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Dinamarca encontra os medicamentos certos para curar a economia

Uma combinação virtuosa de apenas alguns fatores levou o país escandinavo a um novo patamar económico, que promete ser o balão de oxigénio de que o país estava a precisar.
11 Janeiro 2024, 09h16

Instituições sólidas, um sistema de ensino superior de alta qualidade, facilidade de criação de empresas, flexigurança no mercado de trabalho. Em traços gerais, são estes os predicados da Dinamarca, um país com poucos recursos naturais (ao contrário de alguns dos seus vizinhos) e situado num lugar difícil. Sempre à procura de melhorar a sua economia, a Dinamarca tem vindo a descobrir filões onde outros nem sequer sonham que há um racional de negócio – um desiderato difícil e que obriga a uma reinvenção constante.

E a fase mais recente da pujança económica da Dinamarca já está descoberta: alguns medicamentos de ponta. As perspetivas para a economia dinamarquesa sofreram uma grande reviravolta graças a uma única empresa de navegação e a dois medicamentos que estão a revelar-se muito eficazes no combate à obesidade: o Ozempic e o Wegovy, da empresa dinamarquesa Novo Nordisk.

Além de ajudar diabéticos e pessoas que sofrem de obesidade, esses medicamentos têm sido a ‘cura’, pelo menos temporariamente, para a economia da Dinamarca, que enfrentou uma possível recessão em 2023 e um cenário desolador em 2024. A Dinamarca é uma economia muito aberta e fortemente dependente da Zona Euro, o seu principal parceiro comercial, pelo que o declínio da economia dinamarquesa parecia inevitável, dada a fraqueza que a Zona Euro está a demonstrar, refere uma reportagem do jornal espanhol “El Economista”.

No entanto, a indústria farmacêutica está a permitir que a Dinamarca resista à tempestade. A economia dinamarquesa passou da recessão em 2023 para um crescimento de mais de 1%. Além disso, até 2024, especialistas acreditam que o PIB pode avançar a um ritmo próximo de 2% ao ano, uma alteração profunda causada em grande parte pela produção daqueles medicamentos.

Durante este inverno, o crescimento económico está a ser apoiado, entre outras coisas, por uma forte indústria farmacêutica. Os ventos contrários da inflação elevada e da subida das taxas de juro continuam presentes, mas o nível de confiança na economia registou um ligeiro aumento, refere o jornal. Embora o impacto da produção dos medicamentos possa parecer pouco real, a verdade é que os indicadores estão a manter-se: a taxa de desemprego, embora tenha subido ligeiramente nos últimos meses, ainda está abaixo de 3%.

A Comissão Europeia destacou em seu último relatório de previsões que a economia dinamarquesa vai crescer mais do que o esperado graças às exportações de medicamentos: “As exportações líquidas serão a força motriz para o crescimento em 2023. Espera-se que as exportações de bens cresçam acentuadamente, impulsionadas por produtos farmacêuticos excecionais fabricados tanto na Dinamarca quanto no exterior. No caso desta última, apenas a comercialização e a transformação são tidas em conta nas exportações dinamarquesas, e o impacto na produção interna é limitado”, lê-se no relatório.

Por outro lado, o relatório também destacou o impacto da Maersk Shipping na economia: “Espera-se que as exportações de serviços experimentem um forte crescimento em 2023, em parte ligadas aos transportes, em particular o transporte marítimo… Ao todo, a contribuição para o crescimento para 2023 deverá ser de 2,7 pontos, enquanto em 2024 e 2025 será de 0,1 ponto”. Assim, tanto a Novo Nordisk quanto a Maersk continuarão a aumentar o PIB nos próximos anos. “Espera-se que a Dinamarca registre superávits consideráveis em conta corrente ao longo de todo o horizonte econômico de nossa projeção”, disseram os economistas da Comissão Europeia.

O PIB da Dinamarca também vai receber um certo impulso dos hidrocarbonetos que extrairá do Mar do Norte. “Estimamos que o PIB cresça cerca de 1,9% em 2024. Parte do crescimento em 2024 vem da reabertura do campo de petróleo e gás de Tyra (que contribuirá com 0,5 ponto percentual para o PIB em 2024). O crescimento da indústria em 2024 será de 1,2%”, disse a Confederação Industrial Dinamarquesa em um relatório sobre previsões económicas.

O Danske Bank acredita que, apesar deste sucesso, a economia dinamarquesa enfrenta desafios significativos. Tal como os países dependem apenas do petróleo, depender apenas do sector farmacêutico não é positivo nem suficiente para sempre ‘puxar’ o PIB: “Vemos uma economia mais ou menos estagnada fora do sector farmacêutico. As falências atingiram o nível mais alto desde 2010 em 2023, em parte como um efeito tardio da pandemia, mas também como reflexo de custos de financiamento mais altos e consumo mais fraco em alguns setores, como na habitação”, apontam os especialistas da instituição.

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