Pela primeira vez – pelo menos na memória dos jornais norte-americanos – a candidata à democrata presidência da federação, Kamala Harris, emitiu uma opinião sobre uma questão empresarial: a ainda vice-presidente disse que é contra a compra da US Steel pela sua congénere Nippon Steel. Assim, Harris toma como seus os receios que o governo liderado por Joe Biden já tinha mostrado e aproxima-se, neste caso particular, do seu adversário republicano, Donald Trump, que já pediu publicamente que a aquisição fosse bloqueada.
Foi no final do ano passado que ficou conhecida a intenção do negócio. Os jornais especializados avançavam que a Nippon Steel fechara um acordo para comprar a United States Steel (US Steel) por 14,1 mil milhões de dólares, colocando assim um fim às incertezas que rondavam o futuro do gigante produtor de aço dos Estados Unidos.
A US Steel, uma forte empresa industrial norte-americana com raízes que remontam há mais de um século – e faz parte do imaginário coletivo – estava no mercado desde meados de agosto, depois de rejeitar uma oferta da rival Cleveland-Cliffs de 7,25 mil milhões. O anúncio deu início a algumas semanas dramáticas no sector siderúrgico, quando o influente sindicato United Steelworkers deu o seu apoio ao combativo presidente-executivo da Cliffs. Mas o negócio acabou por não acontecer.
E não aconteceria uma segunda vez, antes de a rival nipónica entrar na corrida. A Nippon mostrou-se interessada em pagar 55 dólares por ação – o que representa 142% a mais sobre o preço das ações da US Steel no último dia de negociação antes do anúncio. A Nippon Steel, o maior produtor do Japão e o quarto maior do mundo, tem procurado crescer no exterior por via de aquisições. O acordo dar-lhe-á uma posição significativa na indústria siderúrgica americana e particularmente no lucrativo mercado automóvel, onde a US Steel é um fornecedor importante, refere a Bloomberg. O acordo criaria uma gigante siderúrgica com fábricas da Eslováquia à Pensilvânia, passando por Osaka.
A US Steel tem suas raízes em 1901, quando J. Pierpont Morgan procedeu à fusão de uma série de ativos com a Carnegie Steel, de Andrew Carnegie. A empresa passou por uma mudança profunda nos últimos anos sob o comando do CEO David B. Burritt, à medida que o seu foco de investimento se afastou da tradicional produção de aço em altos-fornos a partir de minério de ferro para unidades mais modernas e menos poluentes que fundem sucata metálica.
Já na segunda metade do passado mês de agosto, Donald Trump prometeu acabar com uma regra do governo Biden que limita a poluição de unidades de produção de energia e deixou a promessa de bloquear o negócio da Nippon Steel – indicando que vai limitar radicalmente o acesso estrangeiro ao mercado doméstico. Trump falava, como fez sempre, para uma multidão de apoiantes no chão de uma fábrica de York, Pensilvânia.
“Vou impedir o Japão de comprar a United States Steel”, disse Trump. “Eles não deveriam ter permissão para comprá-la.” A US Steel disse em comunicado (após estes comentários de Trump) que está “comprometida com a transação com a Nippon Steel: “este é o melhor negócio para os nossos funcionários, acionistas, comunidades e clientes”, dizia o comunicado. A empresa acrescentava que a “parceria com a Nippon Steel, um investidor de longa data nos Estados Unidos de um nosso aliado próximo, o Japão, fortalecerá a indústria siderúrgica americana, os empregos americanos e as cadeias de fornecimento americanas e aumentará a competitividade e a resiliência da indústria siderúrgica dos EUA contra a China”.
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