[weglot_switcher]

Estudos vencedores do Nobel da Economia podem ajudar a analisar relação salário-emprego

Questionado sobre de que forma os estudos poderiam ser aplicados em Portugal, o também professor da Nova SBE adianta que se pode realizar uma análise do salário mínimo em 2019 e 2020, no contexto da pandemia, mas que neste formato, para se saber o impacto, será necessário olhar para as empresas mais atingidas por este aumento, ou seja, aquelas que mais ordenados mínimos pagam aos seus trabalhadores, “e perceber como terá sido positivo e levou ao aumento do emprego ou negativo se levou a despedimentos ou à falência das empresas”.
13 Outubro 2021, 17h50

David Card venceu metade do prémio Nobel da Economia 2021 na segunda-feira com um estudo da década de 1990, onde, entre vários objetos de investigação, notou que o aumento do salário mínimo num determinado estado dos Estados Unidos não apresentou um efeito negativo no emprego, como naturalmente se pensaria.

Ao Jornal Económico (JE), o economista Pedro Silva Martins adiantou que se trata de um estudo ainda muito atual e que as conclusões do estudo foram vistas em Portugal nos últimos anos, nomeadamente esta sobre a relação entre a subida do salário e o emprego. “Penso que ao longo dos últimos anos isso já terá sido visível”, explicou, adiantando que “tivemos aumentos do salário mínimo muito pronunciados e estávamos a viver num contexto de recuperação económica com as empresas a enfrentar um bom contexto de crescimento económico”. “Nesse sentido não conhecemos efeitos negativos do emprego”, disse.

De facto, e tendo como base dados do Pordata, o salário mínimo nacional depois da crise financeira de 2007/2008 esteve em rota ascendente até estagnar entre 2011 e 2014 aos 485 euros. Entre 2009 e 2013, o desemprego permaneceu em subida contínua, tendo atingido o máximo de 16,2% (2013). A partir daí, o salário mínimo continuou a sua subida até 2021 e o desemprego seguiu o sentido contrário.

O antigo secretário de Estado do Emprego (2011-2013), do governo de Passos Coelho, adiantou que os resultados deste estudo, escrito em 1992 e publicado em 1994, não são extrapoláveis para outros países e alturas temporais, visto que analisam dados muito precisos como os estados norte-americanos que têm uma evolução distinta da Europa.

De acordo com Pedro Silva Martins, o “contexto do pós-pandemia será o mais adequado para verificar resultados” e tendo em conta a análise de várias variáveis envolvidas. Ainda que o estudo de um dos mais recentes laureados dos prémios Nobel mostre que “o aumento do salário mínimo não tem de ter um efeito negativo ao nível do emprego, em certas circunstâncias algumas empresas conseguem absorver o aumento sem renovar a posição do emprego”.

Questionado sobre de que forma os estudos poderiam ser aplicados em Portugal, o também professor da Nova SBE explicou que se pode realizar uma análise do salário mínimo em 2019 e 2020, no contexto da pandemia, mas que neste formato, para se saber o impacto, será necessário olhar para as empresas mais atingidas por este aumento, ou seja, aquelas que mais ordenados mínimos pagam aos seus trabalhadores, “e perceber como terá sido positivo e levou ao aumento do emprego ou negativo se levou a despedimentos ou à falência das empresas”.

“Em 1992 os efeitos não foram negativos mas agora estamos em pós-pandemia num contexto diferente daquele do ano em que foi desenvolvido o estudo”. Outra análise realizada no âmbito do mercado do trabalho seria a da necessidade da formação, sendo que neste caso poderia ser apoiada por fins comunitários ou pelo PRR. “Importa saber em que medida os cursos poderão ser apoiados e ter impacto positivo para quem os frequenta e de que forma estes cursos aumentam a empregabilidade”, explicou.

Embora os estudos tenham entre 25 a 30 anos, os três economistas galardoados “têm feito um conjunto muito significativo de contributos”, com o especialista português em Economia de Trabalho e Economia da Educação a evidenciar que seria “uma questão de tempo” até que os economistas fossem distinguidos com o prémio dado os seus estudos permanecerem atuais.

Para o economista português, o estudo de Joshua Angrist e Guido Imbens apresenta “contributos de cariz metodológico que têm uma aplicabilidade muito alargada”. O estudo da causa-efeito, ou causalidade, pode aplicar-se a temas como o mercado de trabalho, educação e mesmo saúde.

Pedro Silva Martins explica que os estudos anteriores ao de Angrist e de Imbens “nem sempre conseguiam separar a questão da correlação da causalidade”, olhando para associações entre as variáveis, enquanto para a dupla as variáveis podem ser independentes entre si. A principal contribuição no estudo foram os novos métodos apresentados pelos economistas que “tornaram questões muito mais claras e que permitiram chegar às avaliações de impacto na lógica da causa-efeito”. “Foram buscar metodologias utilizadas nas ciências naturais, que utilizam muita lógica experimental e ensaios clínicos e transferiram esse conhecimento para o campo das ciências sociais, que engloba pessoas, empresas e mercados”.

Pedro Silva Martins explica ao JE que as evidências empíricas demonstradas pelos estudos são importantes para a melhoria das políticas públicas, dado já se conseguir perceber quais as melhores políticas a aplicar, enquanto outros estudos convidam à experimentação e a recolher informação dessas experiências.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.