A incerteza será dos principais fatores na eleição presidencial norte-americana, com o incumbente Joe Biden e o antigo presidente Donald Trump unidos sobretudo na postura relativamente à China, mas com poucos outros pontos de convergência. O resultado é ainda também um ponto de interrogação e, com ainda mais de quatro meses até ao ato eleitoral, tudo pode acontecer.
Dois candidatos com idade avançada, baixa popularidade fora das bases partidárias e determinados a combater a influência chinesa crescente no mundo apresentam-se a votos a 5 de novembro, uma eleição com desfecho ainda incerto, mas que deverá aprofundar as divisões profundas que afetam a sociedade norte-americana, cada vez mais polarizada.
Esta foi uma das ideias principais da conferência ‘Eleições americanas: impactos geoeconómicos para Portugal e a Europa’, realizada esta terça-feira em conjunto pela Ordem dos Economistas e Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, onde Allan J. Katz, antigo embaixador dos EUA em Portugal, e Terry Nelson, ex-diretor de política nacional para o presidente George W. Bush, debateram o futuro da maior economia mundial.
Apesar do cerco que ambos os candidatos pretendem fazer à China, a maior concorrente dos EUA no panorama internacional, poucos são os pontos os unem para lá deste tópico. E mesmo na relação com a China há algumas mudanças de postura recentes e interrogações que permanecem: por um lado, irá Biden agir caso Pequim decida avançar para Taiwan? E, por outro, qual o impacto no resto do mundo, sobretudo na Europa, da hostilidade para com a China?
“Trump fez a Europa mais aberta à China. Acho que é o principal legado em política externa da sua presidência”, defendeu Allan J. Katz, embora ressalvando que, apesar da oposição inicial, “os democratas mantiveram as tarifas [impostas por Trump], porque rapidamente perceberam que tinham valor” económico e político.
“É bastante incerto o que os EUA farão caso a China invada Taiwan”, completou Terry Nelson, sendo que esta incerteza se aplica a ambos os candidatos presidenciais. Esta interrogação é reforçada pela rejeição cada vez maior do eleitorado americano de ações militares em solo estrangeiro, dadas as pesadas heranças das guerras no Afeganistão e Iraque, acrescenta.
Este “acordo estratégico no que respeita à China” estende-se, de certa forma, ao comércio internacional, com Biden e Trump a prometerem mais protecionismo às indústrias norte-americanas. E com a economia como o tópico cronicamente mais relevante nas eleições presidenciais nos EUA, Biden encontra-se com um problema sério, defende Terry Nelson.
“O desemprego é baixo, mas os eleitores estão preocupados com a subida dos custos de vida”, aponta, com Allan J. Katz argumentando que “não há muito que Biden possa fazer sobre isto, tal como não há muito que Trump possa fazer para mudar a sua imagem”.
“O caminho para a vitória de Biden passa pelos eleitores democratas que se afastaram recentemente acabarem por decidir que não podem votar pelo Trump”, rematou Katz.
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