A economia russa terá recuado menos do que o esperado em 2022 (o PIB da Rússia terá contraido 2,1% no ano passado, informou o serviço federal de estatísticas no início desta semana), mas os especialistas alertam que estes dados podem ter pouca aderência à realidade e deixam um alerta sobre o futuro do cenário macroeconómico na Rússia: o pior ainda está para vir.
Entrevistado pelo JE a propósito da data que marca um ano da invasão russa à Ucrânia, o economista Filipe Garcia diz que é necessário ter cautela quando se analisa os dados que a Rússia avança para definir o que foi a economia do país ao longo de 2022, sobretudo quando as previsões do Banco Mundial apontavam para uma quebra de 12% no mesmo período.
“Temos de ter cautela com as estatísticas russas já que nada nos garante que sejam verdadeiras. É preciso ter noção a conjuntura não permite ter essa confiança”, destacou em declarações ao JE.
A sustentar esta desconfiança nos números avançados por Moscovo, de acordo com Filipe Garcia, a Rússia sofreu “um impacto direto quer ao nível das importações russas, quer ao nível das exportações”. Algo que a Rússia naturalmente não quer assumir, conforme explica o especialista.
“É normal que a Rússia desvalorize um pouco o impacto de tudo isto , mas é natural que a economia russa esteja muito pior”, referiu, acrescentando que a Rússia “estará muito pior no médio prazo”.
No que diz respeito à energia, que a UE estabeleceu um teto máximo para os preços. Numa análise a essa vertente, Filipe Garcia apontou que foi dramático para a Rússia não “poder deslocar esse produto na Europa” como anteriormente fazia. Restou-lhe vender para fora da Europa, “mas a preços mais baixos”.
Resta a China e a Índia
Em linha com Filipe Garcia, e no que diz respeito às parcerias comerciais, o politólogo José Palmeira recordou ao JE que a Rússia “teve como alternativa as exportações de petróleo ao gás natural de dois grandes vizinhos que são a China e a Índia”.
No entanto, “é verdade que o valor pago por esses países não é o mesmo que era pago pela Alemanha, por exemplo”, referiu José Palmeira. “Estão a receber a preço de saldo”, frisou.
Embora a Rússia também tenha recebido uma parte da receita habitual, no que toca à energia por parte dos países da UE (algo que pode ter ajudado a atenuar o impacto na economia), José Palmeira disse que isso “não significa que no médio e longo prazo isso não se faça sentir” de forma mais expressiva.
“Não se substitui a alternativa de exportação para a Europa com a Índia e com a China por várias razões. Desde logo porque não há tantos gasodutos com capacidade de exportar para estes países porque estes países não têm sequer uma liquidez que lhes permita pagar o mesmo que pagariam os países europeus”, destacou o politólogo.
Assim sendo, “no médio prazo a Rússia deve sentir muito mais essas dificuldades”.
No entanto, há algo que joga a favor do Kremlin: “o regime russo não é democrático e os regimes democráticos têm mais dificuldade em viver com este tipo de situações”.
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