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EUA: Discurso de Kamala Harris foi forte e marca ponto de inflexão

A consagração de Kamala Harris aconteceu ao final do quarto dia de uma convenção repleta de estrelas do partido democrata e de Hollywood.
Kamala Harris
U.S. Vice President Kamala Harris speaks during the Constitutional Convention of UNITE HERE, the nation’s largest hospitality workers’ labor union, in New York City, U.S., June 21, 2024. REUTERS/Brendan McDermid/File Photo
23 Agosto 2024, 12h11

O discurso de Kamala Harris na convenção nacional democrata, onde aceitou a nomeação do partido para presidente, foi “forte” e estabeleceu uma visão diferente dos Estados Unidos, disse à Lusa a cientista política Daniela Melo.

“Ela esteve muitíssimo bem”, considerou a especialista. “Foi um discurso que conseguiu mostrar uma versão inspiradora da identidade nacional que apresentou um contraste forte com a visão quase apocalíptica de Donald Trump sobre a América”, explicou a politóloga e professora na Universidade de Boston.

“Conseguiu evocar uma versão da América que inspira o eleitorado”, disse Daniela Melo, explicando que, de muitas formas, a mensagem é a mesma de Joe Biden. No entanto, “claramente em política, a mensagem é menos importante que o mensageiro”.

A parte do discurso sobre política externa trouxe alguma surpresa, pela forma inequívoca como Kamala Harris falou – e perante delegados não comprometidos e manifestantes que se opõem à política da administração em relação à guerra em Gaza.

“Ela surpreendeu ao adiantar-se com o seu posicionamento sobre Israel”, considerou. Harris declarou apoio incondicional a Israel, apesar de ter criticado a destruição que está a acontecer em Gaza.

Na cadeia de televisão MSNBC, a analista Rachel Maddow considerou que o discurso marca “um ponto de inflexão na História” e que os norte-americanos vão lembrar-se onde estavam esta noite. No mesmo painel, Ari Melber comentou que foi um “home run”, usando uma expressão do beisebol para elogiar o discurso.

Jake Tapper, na CNN, considerou que se tratou de “um discurso notável”, comparando-o ao de Barack Obama na convenção de 2008. Dana Bash disse que “foi impressionante” ao nível da substância e referiu que Harris se apresentou como a candidata desfavorecida, que tem sido subestimada.

Na Fox News, o republicano Brit Hume caracterizou o discurso como “muito forte”, elogiando a forma como a candidata entregou uma mensagem que – disse – poderia ter sido escrita para Joe Biden.

A consagração de Kamala Harris aconteceu ao final do quarto dia de uma convenção repleta de estrelas do partido democrata e de Hollywood. Entre os oradores políticos que tiveram palco em Chicago contam-se Hillary Clinton, Bill Clinton, Barack Obama, Michelle Obama, Joe Biden, Alexandria Ocasio-Cortez, Bernie Sanders, Gretchen Whitmer, Elizabeth Warren e outros, incluindo o nomeado para vice-presidente Tim Walz.

Do lado das celebridades, Stevie Wonder, Pink, John Legend, Common, Patti LaBelle e The Chicks tocaram, Oprah Winfrey discursou, Eva Longoria, Kerry Washington e Mindy Kaling falaram, e muitas outras caras conhecidas foram vistas na audiência, como Ben Stiller e Spike Lee.

Daniela Melo disse que a convenção mostrou que o partido democrata mudou muito e concretizou uma aliança entre o centro e a ala progressista.

“É muito óbvio, pelo alinhamento de oradores e pelo tipo de mensagens, que a agenda progressista tem muito mais peso dentro do partido democrata do que tinha há dez anos”, afirmou a analista, falando de um novo consenso entre várias gerações de líderes.

“Isso está patente não só na lista de pessoas que foram convidadas para falar e a quem foi dado palco, mas também na agenda económica de Kamala Harris, que claramente pesa mais para o lado progressista do que para o lado do centro moderado tradicional do partido democrata”, frisou.

A política externa, nomeadamente em relação ao conflito Israel-Hamas, é onde há maior risco de embate entre as fações dentro do partido.

Daniela Melo salientou que o número de “double haters” que estavam indecisos porque detestavam tanto Trump como Biden caiu muito e beneficiou sobretudo Harris. Um painel da CNN com indecisos que viram o discurso de Harris mostrou que a candidata conseguiu persuadir vários deles.

As quatro noites de convenção democrata alcançaram maiores audiências que a convenção republicana, estando ainda por apurar a audiência global do discurso de Kamala Harris.

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