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Empresas e empreendedores apostam na inovação e encontram nova vida para pneus a chegar ao fim

A Beta-i, a Valorpneu, as multinacionais Genan e a Decathlon aceitaram o desafio de dar uma segunda vida aos pneus. Com o resultado deste projeto piloto, conseguiram reduzir 700 quilos de emissões de carbono na produção e cerca de 75% do consumo total de energia e água na sua produção.
7 Junho 2021, 17h40

A palavra “sustentabilidade” tem estado na ordem do dia das empresas e dos consumidores uma vez que cada vez mais são descartadas milhares de milhões de toneladas de materiais a que pode ser dada uma segunda vida.

É o caso dos pneus. Todos os anos no mundo são descartados mais de 30 milhões de toneladas de pneus em fim de vida, sendo que, só em Portugal, são descartadas 80 mil toneladas. Destas, 60% são encaminhadas para reciclagem e cerca de 40% para produção energética.

Tendo isto em conta, a consultora Beta-i, a portuguesa Valorpneu, a recicladora multinacional dinamarquesa Genan uniram-se, no âmbito do programa NextLap, e aceitaram o desafio de dar uma segunda vida a este material.

A estes, juntaram-se nove empresas associadas à cadeia de valor do sector e cinco empreendedores portugueses que começaram a desenvolver em conjunto seis projetos focados em dar uma segunda vida a materiais derivados da reciclagem de pneus em fim de vida e promover um mercado mais circular. A gigante francesa do desporto Decathlon, ao lado dos parceiros de inovação Rubberlink e Tintex, são responsáveis por dois destes projetos-piloto, que consistem em protótipos de calçado fabricado com materiais de pneus descartados, nomeadamente, o granulado de borracha, fibras têxteis e aço.

“Através da reciclagem, os pneus decompõem-se nos materiais que os constituem: borracha, têxtil e aço”, explica Climénia Silva, diretora-geral da Valorpneu, informando que a aplicação mais comum para a utilização desta borracha são os pavimentos desportivos, os enchimentos dos campos de relva sintética, a incorporação da industria de isolamentos e ainda a produção de misturas betuminosas para as vias rodoviárias e aeroportuárias.

Segundo um estudo promovido pela Valorpneu sobre o impacto da gestão de pneus usados em Portugal, por cada tonelada de pneus recuperados, é evitada a emissão de 1,3 toneladas de CO2 e poupadas 37283 megajoule de energia, contribuindo com uma redução significativa para os riscos ambientais.

Assim, durante os nove meses que levaram para a criação deste tipo de calçado, estas entidades valorizaram a “investigação e inovação”, continua Climénia Silva, “de forma a diversificar as aplicações e a criar produtos reciclados de pneus com maior valor e mais sustentáveis” — um objetivo partilhado pela maior recicladora de pneus que, todos os anos, processa cerca de 35 mil toneladas de pneus nas fábricas portuguesas.

Mas de que maneira se diferenciam estes sapatos? Os inovadores da portuguesa Rubberlink criaram uma solução de borracha de pneu desvulcanizada que permitiu à Decathlon Portugal produzir um protótipo de um sapato com uma sola de borracha 100% reciclada. Segundo dados da Genan, em comparação com o uso de matérias-primas virgens para produzir produtos semelhantes, para uma tonelada de pneu que é reciclado, são produzidas menos de 700 quilos de emissões de carbono.

A retalhista de artigos de desporto conta ao Jornal Económico que a visão da empresa está assente em cinco pilares, sendo que um deles é a economia regenerativa, associada a um crescimento inteligente e responsável. “A nossa oferta está em constante  evolução, já são mais de 600 produtos desde o início deste ano, e temos objetivos claros de, até 2026, 100% dos nossos produtos disponíveis nas lojas físicas e online serem eco-desenhados”, explica a empresa.

Já os investigadores na Tintex, através dos materiais que reaproveitaram do pneu, nomeadamente, o pó da borracha, conseguiram criar a gáspea de calçado de ginástica que será também testada pelo maior retalhista de produtos desportivos do país. Esta inovação permite usar o pó de borracha em algo que até agora não tinha sido equacionado. A Tintex estudou ainda a possibilidade de aproveitar o valor têxtil do pneu que poderá resultar na aplicação nos selins das bicicletas.

“Através da inovação contínua, estamos constantemente à procura de novas e alternativas aplicações para os nossos produtos ou a adaptar esses produtos para atender às necessidades do mercado”, refere José Carvalho, diretor de Inovação de Negócio da Genan. A consultora de inovação colaborativa Beta-i partilha mesmo que, na fase de candidaturas, chegou a receber propostas “com soluções disruptivas” nas áreas da construção civil, automóvel e packaging.

“Os objetivos do projeto NextLap eram reunir inovadores e indústrias e impulsionar a entrada de novas soluções nos circuitos comerciais. O primeiro objetivo foi efetivamente alcançado e, com a criação dos protótipos, será possível avaliar todas as propriedades inerentes a fim de possibilitar a transição para a produção em massa”, acrescenta o responsável.

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