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Deportação como prenda: embaixada dos EUA no Brasil faz oferta controversa

“É grátis. É rápido. Faça o download da aplicação e nós trataremos dos preparativos da sua viagem”. Podia ser um anúncio de uma agência de viagens mas não: é a nova (e polémica) estratégia da embaixada dos EUA no Brasil para convencer os brasileiros a deixar os EUA com “dignidade”.
15 Dezembro 2025, 07h00

A embaixada dos Estados Unidos no Brasil divulgou um vídeo direcionado a imigrantes em situação irregular em que incentiva o uso de uma aplicação do governo para retorno ao país de origem. O conteúdo refere-se à iniciativa como um “presente de fim de ano perfeito” do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) no governo de Donald Trump.

“É um imigrante ilegal nos Estados Unidos? Está à procura do presente de fim de ano perfeito para a sua família? O DHS tem a melhor oferta de fim de ano da sua vida. É a aplicação CBP Home. É grátis. É rápido. Basta obter a aplicação CBP Home e preencher as suas informações. Nós trataremos dos preparativos da sua viagem. E, quando você voltar para casa, receberá um auxílio de 853 euros (1000 dólares). Então, não perca tempo”, diz a narração do vídeo, publicado na quarta-feira, 10 de dezembro.

Desenvolvido pela administração Trump, o CBP Home é voltado para a assistência à autodeportação voluntária. O site oficial do governo descreve a aplicação como uma “oportunidade histórica para estrangeiros ilegais receberem viagens gratuitas, perdão de qualquer multa por não saída e um bónus de 853 euros para facilitar a viagem de regresso ao seu país de origem”.

O CBP Home substituiu uma aplicação conhecida como CBP One, lançada na administração de Joe Biden. A plataforma durante a gestão democrata incluía um recurso que permitia a cerca de um milhão de migrantes no México o agendamento de uma consulta para solicitar entrada num ponto de passagem legal na fronteira. A ideia do programa era organizar os pedidos de entrada e reduzir as travessias ilegais.

Os republicanos criticaram a iniciativa de Biden, dizendo que esta facilitava a migração em massa e não avaliava adequadamente os migrantes. Trump encerrou o CBP One horas após assumir o cargo, deixando migrantes com consultas pendentes sem saber quais seriam os próximos passos.

Durante o governo Trump, a embaixada dos EUA no Brasil tem feito publicações críticas a brasileiros. Em julho, o perfil da representação publicou uma mensagem destinada a imigrantes do país que vivem de forma ilegal em território americano. “Até o E.T sabia a hora de voltar para casa”, diz a mensagem, em referência ao filme de ficção científica “E.T. O Extraterrestre” (1982).

A publicação, feita na plataforma X, usa a imagem do famoso extraterrestre voando de bicicleta com a frase: “Se está nos EUA ilegalmente, faça como o E.T.: é hora de ligar para casa”. A publicação ainda sugere o uso da aplicação CBP Home como uma forma de ir “embora agora, com apoio e dignidade”.

Em agosto, a embaixada dos EUA no Brasil publicou uma mensagem advertindo contra o chamado “turismo de nascimento” —a prática de viajar ao país para dar à luz numa tentativa de obter a cidadania americana ao bebé. Segundo a representação, as autoridades vão negar o pedido de visto caso existam indícios de que essa é a intenção da viagem.

O número de brasileiros deportados dos Estados Unidos até outubro deste ano já era o maior desde pelo menos 2020, de acordo com dados da Polícia Federal enviados à Folha. Até o dia 1º daquele mês, foram retirados do território americano 2.262 cidadãos do Brasil, um aumento de 36,2% em relação aos 1.660 registados em todo o ano de 2024, sob a administração Biden.

As deportações em massa são prioridade do segundo mandato de Donald Trump, que voltou à Casa Branca em janeiro. Durante o governo do republicano, o Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês) estabeleceu como meta fazer três mil detenções de imigrantes em situação irregular por dia, o que triplica o número anterior.


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