O debate do Estado da Nação vai decorrer esta quinta-feira e os especialistas contactados pelo Jornal Económico afirmam que a inflação, Serviço Nacional de Saúde e TAP vão estar no centro de debate. Antecipam que fique de fora algumas matérias relevantes como “qualidades nas infraestruturas” ou “falta de competitividade fiscal”, no debate de hoje, no final de um ano parlamentar marcado pelo regresso da inflação, da contestação, nas ruas, na justiça, na educação ou na saúde.
Vera Gouveia Barros, economista, diz que “olhando para aquilo que é a atual conjuntura macroeconómica a preocupação maior [no debate] estará do lado dos preços, da inflação elevada e do que isso representa em termos de redução do poder de compra para aqueles salários que nominalmente não acompanharam essa evolução”.
“Sabemos que há muitos sectores onde de facto não houve um aumento que compensasse o da inflação, designadamente na função pública. Houve o argumento de que a inflação era passageira, de que aumentar os salários da função pública só usaria a reforçar a inflação e a torná-la mais duradoura e aquilo que nós vemos é que de facto essa inflação não tinha assim um caráter tão passageiro”, defende Vera Gouveia Barros.
De recordar que a inflação em Portugal está a descer. Em junho, a taxa de inflação homóloga recuou para 3,4%, ficando 0,6 pontos percentuais (p.p.) abaixo da registada em maio (4%), confirmou o Instituto Nacional de Estatística (INE).
A economista aponta que atualmente “as pessoas sentem a perda do poder de compra quando vão ao supermercado, quando pagam os transportes, quando abastecem o carro”.
“Acresce a isto que 30% da população tem crédito a habitação e a grande maioria desse crédito foi contratado a taxas variáveis”, referiu a economista, acrescentando que o tema da habitação, que foi ontem votado em votação global, também vai estar em cima da mesa.
Por sua vez, o investigador do Instituto de Ciências sociais de Lisboa Hugo Ferrinho Lopes considerou que “há temas que têm estado na ordem do dia e que podem encontrar espelho no debate da nação”. O foco incide sobre “a crise no Serviço Nacional de Saúde, o final da comissão parlamentar de inquérito à TAP, a situação da educação e a crise dos professores”, frisou Hugo Ferrinho Lopes.
Não é de estranhar que vá estar em análise o tema do SNS, pois já custa cerca de 14 mil milhões de euros, mas continua a enfrentar dificuldades para reter médicos e enfermeiros e dar resposta ao crescente número de utentes que esperam por consultas e cirurgias.
O politólogo acredita ainda que poderá “surgir também um tema que tem que ver com a continuação das sucessivas saídas do Governo”. A mais recente saída do governo remete para o secretário de Estado da Defesa que se demitiu na primeira semana de julho depois de ter sido constituído arguido por corrupção.
Já segundo o economista Pedro Brinca a expectativa é a de “mais uma vez o debate do estado da nação se centre em questões conjunturais, da espuma dos dias, e não nas questões estruturais”.
Para Pedro Brinca, no centro do debate, devia a “falta de qualidade das nossas infraestruturas portuárias, aero-portuárias e tecnológicas, no subfinanciamento do ensino superior, na falta de competitividade fiscal, na falta de eficácia das entidades reguladoras, nos atrasos da justiça, na complexidade e ineficiência legislativa”.
“Estás são aquelas que precisam de ser resolvidas para pôr o país na rota da convergência social, que só é possível com medidas que promovam a capacidade de crescimento da economia de volta a um caminho de convergência económica”, referiu o especialista.
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