A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, chegou esta tarde a Paris no âmbito de uma digressão europeia para obter o apoio dos seus homólogos face aos planos de Donald Trump para a Gronelândia. Antes de partir para Bruxelas, teve o que, por certo, concordará ser uma excelente notícia: se o solicitar, poderá contar com o envio de tropas francesas para a Dinamarca. O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noël Barrot, avançou assim com uma decisão – que faz lembrar o pouco apreço que o antigo presidente da República francesa, Charles de Gaulle, tinha pela NATO – que, com certeza, Bruxelas não tomará.
A iniciativa também pode ser interpretada como uma garantia dada aos Estados Unidos em matéria de segurança nesta região tão sensível. Jean-Noël Barrot declarou que o envio de tropas europeias para garantir a segurança no Ártico era “uma possibilidade”, mas que “não surge” das questões que se colocam à Dinamarca.
O presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, antes de uma reunião no Palácio do Eliseu, onde recebeu “um apoio muito grande” dos seus homólogos europeus face aos objetivos de Donald Trump na Gronelândia. “A mensagem é muito, muito clara”, disse a primeira-ministra aos meios de comunicação dinamarqueses em Paris, depois de se encontrar com Emmanuel Macron. “É absolutamente necessário respeitar o território e a soberania dos Estados; é um elemento essencial da comunidade internacional, desta comunidade internacional que construímos juntos desde a Segunda Guerra Mundial”, acrescentou Frederiksen, que esteve em Berlim antes de chegar a Paris.
Na capital germânica, o apoio não foi tão longe como em França. O chanceler Olaf Scholz voltou a condenar todas as tentativas de expansão territorial, independentemente de quem as esteja a realizar. “As fronteiras não devem ser movidas pela força – a quem possa interessar”, disse Scholz antes de se encontrar a sós com Frederiksen na Chancelaria. Scholz já havia feito comentários semelhantes várias vezes nas últimas semanas a respeito das reivindicações territoriais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no Panamá, Canadá e Gronelândia. “A inviolabilidade das fronteiras é um princípio fundamental do direito internacional”, reiterou.
Em Bruxelas, a primeira-ministra dinamarquesa encontrará o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg – que, com toda a certeza, nada dirá contra as ‘diretrizes’ da administração Trump – o que, como dizem vários analistas, acabará fatalmente por inferiorizar a própria aliança.
Por seu lado, o ministro dinamarquês dos Negócios Estrangeiros foi muito firme e descartou, esta terça-feira, uma anexação da imensa ilha do Ártico aos Estados Unidos. “Trump não conquistará a Gronelândia. A Gronelândia é a Gronelândia, e o povo groenlandês é um povo na aceção do direito internacional, protegido pelo direito internacional”, disse Lars Lokke Rasmussen.
Segundo a imprensa, a preocupação está a crescer no país nórdico depois dos repetidos comentários de Donald Trump cobiçando o território autónomo dinamarquês, tendo o presidente norte-americano garantido no sábado aos jornalistas que os Estados Unidos vão “apanhar” a Gronelândia.
Em meados de janeiro, Frederiksen conversou por telefone com Trump, enfatizando que cabia à Gronelândia decidir o seu próprio futuro. Segundo diversas fontes entrevistadas pelo ‘Financial Times’, a conversa, descrita pelos dinamarqueses como “longa e franca”, teria sido “horrível”. A líder dinamarquesa já tinha demonstrado o apoio dos seus vizinhos nórdicos – Noruega, Suécia e Finlândia – publicando uma fotografia do jantar em sua casa com os primeiros-ministros sueco e norueguês e o presidente finlandês. “Os países nórdicos sempre estiveram unidos. E face à nova e mais imprevisível realidade que enfrentamos, alianças e amizades fortes e próximas tornaram-se ainda mais importantes”, escreveu Mette Frederiksen nas redes sociais.
O Ministério da Defesa dinamarquês anunciou na segunda-feira que irá destinar 14,6 mil milhões de coroas (dois mil milhões de euros) ao reforço da segurança no Ártico, uma área estratégica devido à proximidade russa e americana, e no Atlântico Norte. O governo dinamarquês enviará três novos navios para o Ártico, drones adicionais de longo alcance com capacidades avançadas de aquisição de imagens e promete um aumento na capacidade dos satélites.
Robert Brieger, presidente do Comité Militar da União Europeia (EUMC), foi o primeiro a apresentar a ideia de posicionar tropas europeias na Gronelândia, julgando que “isto enviaria um sinal forte e contribuiria para a estabilidade na região”, em entrevista ao jornal alemão ‘Welt am Sonntag’.
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