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Eleições: Fiéis, jovens e idosos, um retrato dos eleitores

Os principais partidos, com representação parlamentar, têm eleitorados com características muito diferentes que sofreram alterações nos últimos anos.
18 Fevereiro 2024, 10h11

Marco Lisi, professor de ciência política no Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, fez à agência Lusa uma caracterização do eleitorado do PS, PSD, IL, Chega, Bloco de Esquerda e PCP, com base nos estudos pós-eleitorais do Instituto de Ciências Sociais (ICS) nos últimos anos e no livro “Eleições – Campanhas eleitorais e decisão de voto em Portugal”.
Tendo em conta os resultados e os estudos pós-eleitorais, os dois maiores partidos (PS e PSD) têm, em termos absolutos, o eleitorado mais fiel. “São os dois partidos que têm mais eleitores incondicionais. E, entre os dois, o PS tem mais do que o PSD. Pelo menos tem tido nos últimos dez anos”, assinalou Marco Lisi.
Do ponto de vista relativo, a base eleitoral mais homogénea de todas é a do PCP. “Tem vindo a ser cada vez mais reduzida essa base, mas a consistência, do ponto de vista do perfil e dos traços sociodemográficos e a nível territorial, a nível ideológico” a base eleitoral mais fiel “é do PCP”, segundo Marco Lisi. Nos últimos anos, os eleitores do PCP “são cada vez menos”, mas continuam a ser “apoiantes incondicionais”.
O eleitorado mais idoso passou do PSD para o PS. Neste capítulo, tem-se registado uma mudança. Antes da crise, estavam mais no PSD. Depois da crise de 2009, com o Governo de Passos Coelho e mesmo com o Governo da ‘geringonça’, “houve uma proporção maior de idosos que apoiaram o PS e contribuíram para expansão e a consolidação da sua base de apoio”, segundo Marco Lisi.
Antes da crise, votavam “mais no PSD”. Depois da crise de 2009, com o Governo de Passos Coelho e mesmo com o Governo a geringonça, “houve uma proporção maior de idosos que apoiaram o PS e contribuíram para expansão e a consolidação da base de apoio do PS.
Uma mudança que se pode explicar com as políticas adotadas pelo Governo PSD/CDS, durante a ‘troika’, e que “depois decidem votar no PS por causa das políticas que foram implementadas durante a crise económica”.
O Bloco de Esquerda é um partido que tem um eleitorado jovem “acima da média, dos outros partidos”, mas já foi mais forte, “sobretudo na primeira década de vida desse partido”. Depois, afirma o investigador, “houve um previsível envelhecimento da base de apoio, o que é natural, porque o partido também cresceu e envelheceu”. A adesão de jovens é também evidente, segundo os estudos, na Iniciativa Liberal e Chega, em 2022.
De acordo com Marco Lisi, uma explicação possível é serem “novidade”, apresentavam-se a “fazer diferente” em relação aos outros partidos, como a comunicação política através das redes sociais, por exemplo. “Tudo isso contribuía para que esses dois partidos conseguissem, de facto, mobilizar mais jovens”, sublinhou.
Portugal tem muitos eleitores indecisos e o investigador Marco Lisi traça-lhes um retrato: são jovens, pouco politizados, moderados e decidem-se em cima da hora de por o voto na urna.
O professor define o indeciso como um eleitor que, “normalmente, não se interessa muito pela política” e que “só procura informações políticas” durante a campanha eleitoral. A Sondagem das Sondagens, da Rádio Renascença, que agrega os estudos de opinião e interpreta tendências de todas as sondagens publicadas nos últimos anos, projeto coordenado por Luís Aguiar-Conraria, indicava mais de 15% de indecisos para eleições de março.
Daí a importância que, sublinhou, as campanhas eleitorais e as sondagens, por exemplo, têm para estes eleitores com “menos bases, menos predisposições políticas, do ponto de vista ideológico e partidário”.
Depois, acrescentou Lisi, “no momento da campanha, acham que devem adquirir informações e fazem-no de várias formas, através das televisões, redes sociais, amigos”.
Um estudo pós-eleitoral do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, feito através de uma sondagem depois das legislativas de 2022 para o Expresso, revela que nos últimos 20 anos foram 14% os inquiridos que decidiram o seu voto só no dia das eleições.
Marco Lisi sublinha que cerca de 25% dos inquiridos decidiram em quem votar no mês anterior às eleições, o que inclui a campanha eleitoral. O investigador, com vários livros publicados em Portugal, como “Eleições – Campanhas eleitorais e decisão de voto em Portugal” (Ed. Sílabo), de 2019, apontou mais uma característica deste eleitorado, a partir dos estudos feitos nesta matéria, a sua juventude.
“Sabemos que, normalmente, tendem a ser mais jovens. Isso também é outro fator que faz com que se ativem mais durante a campanha”, exemplificou, dizendo que têm “uma certa ambivalência do ponto de vista ideológico”. “São, claramente, eleitores que não têm posições ideológicas radicais, são eleitores do centro, um eleitorado moderado, e não têm uma grande preferência entre os dois líderes principais dos partidos”, afirmou ainda, disse.
Por fim, e segundo os mesmos estudos, os indecisos “eram mais mulheres do que homens”. No livro “Eleições – Campanhas eleitorais e decisão de voto em Portugal”, que tem por base os resultados dos inquéritos pós-eleitorais do ICS, Lisi concluiu que cerca de 70% dos eleitores é considerado resoluto.
Num estudo pós-eleitoral de 2022, da GfK para o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa), Expresso e SIC, 14% dos inquiridos admitiram que só decidiu o seu voto no dia das legislativas (ganhas pelo PS com maioria absoluta). Em anos anteriores, esta percentagem tinha sido 8% em 2005, 3% em 2011 e 5% em 2015.
Cerca de 7% dos inquiridos decidiu-se um mês antes do dia das eleições, 67% antes disso, e 9% até duas semanas antes de ir às urnas, ainda segundo o estudo do ICS.
Para as próximas eleições, Marco Lisi considera que a avaliação ao Governo do PS vai pesar na hora de se votar em 10 de março, realçando que as preocupações económicas “continuam mais ligadas à questão da inflação e do poder de compra, mas também há muito ênfase na questão do Estado Social e das políticas sociais na saúde, educação e habitação”.
Para a avaliação do Governo de António Costa, cuja demissão em outubro de 2023 precipitou as legislativas de março, a questão económica “tem sinais contraditórios”. “Continua a ser uma preocupação para muitos indivíduos, mas não é claro quem vai favorecer”, afirmou.
As últimas estatísticas económicas “têm dados positivos” – na redução da dívida ou no PIB, por exemplo, mas Marco Lisi não arrisca dizer se isso “vai favorecer ou não o PS”. Sabe-se que este “é um fator importante” para os chamados “eleitores voláteis”, aqueles que efetivamente mudam de voto, mas é difícil antecipar comportamentos.

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