de concentração. Sector espera ver recuperação forte no próximo ano.
6 Agosto 2023, 11h00

Artigo originalmente publicado no caderno NOVO Economia de 29 de julho, com a edição impressa do Semanário NOVO.

As operações de fusão e aquisição (M&A) em Portugal vinham crescendo até à pandemia, acompanhando a tendência global, mas a incerteza que envolveu a economia mundial e nacional desde aí representou um abrandamento destas operações. 2022 trouxe uma recuperação limitada, com as fracas perspectivas macroeconómicas a recomendarem precaução aos gestores numa primeira fase, podendo agora servir como catalisador para estas operações face a um ambiente de dificuldades acrescidas para as empresas.
A resistência nacional a operações de concentração está bem espalhada na fragmentação do tecido produtivo nacional, composto esmagadoramente por microempresas, incapazes de beneficiar de ganhos de escala para aumentarem a sua competitividade externa. Esta é uma das fragilidades mais recorrentemente apontadas à economia portuguesa, especialmente numa altura em que a afirmação internacional tem permitido ao país crescer.

A primeira metade deste ano revelou um volume de negócios equivalente a 45% do registado em 2022, segundo os dados da Dealogic, enquanto o número de operações é menos de um terço. E 2022 esteve ainda longe, em termos de volume, dos montantes alcançados em 2019, apesar de o número de operações ter crescido em comparação com aquele período.

Mais: cerca de três quartos do montante movido pelo sector na primeira metade do ano correspondeu a um só negócio, no segmento do imobiliário, onde o gestor Luís Todo Bom identifica a esmagadora maioria destas operações (ver entrevista nas pág. 4-5).
A subida de custos que afeta a generalidade da economia global foi um susto para as empresas portuguesas, que operam com grandes rácios de endividamento e uma exposição acima da média a taxas de juro variáveis. Perante este cenário, várias foram as vozes de preocupação quanto ao futuro do tecido produtivo nacional, mas os alertas têm sido, por enquanto, precipitados.

Pedro Neto, partner de Corporate Finance da Moneris, assume-se surpreendido com a resistência das empresas nacionais a este ambiente, embora reconhecendo que as reestruturações têm sido o foco de algumas firmas em posições mais frágeis. Olhando para o resto do ano, e esperando-se uma estabilização dos custos por várias vias (sobretudo com o fim da crise energética e o pico dos juros já à vista), a incerteza deverá diminuir e criar mais margem para retomar muitas operações de M&A em fase embrionária.

Isso mesmo projeta a Llorente Y Cuenca no seu relatório “Do stand-by ao infinito”, admitindo “algum nervosismo” no sector dada a inércia dos últimos meses. No entanto, as dificuldades vividas podem servir de catalisador para mais operações de M&A no resto do ano e, sobretudo, em 2024, o ano apontado pela consultora como da verdadeira recuperação do sector.

“No entanto, nesse compasso de espera, os grandes fundos não perderam tempo. Investiram e atualizaram as suas carteiras, incluindo as suas últimas aquisições, e estão à espera do tiro de partida porque ninguém quer ficar para trás. A maioria dos intervenientes e especialistas do sector já prevê que 2024 poderá ser novamente um ano recorde para o investimento”, avança, ressalvando que as projeções macro têm sido consistentemente mais pessimistas do que a realidade.

No caso nacional, a descapitalização das empresas, o elevado nível de endividamento, o baixo valor acrescentado que conferem, pouca inovação e baixa capacidade de escalabilidade são tudo fatores a contribuírem para menos M&A, prossegue Pedro Neto. Com a chegada dos fundos europeus a Portugal, nomeadamente o PRR, estas realidades devem ser abordadas, especialmente no que toca à capitalização e ao estímulo do venture capital em Portugal.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.