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Especialistas defendem que proibir telemóveis nas escolas sem ouvir alunos não é solução

A polémica levantada pelo tema levou o Ministério da Educação a pedir, no ano passado, um parecer ao Conselho de Escolas, que considerou que a solução para responder aos impactos negativos do uso dos telemóveis em contexto escolar não passa por proibir a sua utilização, mas defendeu que devem ser os próprios agrupamentos a decidir.
27 Abril 2024, 09h42

A proibição dos telemóveis nas escolas sem ouvir os alunos é criticada por alguns especialistas, que defendem que os jovens podem ajudar a encontrar as melhores soluções para os manter ligados tanto à escola como à internet.

Em declarações à agência Lusa a propósito da Semana do Bem-Estar Digital, que arranca na segunda-feira, o especialista em uso de tecnologias de informação por crianças e jovens e fundador do projeto MiudosSegurosNa.Net, Tito de Morais, considerou que o melhor é sempre ouvir os jovens primeiro, antes de qualquer decisão, até para os responsabilizar e levar a cumprir a decisão.

Também Cristiane Miranda, que tem mais de 20 anos de experiência nesta área e é mentora do projeto Teen On Top – Coaching para Jovens, defende: “achamos que [proibir] não é melhor solução”.

“Não é a melhor solução dizer que o Estado tem de vir regulamentar e proibir pura e simplesmente o uso do telemóvel nas escolas”, afirmou a especialista, acrescentando: “quando vamos às escolas e falamos com os alunos, eles têm muito para dizer e têm soluções”.

E explica: “Cada escola é soberana para decidir o que deve fazer, mas ouvindo todos os intervenientes, desde os professores, pessoal docente, pessoal não docente e os próprios alunos e ver quais são as melhores soluções”.

A especialista contou ainda uma das conversas com um dos jovens de uma escola que o projeto visitou. “Perguntámos se devia ser proibido e o jovem respondeu: ‘depende do tempo. Quando está sol, podemos estar lá fora, correr, jogar à bola e fazer outras coisas, mas quando chove temos de ficar dentro do pavilhão e não podemos falar, temos de ficar aqui sentados e ninguém nos deixa fazer nada e aí temos de usar os telemóveis’”.

Insiste que, quando os jovens são envolvidos na solução, “aceitam-na melhor e aderem para cumpri-la”.

Além disso, afirma, “se apenas proibirmos também não os ensinamos a usar bem estas tecnologias”.

Este tema vai ser alvo de discussão na conferência internacional que decorre nos dias 03 e 04 de maio na Fundação Cupertino de Miranda (Porto), no âmbito da Semana do Bem-Estar Digital (https://www.bemestardigital.pt).

O debate sobre o uso dos telemóveis nas escolas contará com a presença de representantes da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), da Confederação Nacional das Associações de Pais e da autora de Mónica Pereira, autora de uma petição que pede o fim dos telemóveis nos recreios do 5.º e do 6.º ano e que já foi assinada por mais de 22 mil pessoas.

Uma escola de Lourosa, em Santa Maria da Feira, foi a primeira do país a proibir o uso de telemóveis em todo o recinto, há sete anos. Desde então, a limitação já se estendeu a outras, como, por exemplo, a Escola Básica EB 2,3 General Serpa Pinto, em Cinfães, no distrito de Viseu, as escolas básicas do Alto de Algés e de Miraflores, ambas em Oeiras, os agrupamentos de escolas Gil Vicente (Lisboa) e Infanta D. Mafalda (Gondomar), além agrupamentos de escolas de Almeirim (Santarém).

A polémica levantada pelo tema levou o Ministério da Educação a pedir, no ano passado, um parecer ao Conselho de Escolas, que considerou que a solução para responder aos impactos negativos do uso dos telemóveis em contexto escolar não passa por proibir a sua utilização, mas defendeu que devem ser os próprios agrupamentos a decidir.

Apesar dos impactos negativos e das “questões complexas de disciplina, designadamente a captação indevida de imagens ou o cyberbullying” que se levantam com o uso generalizado dos telemóveis, sobretudo a partir do 2.º ciclo, os diretores sublinham que existem, por outro lado, aspetos positivos.

Em sala de aula, afirmam, os ‘smartphones’ podem constituir “recursos ao dispor de alunos e professores para favorecer as aprendizagens” e permitem “potenciar o desenvolvimento de competências essenciais de acordo com o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória”.

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