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Donald Trump: a mais inesperada de todas as vitórias do rei do imobiliário

A dimensão da vitória – no Colégio Eleitoral, no Senado, na Câmara dos Representantes e no voto popular – é inesperada, mas principalmente a possibilidade de o vencedor colocar no terreno todo o seu programa. Com as consequências que daí podem surgir.
Uma carrinha com uma imagem de Donald Trump em tamanho real passa por Times Square, onde centenas de pessoas assistiram à noite eleitoral em ecrãs, Nova Iorque, 05 de novembro de 2024. Na movimentada Times Square, no centro de Manhattan, centenas de pessoas aguardam ansiosamente com os olhos postos nos ecrãs gigantes, acompanhando ao minuto a contagem dos votos para as presidenciais norte-americanas à medida que as urnas vão encerrando. (ACOMPANHA TEXTO DE 06 DE NOVEMBRO DE 2024). NUNO VEIGA/LUSA
7 Novembro 2024, 07h30

Com as contagens ainda não totalmente fechadas, Donald Trump ganhou as presidenciais com uma margem muito confortável no Colégio Eleitoral, ganhou o Congresso – voltou à maioria no Senado e deve manter a Câmara dos Representantes – e a isso ainda juntou o chamado voto popular: a maioria dos norte-americanos votou mesmo, o que não sucede sempre, no candidato que vai ser escolhido para a presidência da federação.

A dúvida é agora saber-se o que fará Trump com a vitória, cuja dimensão ninguém, provavelmente nem o próprio, conseguiu antecipar. De qualquer modo, a agenda que Trump ‘vendeu’ como o seu programa para os próximos quatro anos tem agora muito mais margem para ser passada à prática. A diminuição dos impostos, a imposição de novas tarifas às importações, novas regras para a imigração, o reinvestimento nas energias fósseis em detrimento das renováveis e uma geral desregulamentação da economia estão na linha da frente e deverão, pelo menos algumas delas de passar para decreto nos primeiros dias a seguir à tomada de posse.

A não ser que o próximo responsável pelo Tesouro consiga reter algumas delas, que são claramente inflacionistas – numa altura em que o país acaba de passar por anos conturbados de altas taxas de juro. Neste quadro, vale também a pena perceber-se o que fará Trump ao governador da Reserva Federal, Jeremy Powel – a quem o futuro presidente colocou no grupo dos ‘inimigos’ quando ocupou a Casa Branca pela primeira vez (2016-20).

De qualquer modo, a primeira consequência da vitória de Donald Trump é que uma metade do país não entrará em rota de colisão com a outra metade. O que por certo viria a a suceder se Trump tivesse perdido por uma margem escassa. O novo presidente preocupou-se, o que de algum modo também foi inesperado, em produzir um discurso de vitória muito conciliador. Deixou de lado qualquer invetiva menos simpática para com a derrotada oponente democrata e preocupou-se em explicar que seria o presidente de todos os norte-americanos. E ainda teve uma palavra simpática para com os imigrantes: os Estados Unidos continuam a dar as boas-vindas a todos os estrangeiros legais.

Trump decidiu ainda acrescentar mais um fator imprevisível: deu protagonismo ao homem que escolheu para seu vice-presidente, D. J. Vance. Com isso, sinalizou que o seu ‘companheiro’ será com certeza o candidato dos republicanos às presidenciais de 2028. Ou, pelo menos, será essa a vontade (para já) de Donald Trump.

Outra consequência da vitória de Trump é o fim abrupto da carreira política de Kamala Harris. E a inscrição do nome de Joe Biden nos livros de história no capítulo dos grandes derrotados. O ainda presidente deixa um partido que levará muitos meses a reencontrar o seu caminho.

Entretanto, há um calendário que tem de ser cumprido. O primeiro passo é a publicação dos resultados finais (até 11 de dezembro); a 17 de dezembro, acontecerá a reunião dos Colégios Eleitorais – sem que desta vez Trump se veja na necessidade de tentar pressionar alguns dos seus componentes para mudarem o sentido do seu voto, como fez há quatro anos; a 3 de Janeiro do próximo ano dar-se-á o início da sessão legislativa do novo congresso; e finalmente, a 6 de janeiro, dia em que o país comemora os quatro anos do assalto ao Capitólio, o seu maior responsável será proclamado 47º presidente dos Estados Unidos.

No que tem a ver com a Europa, três coisas assustam a maioria dos líderes do continente: a possibilidade de Trump aplicar novas tarifas às importações dos países europeus – fala-se em pelo menos 10%; a forma como a Casa Branca vai gerir a guerra da Ucrânia; e principalmente o que fará Trump com a Rússia – nomeadamente em caso de um ataque direto a um país NATO.

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