Empresa americana emite “cheque careca” na compra de monumento português

A Casa do Alcaide-mor em Estremoz, que foi classificado monumento nacional em 1924, foi adquirida por uma empresa americana depois de uma criticada hasta pública.

No entanto, a empresa, com sede num paraíso fiscal nos EUA, pagou a caução com um cheque careca, acabando a venda revogada.

A decisão de vender em hasta pública este espaço foi tomada pela autarquia alentejana a 23 de Março passado. O valor base aprovado foi de 50 mil euros e o edifício só poderia ser usado “para fins turísticos”.

O presidente da Câmara de Estremoz, declarou ao “Público” que a autarquia “não tinha verbas para recuperar um edifício histórico que estava abandonado há mais de 80 anos e em situação de degradação”.

O vereador socialista, José Daniel Sadio, opôs-se à venda, referindo que “não faz sentido vender um imóvel que, apesar do seu estado de degradação, está classificado como monumento nacional, uma mais valia a preservar, recuperar e potenciar”.

O imóvel classificado como monumento nacional tem “elementos de bastante interesse arquitectónico e inquestionável nobreza, embora integrados numa estrutura modesta”, segundo a Direção-Geral do Património Cultural.

A hasta pública realizou-se a 14 de Abril passado, sendo que o imóvel foi “arrematado pelo senhor Eng.º John Ryan”, em representação de Iris Holding Group, empresa dos Estados Unidos da América e com sucursal em Estremoz, pelo preço de 279 mil euros.

O pagamento no entanto não se concluiu, o americano entregou um cheque de 27.900 euros para pagamento da caução no valor de 10% do preço global da licitação mas, rapidamente se descobriu que estava sem provisão.

Depois de várias insistências para proceder ao acordado, Ryan mostrou-se apenas disponível para assinar “o que fosse necessário para a realização de nova hasta pública ou para a adjudicação do imóvel a quem fez a proposta imediatamente anterior à última efectuada” em hasta pública.

O município recorre à via judicial para cobrança da dívida, interpondo uma queixa-crime, “pelo crime de emissão de cheque sem provisão.”