Ao mesmo tempo que Moscovo acusava os líderes europeus reunidos sob a égide de Emmanuel Macron de não estarem interessados no fim da guerra na Ucrânia, que está prestes a cumprir três anos, do Palácio Presidencial de Paris saia uma nova palavra de ordem: a paz na Ucrânia não deve ser obtida a qualquer custo nem por decreto e nas costas do povo ucraniano reunido por trás de Zelensky.
O tom da reunião sai das palavras do chanceler alemão Olaf Scholz, que referiu à saída do encontro a determinação dos apoiantes europeus da Ucrânia de recusar uma paz que não sirva os interesses de Kiev. “Continuaremos a apoiar a Ucrânia, a Ucrânia pode confiar em nós”, disse em frente ao palácio presidencial francês, onde decorreu o encontro. E também disse que se opõe à ideia de uma “paz por decreto imposta à Ucrânia”, acreditando que o país não poderia “aceitar tudo o que lhe fosse apresentado sob quaisquer condições”.
Ao início da manhã, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, afirmou: “Putin e Trump concordaram sobre a necessidade de deixar para trás relações absolutamente anormais. Os presidentes decidiram que o diálogo deveria ser retomado entre os Estados Unidos e a Rússia.” O ministro, que também deverá participar nas negociações em Riade, disse ainda que a Europa não tem lugar em futuras negociações que envolvam a Rússia e os Estados Unidos para pôr fim ao conflito na Ucrânia, porque quer “continuar a guerra”. “Se os europeus vêm para a mesa das negociações (…) com a intenção de continuar a guerra, então porque os iriamos convidar?”
Olaf Scholz reiterou que é “muito cedo” para discutir o envio de forças de paz para a Ucrânia e admitiu até que estava “um pouco irritado” com perguntas sobre uma matéria “altamente inapropriada”. “Estamos a falar nas costas da Ucrânia, com base num acordo que não existe”, disse, acrescentando que “ainda não é hora de paz”. No entanto, Scholz disse que não poderia haver “separação de responsabilidades entre a Europa e os Estados Unidos”, apelando aos dois blocos para “agirem em conjunto” pela segurança coletiva.
Sobre o financiamento da resposta europeia à agressão russa, o chanceler alemão afirmou que os estados europeus estão “todos prontos para gastar pelo menos 2% do PIB para o futuro da defesa da Europa”. “Se os estados europeus gastam mais, a Alemanha é a favor de que essa despesa não seja levada em consideração no cálculo dos déficits orçamentários europeus”, acrescentou.
“A nossa amizade com os Estados Unidos entrou em uma nova fase”, disse Donald Tusk, primeiro-ministro polaco, após a reunião de emergência em Paris. No final desta reunião de emergência em Paris, da qual os participantes saíram sem falar com a imprensa em frente ao Eliseu, os primeiros comentários estão a chegar. “Todos os participantes desta reunião estão cientes de que o relacionamento transatlântico, a Aliança do Atlântico Norte e nossa amizade com os Estados Unidos entraram em uma nova fase. Todos nós vemos isso”, disse o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk.
Por sua vez, o chefe do governo britânico, Keir Starmer, também se dirigiu aos Estados Unidos, pedindo que forneçam uma “rede de segurança” para a Ucrânia. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, presente em Paris em nome dos países nórdicos e bálticos, disse que “a Rússia está agora a ameaçar toda a Europa” – e não apenas a Gronelândia, como ficou subentendido pelas suas palavras.
Nas redes sociais, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, escreveu que a reunião de emergência de líderes europeus em Paris “reafirmou” que a Ucrânia “merece a paz pela força, uma paz que respeite a sua independência, soberania e integridade territorial”. “A Europa assume integralmente a sua parcela de assistência militar à Ucrânia. Ao mesmo tempo, de fortalecer a defesa da Europa”, acrescentou.
Para Mark Rutte, secretário-geral da NATO, “a Europa está pronta e disposta a fortalecer-se, a tomar a iniciativa de fornecer garantias de segurança à Ucrânia “, enfatizando que foi isso que surgiu da reunião de emergência em Paris a convite de Emmanuel Macron.
Entretanto, o enviado especial de Donald Trump para a Ucrânia, Keith Kellogg, garantiu em Bruxelas, esta segunda-feira, que os Estados Unidos não iriam impôr um acordo a Kiev para acabar com a guerra – mas o bloco europeu tem dúvidas – face ao que disse o vice-presidente JD Vance durante o fim de semana em Munique. Kellogg é esperado na Ucrânia, esta quarta-feira, para uma visita de três dias, durante a qual deverá encontrar-se com Volodymyr Zelensky.
A viagem acontece já depois de os Estados Unidos e a Rússia se encontrarem em Riad, capital da Arábia Saudita, esta terça-feira, para a sua primeira reunião de alto nível desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022. E, como era esperado, com a ausência de autoridades europeias. De acordo com Kellogg, caberá ao presidente ucraniano decidir se aceita ou não o acordo que sair dessas negociações.
“A decisão dos ucranianos é uma decisão ucraniana”, disse. “Zelensky é o líder eleito de uma nação soberana e essas decisões são dele e ninguém as vai impôr contra um líder eleito de uma nação soberana”, insistiu, mais uma vez não alinhando, pelo menos no tom do discurso, com Vance.
Kellogg voltou a confirmar que a participação europeia nas negociações não está prevista, mas garantiu que seriam informados. “Não acho razoável ou viável reunir todos à mesa”, disse. E enfatizou que está “tudo” em cima da mesa de negociações, depois de o secretário de defesa dos EUA, Marco Rubio, ter provocado uma hecatombe em Bruxelas na semana passada ao dizer que a adesão da Ucrânia à NATO é “irrealista”, assim como o regresso do país às suas fronteiras pré-2014, que incluíam a Crimeia, desde então anexada por Moscovo.
Não é impossível que a questão da arquitetura de segurança global na Europa, um assunto exigido por Moscovo, faça parte das negociações entre os Estados Unidos e a Rússia. “Eu não ficaria surpreendido se surgissem questões globais”, disse, referindo-se aos esforços para enfraquecer o vínculo entre a Rússia, de um lado, e o Irão, a China e a Coreia do Norte, do outro.
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